Apesar da previsão de que terá fôlego para manter a expansão das carteiras de crédito até o fim de 2013 sem estourar os limites impostos pelo acordo de Basileia, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) pretende concluir até o fim do ano que vem o estudo sobre a melhor alternativa para uma nova capitalização.
A ideia inicial é fazer uma captação de pelo menos R$ 1 bilhão por intermédio do lançamento de títulos de dívida de longo prazo, disse ontem o diretor financeiro e de relações com investidores, João Emílio Gazzana.
Segundo o presidente Túlio Zamin, o banco ainda dispõe de uma “folga” de quase R$ 10 bilhões para emprestar, depois de encerrar o primeiro trimestre com uma carteira de R$ 17,9 bilhões, com alta de 21,5% sobre março de 2010 e de 5,3% em três meses. O índice de Basileia (que mede a relação entre o patrimônio de referência e os ativos ponderados pelo risco) fechou em 15,8%, ante o mínimo de 11% exigido pelo Banco Central, mas vem em trajetória descendente.
Há um ano, o indicador estava em 17% e no fim de 2007, depois de uma oferta pública de ações que injetou R$ 800 milhões no capital do banco (e quando a carteira crédito somava R$ 8 bilhões), ele chegava a 26%. Os estudos para a nova capitalização começaram a ser feitos pelo ex-presidente da instituição, Mateus Bandeira, no ano passado, mas agora a decisão de levar o processo adiante foi tomada pela diretoria que assumiu em março o banco estadual.
Conforme o diretor de controle e risco, Luiz Carlos Morlin, o descompasso entre o ritmo de expansão das captações e dos empréstimos torna “inevitável” a preparação de uma nova capitalização. Em 12 meses, enquanto as carteiras de crédito cresceram 21,5%, o total de recursos captados e administrados subiu 13,1%, para R$ 25,3 bilhões. Ao mesmo tempo, o estoque de aplicações em títulos públicos recuou 1,6%, para R$ 9,8 bilhões.
No primeiro trimestre, o lucro líquido do Banrisul cresceu 73,4% sobre igual período do ano passado, para R$ 211,3 milhões. O desempenho foi favorecido pelas altas de 21,7% nas receitas de intermediação financeira, para R$ 1,3 bilhão, de 19% nas operações de tesouraria, para R$ 280,3 milhões, e de 14,5% na prestação de serviços, para R$ 171,6 milhões. O patrimônio líquido cresceu 15,2% ante março de 2010, para R$ 4 bilhões, e o resultado proporcionou uma rentabilidade anualizada sobre o patrimônio médio de 23,3%.
Ao mesmo tempo, conforme Zamin, as despesas administrativas recuaram 2,7%, para R$ 411,6 milhões, e as despesas com provisões para operações de crédito caíram 9,8%, para R$ 138,5 milhões. De acordo com o executivo, apesar da expansão das carteiras de crédito, o índice de inadimplência superior a 60 dias caiu de 3,5% para 2,7% nos 12 meses até março. Os ativos totais do banco atingiram R$ 32,95 bilhões no fim de março, ante R$ 29,86 bilhões há 12 meses.
Já em relação ao quarto trimestre houve desaceleração no nível de desempenho, reflexo das medidas de controle do crédito adotadas pelo Banco Central, disse Zamin. Nessa base de comparação, o lucro líquido caiu 8,1%, enquanto as receitas de intermediação financeira recuaram 0,8% e as despesas com provisões para operações de crédito cresceram 9,4%. Para o presidente do banco, a retração também foi influenciada pela redução sazonal do nível de atividade da economia regional nos dois primeiros meses do ano.
Conforme Zamin, com a desaceleração do quarto para o primeiro trimestre, o Banrisul mantém a previsão de alta das carteiras de crédito entre 15% e 20% no acumulado do ano sobre o estoque de R$ 17 bilhões em 31 de dezembro de 2010. “O desempenho de abril ficou próximo do topo da projeção”, disse o executivo. A partir de agora, a estratégia para expandir o volume de operações inclui um reforço das carteiras rural e imobiliária, seguros e cartões de crédito.
Na área de cartões, o banco está prestes a assinar contrato para iniciar a captura de operações da bandeira Visa na rede de pagamentos eletrônicos Banricompras (que tem 91 mil estabelecimentos cadastrados) assim como já acontece com a Mastercard.
O Banrisul também planeja ampliar as parcerias para distribuição de seguros (hoje a instituição opera com a Icatu e a SulAmérica) e estuda até a constituição de uma seguradora própria. Segundo Morlin, em um ano o banco pretende quadruplicar os ganhos no segmento segurador, atualmente na faixa de R$ 25 milhões anuais.