Stela Campos
Valor Econômico
Os diretores financeiros que trabalham em São Paulo estão entre os mais bem pagos do mundo. Embora os aumentos concedidos em 2012 tenham sido moderados, eles resultaram em um salário médio anual de R$ 545 mil, sem contar a parte variável. Desse modo, eles perdem apenas para seus pares em Nova York, que recebem R$ 640 mil, e para os de Londres, que ganham R$ 590 mil. Ficam, assim, na frente dos chineses, espanhóis e franceses.
Esses dados fazem parte de uma ampla pesquisa realizada pela consultoria inglesa de recrutamento executivo Robert Walters que envolveu 53 escritórios em 24 países. Segundo Frédéric Ronflard, diretor geral da companhia no Brasil, a desvalorização do real frente ao dólar atenuou um pouco a percepção das empresas estrangeiras sobre os altos salários dos brasileiros. “Eles não parecem mais tão caros, embora recebam muito”, diz.
Entre os países que apresentaram aumentos acima de 10% em 2012 para os executivos estão o Vietnã e a Indonésia. O Brasil vem logo atrás com 8%. Com acréscimos de 5% ou menos estão a China, a Alemanha, os Estados Unidos, a França e o Reino Unido. Sem qualquer mudança no salário, ficaram os gestores da Espanha, Holanda e Japão. Em 2011, os brasileiros estavam na liderança dessa corrida de remuneração global oferecendo aumentos acima de 10%, seguidos pelos chineses e australianos.
Na opinião de Ronflard, o mercado brasileiro está mais maduro e já não é apenas emergente. As propostas para troca de emprego que ocorriam em 2010 e 2011 eram muito agressivas e distantes da realidade mundial. Um executivo trocava de trabalho para ganhar até mais que o dobro.
Desde meados do ano passado, no entanto, essas ofertas começaram a ser mais moderadas. “As pessoas estão mudando agora por 20% ou 30% a mais, o que é bem razoável”, afirma. Mesmo assim, a desaceleração da economia fez com que muitos profissionais preferissem a estabilidade do emprego ao invés de se arriscar por um acréscimo no holerite. “Isso significa olhar a carreira pensando no longo prazo.”
Na área financeira, embora a movimentação de executivos tenha continuado em 2012, segundo Ronflard, ela foi menos intensa que nos anos anteriores. Muitas operações que estavam previstas de fusões e aquisições ou investimentos de fundos de private equity continuaram – ou seja, contratos foram cumpridos.
“Os diretores financeiros mais experientes, com inglês fluente e vivência internacional foram bastante procurados pelo mercado”, diz. O mesmo ocorreu com os controllers, especializados em gestão de custos. “Quando o crescimento do país não é mais tão forte, é preciso encontrar gente que resolva problemas e acerte as contas nas companhias”, disse.
Outro tipo de profissional que continuou a ser demandado no ano passado mesmo com as contratações em baixa foi o de recursos humanos. Ele conseguiu aumentos em torno de 8% e um bom acréscimo em seu pacote de recompensa e benefícios. Um diretor de RH, com mais de 12 anos de experiência, deve receber entre R$ 315 mil e R$ 335 mil este ano, segundo o levantamento. “Isso acontece porque o Brasil ainda tem um grande déficit de profissionais nesse segmento”, diz Ronflard. O perfil buscado atualmente está muito mais alinhado com o de um parceiro de negócios dentro da companhia. “Ele deve saber, inclusive, aconselhar o alto escalão.”
Na área de TI, os empregadores foram mais seletivos no ano passado na hora de contratar. “A maior parte foi atrás de pessoas com fluência em inglês e experiência em gerenciamento, além do conhecimento técnico”. Para a maior parte dos cargos, os salários permaneceram estáveis, segundo o headhunter. Quem tinha experiência em negócios e forte expertise em tecnologia, entretanto, foi mais disputado e conseguiu aumentos de no mínimo 10% ao mudar de companhia.
Segundo o estudo, um diretor de tecnologia com mais de 12 anos de experiência deve embolsar este ano, além do bônus, um salário em torno de R$ 400 mil. “Estou otimista em relação ao recrutamento nesse setor em 2013”, diz Ronflard. Segundo ele, existem muitos projetos para serem entregues tanto em setores mais tradicionais como varejo, bens de consumo e manufatura, como em novos como o de internet, comércio eletrônico e jogos.
No Rio de Janeiro, o mercado de recrutamento permaneceu aquecido em 2012, independentemente do desempenho morno da economia. Setores como o de infraestrutura, hospitalidade, telecomunicações e energia foram responsáveis por boa parte das contratações. A área de óleo de gás deve voltar a recrutar mais fortemente este ano.
“A demanda em áreas técnicas como engenharia, geofísica e química deve crescer”, diz Ronflard. Um geofísico experiente, por exemplo, pode receber este ano um salário anual de até R$ 265 mil, além da parte variável. “Assim que o mercado melhorar, a remuneração desses técnicos deve subir ainda mais”, afirma.