O banco espanhol Santander vai instalar em Campinas um polo operacional para as Américas do Norte, Central e do Sul, desde processamento de dados até centro de pesquisa e área técnica. A decisão, negociada há pelo menos um ano com a Prefeitura, será anunciada amanhã pela diretoria da empresa e pelo prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT), em um evento com a presença de ministros de Estado, entre eles Carlos Lupi (Trabalho e Emprego).
A nova sede operacional do banco (hoje, as ações são divididas em várias cidades) será instalada em uma área do segundo parque da Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), localizada próxima à Rodovia D. Pedro I (SP-65), no Jardim Santa Cândida, região Norte da cidade. A empresa será vizinha de outras instituições importantes, como a Hewlet Packard, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército Brasileiro.
Segundo apurou o Correio, a localização é considerada estratégica por causa da proximidade com universidades, como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a PUC-Campinas, para futuras parcerias. Hoje, o secretário municipal de Finanças, Paulo Mallmann, vai apresentar um estudo sobre a geração de renda e tributos provocados pelo investimento do banco internacional.
A direção do Santander não quis se manifestar sobre o assunto, mas deve informar o investimento hoje à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do Ministério da Fazenda. O banco opera em capital aberto e, segundo a legislação nacional, deve seguir o trâmite burocrático antes de anunciar diretrizes, tudo em função dos investidores. Atualmente, o Santander opera em pelo menos 18 países, o mais recente deles, os Estados Unidos, onde adquiriu as operações do Sovereign Bank.
Ontem, durante entrega de obras públicas, o prefeito se mostrou entusiasmado com o investimento. Porém, indagado pela reportagem, se esquivou. Nos bastidores, a mobilização para a decisão do Santander por Campinas é que chama a atenção.
Segundo auxiliares do prefeito, as negociações foram intensas, envolvendo diversas secretarias municipais. O banco deverá ser beneficiado com a lei que oferece incentivos fiscais para empresas de base tecnológica. Porém, Mallmann não quis dar detalhes sobre o assunto.
De acordo com a legislação, os benefícios são concedidos a partir de critérios estabelecidos em um sistema de pontuação. As empresas enquadradas poderão ter redução no valor do Imposto Sobre Serviços (ISS), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto de Transmissão de Bens Inter Vivos (ITBI) e isenção de taxas e emolumentos.
Segundo o último relatório do banco, do primeiro trimestre deste ano, o Santander no Brasil registrou 21% do lucro líquido da instituição no mundo. Na América Latina, o índice foi de 59%. Ao todo, os ganhos atingiram R$ 1,7 bilhão, ante R$ 832 milhões em igual período no ano passado.
Instituição abateu dívida de R$ 1 bilhão da Prefeitura
Não é a primeira vez que o banco Santander negocia com a Prefeitura de Campinas. Em março de 2010, após um acordo judicial, a instituição abriu mão de receber R$ 1 bilhão em dívidas contraídas pelo Município por débitos oriundos da emissão de Letras Financeiras do Tesouro Municipal (LFTM), em 1996.
No acordo, o banco concordou em abrir mão dos juros e correção e receber o valor original da dívida, de R$ 86,4 milhões, que serão pagos em sete anos. À época, os diretores do Santander não quiseram comentar o acordo assinado no gabinete do prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT).
A medida gerou um fôlego ao governo, que conseguiu recuperar a capacidade de endividamento. Por causa disso, a Prefeitura, já oficializou pedidos de financiamento ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no valor de R$ 240 milhões para obras de infraestrutura urbana.
Na renegociação, a Prefeitura já pagou cerca de R$ 20 milhões. Mais R$ 25 milhões serão pagos em cinco parcelas anuais a partir de 2011 no valor de R$ 7,05 milhões. Os R$ 46 milhões restantes serão pagos em 84 parcelas de R$ 812,2 mil.
“Eles fizeram um bom negócio no acordo, que foi excelente para nós porque nos tirou do sufoco do limite de endividamento”, disse o secretário municipal de Finanças, Paulo Mallmann, em entrevista recente ao Correio.
O último anúncio feito pela Prefeitura de Campinas envolveu o investimento de R$ 180 milhões do Hospital Sírio-Libanês (HSL), que vai construir um hospital de alta complexidade em Campinas e vai ofertar, a partir de 2014, atendimento a 750 pacientes mensais, além de 17 mil exames de imagem e 80 mil exames laboratoriais. O hospital começará a ser construído no final deste ano na cidade, em terreno próximo ao Alphaville.
Saiba mais
O Santander conclui em julho deste ano a integração total com o banco ABN Amro Real, adquirido em outubro de 2007. A integração no sistema de cartões de crédito foi finalizada no mês passado. Falta agora unir todo o sistema de controle das contas correntes, o que deve acontecer em julho.