O Banco do Brasil vai celebrar seus 200 anos de existência, com seus funcionários em greve. Infelizmente, há poucos motivos para comemorar, e a forte greve que paralisa o banco de norte a sul do país é uma demonstração cabal de que algo de muito errado assola a maior instituição financeira do país.
A lógica de mercado predominante no banco empurra a empresa para a concorrência com os bancos privados e a busca do lucro e rentabilidade a qualquer custo. Para os bancários, isto tem se traduzido em exploração, extensão fraudulenta da jornada de trabalho, desvio de função, condições de trabalho precárias e sérios problemas de saúde, causados por doenças ocupacionais, assédio moral e pressão por metas inatingíveis.
Esta lógica agravou-se depois do plano de reestruturação que o BB implementou a partir de maio de 2007. Se de um lado o banco expandiu seus negócios, alcançando maior eficiência e maiores receitas operacionais (evolução de 11,8%) com o aumento de sua carteira de clientes (9,6%), as despesas administrativas, que incluem as despesas de pessoal, cresceu apenas 3,2% em 12 meses.
Por trás destes números encontra-se uma realidade excludente e opressora. Primeiro, a segmentação de mercado adotada pelo banco praticamente expulsou os clientes com renda mensal inferior a R$ 2.000, priorizando os clientes de alta renda. Segundo, o enxugamento de 16% do quadro de pessoal (6.944 pessoas a menos) extinguiu cargos e reduziu em um terço o número de caixas executivos, fazendo cair a média desses profissionais por agência de 3,3 para 2,3. Com esta redução, e o aumento da carteira de clientes, as condições de trabalho nas agências se deterioraram. Em 2002, cada funcionário era responsável em média por 195,8 clientes. Em março de 2008 esse número subiu para 317,0 – um aumento de 61,9%. Por um lado, observa-se a exclusão da população mais pobre e por outro, a opressão da sobrecarga de trabalho, da jornada excessiva e da conseqüente queda na qualidade do atendimento.
Para agravar este quadro, a direção do Banco do Brasil pratica uma gestão temerária ao fraudar a jornada de trabalho. Além do não pagamento de horas extras, a implantação da lateralidade, representada pelo trabalho de substituição temporário de postos comissionados sem remuneração correspondente, caracteriza claro desvio de função. Com isso, o banco comete uma ilegalidade, expondo a empresa a um passivo trabalhista considerável. Se não bastasse isso, o BB mantém normativos internos em nítido desacordo com a legislação brasileira, em desrespeito ao preceito básico da hierarquia entre as leis e normas.
Outra política irresponsável do Banco é a terceirização e quarteirização de serviços essenciais da empresa. Um exemplo disso é o processamento de envelopes do auto-atendimento das agências, que em Brasília é feito por uma empresa chamada ProBank, que tem um contrato com a empresa Cobra, que por sua vez tem contrato com o BB. Este serviço expõe totalmente a movimentação dos clientes e usuários de forma a comprometer seriamente a segurança de dados e operações.
Após 200 anos de existência com importantes contribuições para o desenvolvimento econômico do país através do financiamento e incentivo à agricultura, ao comércio exterior, aos pequenos e médios empreendedores, o que vemos hoje é um banco como qualquer outra instituição financeira privada, com juros altos, tarifas elevadas e atendimento excludente.
Enquanto os bancários festejam esta data com greve, reivindicando melhores salários e condições de trabalho, a diretoria e altos gestores do banco comemoram o bicentenário da instituição com festas luxuosas patrocinadas pelos lucros crescentes do banco. As contas do BB demonstram sua capacidade de atender as reivindicações da categoria bancária. Conforme as Demonstrações Financeiras da instituição, mesmo com a contratação de mais funcionários, em patamar inferior à necessidade, as despesas com proventos e encargos cresceram 10,8%, enquanto as despesas com honorários e conselheiros cresceram 100,7%. Já os demais salários tiveram apenas 6,0% de reajuste em setembro de 2007, uma afronta à dedicação e ao compromisso dos verdadeiros responsáveis pelo sucesso financeiro da empresa.
A luta dos bancários do BB não se restringe, porém, a melhores salários e condições de trabalho. O movimento sindical tem proposto há algum tempo medidas para o aperfeiçoamento desta instituição enquanto empresa pública, para servir a toda sociedade, sem exceção e contribuir para a aceleração do desenvolvimento econômico e social do país. Entre estas medidas destacamos:
– alterar a legislação para que o banco possa emprestar mais ao setor público, sobretudo agora, com a crise de crédito e liquidez provocada pela crise na economia global;
– integrar a expertise do Banco na elaboração dos programas de desenvolvimento social junto aos ministérios para agilizar a destinação de recursos na ponta;
– realização de parcerias com outras instituições para dotar os financiamentos bancários de acompanhamento técnico, o que resultará na otimização dos recursos liberados;
– alteração do perfil operacional do Banco com ampliação de sua carteira de crédito;
– aperfeiçoamento das políticas de pessoal e de atendimento com vistas à valorização dos funcionários e clientes do banco;
– ampliação dos canais de transparência do banco, permitindo um maior controle por parte da sociedade.
A diretoria do Banco do Brasil precisa acordar e rever suas políticas para entrar nos trilhos do desenvolvimento sustentável que o Brasil tanto almeja. É hora de servir ao Brasil com respeito e valorização de seus funcionários e clientes, ampliando sua capacidade de atendimento para incluir e se somar aos esforços do governo.
O governo Lula precisa acordar para os descaminhos que o banco tem seguido porque mais dia menos dia a greve dos bancários vai acabar, mas o banco vai continuar e só valerá a pena que o banco viva mais duzentos anos se esta instituição realmente servir ao projeto de país que a muito custo estamos tentando construir, caracterizado pelo crescimento com distribuição de renda e pelo desenvolvimento com inclusão social.