Fórum Econômico de Davos termina dividido sobre regulação dos bancos

O Fórum Econômico Mundial encerrou no domingo, dia 31 de janeiro, a sua 40ª edição com expectativas ainda sombrias para a recuperação econômica em muitos países desenvolvidos e a de que os bancos não vão escapar de uma nova regulação mais rigorosa.

O diálogo entre representantes de grandes bancos privados e autoridades americana e francesa, horas antes da festa de despedida, ilustra o tom do encontro em Davos (Suíça).

Banqueiros reclamavam de que governos estão adotando medidas idiotas e ineficientes nos EUA e na França.

À certa altura, a ministra francesa da Economia, Christine Lagarde, perdeu um pouco a paciência e retrucou que, se os bancos não tivessem feito o que fizeram, talvez os governos não tivessem sido obrigados a tomar “medidas idiotas”.

Lawrence Summers, diretor do National Economic Council e assessor do presidente dos EUA, Barack Obama, por sua vez, disse que os bancos perderam credibilidade para fazer essas afirmações e que teriam que aceitar novas regras.

As propostas de Obama para limitar a atuação dos bancos e o discurso do presidente francês Nicolas Sarkozy na quarta-feira foram o foco das discussões.

Apesar da chiadeira, os banqueiros internacionais sabem que algo terá de mudar diante da pressão política crescente nos EUA e na Europa por normas que encolham os bancos e restrinjam sua atuação para evitar o risco de outras crises.

Se a mudança será inevitável, os banqueiros pleiteiam ao menos que ela não fique ao sabor de decisões individuais de alguns países, como as de Obama, que, reservadamente, muitos consideram, ao menos em parte, populistas, como disse um deles à Folha.

Houve várias manifestações para que as novas regras surjam de uma coordenação global, como foi decidido pelo G20 em abril de 2009, que delegou ao Comitê de Estabilidade Financeira (FSB) e ao Comitê de Basileia a elaboração de uma reforma financeira.

Josef Ackermann, presidente do Deutsche Bank, disse que há uma consciência de que é preciso fazer algo para restaurar a confiança.

“Se perdermos o apoio da sociedade, não conseguiremos atingir nossos objetivos corporativos. Mas é necessária uma harmonização em nível mundial das regulamentações”, afirmou. “No fim, é um sistema interdependente.”

O presidente do BCE (Banco Central Europeu), o francês Jean-Claude Trichet, afirmou que se deve atuar com regras mundiais para tratar de problemas mundiais, “ou avançaremos para uma catástrofe”.

“Temo que esqueçamos de uma lição essencial da crise, que é a coordenação. Tenho medo de que não nos encaminhemos nessa direção”, disse.

Mas nem todos serão tão afetados. Henrique Meirelles, presidente do Banco Central do Brasil, que participa dos comitês encarregados de discutir a nova regulamentação, disse que Brasil e Canadá são países que não tiveram problemas com seus bancos durante a crise por já terem adotado regras prudenciais rigorosas, muitas das quais estão sendo discutidas agora por outros países.

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