Trabalhadores protestaram em frente ao Banco Central, em São Paulo
“Os juros mais altos do mundo estão sangrando o Orçamento público para engordar banqueiros, rentistas e especuladores, alimentando uma espiral que não gera renda, não gera nada. Como há 15 anos estamos sangrando anualmente em torno de 7,5% do PIB para o pagamento de juros, faltam recursos para a EC 29 melhorar a saúde e também para aplicar os 10% do PIB na educação. Por isso estamos aqui para exigir a imediata redução dos juros, para impulsionar a produção nacional e o desenvolvimento”.
A afirmação é do presidente da CUT Nacional, Artur Henrique, que comandou na tarde desta terça-feira, dia 30, uma manifestação em frente à sede do Banco Central, na avenida Paulista, em São Paulo. O objetivo foi exigir a queda da taxa básica de juros (Selic) e protestar contra o aumento do superávit primário, decidido pelo governo federal.
O Conselho de Política Monetária (Copom), reunido a partir desta terça, anuncia nesta quarta se reduz a taxa Selic ou a mantém como está.
Artur lembrou que, ao contrário do que vem sendo feito pela equipe econômica, “com a ideia de austeridade fiscal e redução de gastos”, em 2008, durante o governo Lula, o país enfrentou a crise investindo no fortalecimento do mercado interno, com valorização dos salários, mais investimentos públicos e em políticas sociais.
“No momento em que a Europa está caindo aos pedaços e com os EUA mergulhados na crise, a saída é o mercado interno, tendo o Estado como indutor do desenvolvimento, colocando os bancos públicos, como o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES para incentivar a produção, exigindo contrapartidas de emprego decente, condições de trabalho, saúde e segurança”, acrescentou Artur.
O presidente cutista saudou a mobilização da categoria bancária, presente em grande número ao ato, sublinhando que para que o governo cumpra com a promessa de erguer dois milhões de moradias da segunda fase do programa Minha Casa Minha Vida, precisará valorizar os funcionários da Caixa, assim como se quiser fazer com que os R$ 3 bilhões destinados ao microcrédito pelo Banco do Brasil venham para potencializar o mercado interno, é necessário valorizar os funcionários do Banco do Brasil.
“São eles que vão operar os programas, atender na ponta do balcão. Para isso, precisam de salário, contratação de pessoal e condições de trabalho”, explicou.
Na avaliação do secretário-geral da CUT, Quintino Severo, está mais do que comprovado que a alta dos juros só interessa à especulação financeira, enquanto prejudica o conjunto da sociedade, reduzindo a produção e o consumo, com impactos extremamente daninhos sobre o emprego e a renda. “Estamos nas ruas mobilizando a opinião pública pela queda imediata dos juros, pois o país precisa de desenvolvimento com distribuição de renda, com valorização do trabalho”, destacou.
HORA DE ESTANCAR A SANGRIA
De acordo com o relatório de política fiscal do BC, divulgado no dia 29 de julho, o governo federal gastou R$ 100,63 bilhões com juros no primeiro semestre, um aumento de 46% em relação ao mesmo período do ano passado. Além dos juros, as amortizações da dívida federal atingiram R$ 194,44 bilhões, um aumento de 7% em relação ao primeiro semestre de 2010.
Somando juros e amortizações, o governo federal passou aos bancos, em seis meses, R$ 294.511.584.199,32 (294 bilhões, 511 milhões, 584 mil, 199 reais e 32 centavos. Conforme levantamento do jornalista Carlos Lopes, tal quantia é nove vezes o que, no mesmo período, foi despendido com a Saúde (R$ 32.416.877.858,44), excluído o pagamento de restos do orçamento de anos anteriores. Quatorze vezes o dispêndio com a Educação (R$ 20.927.531.530,63). Vinte e cinco vezes a despesa, no mesmo período, de toda a Defesa Nacional (R$ 11.761.510.597,65). Duas mil novecentas e quarenta e três vezes o que se gastou em Saneamento (R$ 100.044.516,44). Vinte e quatro mil novecentas e oito vezes o gasto orçamentário com Habitação (R$ 11.823.598,72).
Para o secretário de Administração e Finanças da CUT, Vagner Freitas, “a política de juros altos e de ajuste fiscal precisa ser derrotada, pois é mais do mesmo que já deu errado no passado. Esta foi a política derrotada nas urnas que os trabalhadores não aceitam que volte”. Vagner denunciou que o Banco Central tem agido em “conluio com os banqueiros, atuando como extensão da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos)”. Deste jeito, condenou, “os banqueiros estão transformando o Brasil em quintal da sua festa”.
Ex-presidente da Contraf/CUT, Vagner conclamou a militância a combater sem trégua a implementação desta “política econômica regressiva, que deixa a indústria nacional em crise sem condições de competir com as empresas estrangeiras”.
Agradecendo a presença das lideranças dos sindicatos, como dos Químicos, Bancários, Vidreiros, Plásticos e do Sinergia, o presidente da CUT São Paulo, Adi dos Santos Lima, frisou que “os trabalhadores estão manifestando a sua insatisfação com o tamanho da taxa de juros praticada no Brasil, que deixa os especuladores muito contentes”.
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, lembrou que todo o setor produtivo acaba sendo relegado a um segundo plano diante da magnitude dos recursos desviados para os bancos. “Infelizmente o Banco Central tem atuado em sintonia com os interesses dos banqueiros e dos especuladores. O país está gastando mais com o pagamento dos juros da dívida interna do que com os programas sociais. Isso é uma verdadeira Bolsa Banqueiro, sem qualquer justificativa”, condenou Juvandia.
Em campanha salarial, os bancários de todo o país estão exigindo além de aumento real, maior Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e melhores condições de trabalho, saúde e segurança.
“Queremos também discutir o papel do sistema financeiro, o papel do Banco Central que queremos para a nossa sociedade. Por isso defendemos a ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e a democratização do sistema financeiro para acabar com a transfusão de sangue da sociedade para o bolso dos banqueiros. Queremos canalizar mais recursos para a produção, para gerar emprego e renda”, acrescentou Carlos Cordeiro, presidente da Contraf/CUT.