(Uberaba) Os bancários do Triângulo Mineiro estão em festa. Nesta quarta-feira. O Sindicato dos Bancários de Uberaba e região comemora 70 anos de conquistas e realizações. A diretoria do Sindicato marcou uma solenidade festiva às 19h30 horas no salão de eventos de sua sede. O encontro reúne bancários, sindicalistas e lideranças políticas de Uberaba e região. A apresentação da orquestra de viola da Fundação Cultural de Uberaba e uma soltura de fogos de artifício irão abrilhantar o evento. Para integrar as comemorações a Fetraf-MG está realizando sua reunião ordinária na cidade.
O evento vai lembrar as principais ações do Sindicato e debater os principais desafios da categoria bancária, entre eles a regularização da sede própria da entidade. O bancário aposentado Pedro Giani, que prestou um grande serviço social durante sua atividade bancária por mais de 40 anos na cidade de Sacramento (MG), será homenageado na solenidade. “Nossa intenção é fazer um marco importante para lembrar os 70 anos de luta e realizações da categoria bancária e abrir o caminho para conquista da posse definitiva da sede do Sindicato dos Bancários”, aponta o presidente Sérgio Gomes.
Uma história de lutas e conquistas
No dia 23 de abril de 1937, um grupo de bancários com idéias muito avançadas para a época conseguia concretizar, depois de muito planejamento de discussões, a criação do Sindicato dos Bancários de Uberaba. Os idealizadores estavam inspirados na idéia da jornada de trabalho de seis horas criada em 1933 (mas que no interior somente foi concretizada na prática, muitos anos depois) e com a criação do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários (IAPB) em 1934. Neste ano também, a constituição federal garantiu que muitos bancários tiveram direito às férias pela primeira vez na sua história.
Durante a década de 50, o Sindicato se movimentou para ter sua sede própria. Atuando em conjunto com o IAPB, a entidade conseguiu a doação da Câmara Municipal de um terreno onde começou a edificação da sede para as duas entidades. Ainda em 1957, os bancários conquistaram a nível nacional o pagamento das horas extras. No plano local, o trabalho conjunto do Sindicato com o IAPB garantiu a construção da sede própria. As entidades mudaram para o prédio em 1959. No imóvel também foram edificados apartamentos financiados para a categoria. O presidente do Sindicato, que também era o diretor regional do IAPB, inaugurou a sede.
No início dos anos 60, os bancários iniciaram uma movimentação intensa. O Sindicato esteve atuante na mobilização pelo fim do trabalho aos sábados, conquista obtida em 1963. O golpe militar trouxe um período turbulento para o sindicalismo brasileiro e em especial para os bancários de Uberaba. A ditadura extinguiu o IAPB, grande parceiro do Sindicato local, destituiu seus dirigentes e arrastou por decreto todos os imóveis ligados aos Institutos para o então recém criado INPS, Instituto Nacional de Previdência Social.
Não tendo dividido legalmente o imóvel em tempo hábil e sem ter como responder aos atos arbitrários da época de forte repressão, o Sindicato foi obrigado a partir de então, a pagar aluguel do imóvel para permanecer na sua sede própria, agora dividida com o INPS.
Nos anos de repressão, vários sindicatos do Brasil sofreram intervenções. O Sindicato de Uberaba ficou constantemente vigiado, segundo relato dos sindicalistas da época. A atuação permaneceu bastante restrita e voltada para a assistência dos bancários. Direção que acabou consolidado nas décadas seguintes.
A sede do Sindicato transformou-se em área de lazer, recreação e prestação de serviços. Foram instalados gabinetes odontológicos, barbearia, mesas de sinuca, damas e até sala de projeção de filmes. Na década de 80, a categoria conseguiu unificar sua data-base. Mas a mobilização marcante do período, foi a greve geral de 1985, a maior greve da história dos bancários do Brasil. Os bancários de Uberaba participaram efetivamente do movimento, paralisando quase todas as agências bancárias da cidade.
Durante os anos 80, consolidava-se um grupo de oposição sintonizado com as propostas da CUT (Central Única dos Trabalhadores, criada em 1983). O grupo começou a levar os bancários para uma atuação mais ampla, como por exemplo, a participação nos protestos que derrubaram o presidente Collor. Os temas de cidadania foram trabalhados com mais ênfase no conjunto da luta e defesa da categoria bancária, na medida em que os bancários que levaram as bandeiras da CUT passaram a comandar a diretoria do Sindicato nos anos 90. Foram fortalecidos os departamentos de comunicação e jurídico do Sindicato, trabalhando a promoção direta do bancário ao invés da assistência social do trabalhador.
Temas como campanha contra a fome e miséria, democratização dos meios de comunicação, defesa dos direitos trabalhistas, a luta contra a corrupção, a melhoria do atendimento e segurança nas agências bancárias passaram a ter um espaço significativo das ações do Sindicato, que também fez a promoção esportiva e social da categoria e a defesa intransigente dos bancários.
Ao mesmo tempo, os bancários foram pressionados por uma série de situações que criaram uma situação de ataque às organizações dos trabalhadores. Iniciou-se o desemprego em massa, a troca indiscriminada e financiada pelo poder público de emprego por tecnologia, o ataque aos direitos trabalhistas, a restrições de benefícios do INSS, o uso da terceirização como fuga das obrigações trabalhistas, entre outras que se constituíram nos grandes desafios da categoria no século XXI. Não deixando se intimidar pela realidade, o Sindicato dos Bancários manteve sua postura atuante, participando dos desafios da cidade e acirrando ainda mais a democracia dentro da categoria.
Intensificou também a luta dos bancários, negociando em todos os campos e participando ativamente das campanhas salariais, fazendo greve e paralisações nos momentos mais importantes neste novo século.
Ao completar 70 (setenta) anos de luta em prol dos trabalhadores bancários e da classe trabalhadora em abril de 2007, a categoria bancária se depara com o novo desafio. O INSS, com posse dos documentos e se aproveitando dos arbítrios da ditadura, quer as dependências do imóvel, alegando ser o proprietário do prédio.
No local pretende, entre outros projetos transformar o salão de eventos, que abriga milhares de trabalhadores da região todos os meses em assembléias, cursos, reuniões, espaços de lazer e cultura, em um arquivo morto da instituição governamental.
Refletindo sobre seus 70 anos de organização sindical, a categoria bancária de Uberaba e região, quer ver reconhecida seu direito à sede própria, cujas paredes ajudou a levantar com muito suor e esforço. E mais do que isso, construiu um espaço democrático de ousadia e luta em prol dos trabalhadores de Uberaba e região.
O Sindicato dos Bancários quer o reconhecimento do direito à sua sede. E por isso, abre seu septuagésimo aniversário, lançando-se na busca por sua sede social, para que possa comemorar os próximos aniversários com documento oficial em posse da categoria.
Fonte: Seeb Uberaba