Nos últimos anos, a população negra do Brasil conquistou a política de reserva de cotas nas universidades, o Estatuto da Igualdade Racial, a aprovação da Lei 10.639, que inclui o dia 20 de novembro (Zumbi) no calendário escolar e torna obrigatório o ensino sobre história e cultura afro-brasileira – no âmbito das políticas afirmativas e do resgate das contribuições dos povos negros nas áreas econômica, social e política ao longo da história do país.
Consolidar conquistas
Para a coordenadora da Secretaria de Igualdade Racial da CUT Rio, professora Glorya Ramos, é hora de os negros brasileiros elevarem a auto-estima, contabilizarem suas conquistas e vitórias e consolidá-las, por uma vida mais digna.
“Precisamos nos apoderar das conquistas e nos fortalecermos. Há muito o que fazer, muito que lutar. Nada nos acontece da noite para o dia. O presidente Lula carregou o nosso piano nesses oito anos. Agora, com Dilma, temos que elevar o domínio do conhecimento para enfrentar as demandas políticas que nos possibilitem disputar emprego e criar oportunidades para melhorar nossa condição humana, com moradia decente, educação e saúde. Enfim, esse é o momento de lutar e reduzir as desigualdades seculares entre brancos e negros”, convoca.
Mudar mentalidade
Professora de Matemática e Física para alunos da primeira à quarta séries na unidade Humaitá do Colégio Pedro II e diretora do Sindicato dos Professores do Rio, Glorya entende que o conhecimento auto-referenciado ainda não chegou para todos. Ela entende que o problema não está somente na educação, mas também na comunicação.
“Estou cheia do glamour, da beleza negra. Quero beleza intelectual. O enfrentamento se dá também aí. A mídia educa, mas ainda vende a mulher negra como um objeto de prazer. Temos que ter postura, temos que reforçar a luta contra o branqueamento e recuperar a negritude”, afirma.
E continua: “A cultura afro-brasileira não é só acarajé com azeite de dendê, a contribuição de nossos antepassados escravos deve ser inscrita num contexto de ciência e tecnologia, pois os portugueses não dominavam as técnicas de mineração de ouro e diamantes, um atributo dos escravos”, explicou.
Glorya é de opinião que o programa de cotas nas universidades é uma conquista importante dos negros, mas também um recuo, porque estabeleceu-se uma mentalidade de que os negros têm que ser doutores. Se o mercado de trabalho está franco para eletricistas, soldadores, práticos de navio e outras profissões técnicas, bastante rentáveis, por que encarar uma disputa desigual de vagas na universidade, em áreas saturadas em termos de oportunidades?”, pergunta.
Os alunos pobres da escola pública têm maior dificuldade em Matemática, Física, Química e Inglês. “Vá às escolas públicas e verifique: faltam professores de Matemática, Física e Química. Assim é que não há cotas para negros nos cursos de Medicina e Engenharia”, lembra, destacando as dificuldades que os alunos cotistas enfrentam para se locomover até as faculdades, para se alimentar, comprar livros. “Então, vamos fazer pressão para conquistarmos a expansão das unidades universitárias, da implantação dos bandejões, dos alojamentos para a moradia estudantil, livros nas bibliotecas”, concluiu.