Por Carlos Cordeiro*
A partir de 2001, a crise de geração de energia elétrica trouxe o emprego do termo “apagão”. Na ocasião, o sentido era literal, já que a ameaça era de o país ficar às escuras. A partir daí, a expressão passou a ser aplicada a todo gargalo ou falha generalizada em qualquer setor. Foi assim, entre outros casos, com a crise nos aeroportos em dezembro de 2006. O “apagão aéreo” ganhou manchetes e chamou a atenção de toda a sociedade brasileira.
Nos últimos meses, o número de assaltos em agências bancárias vem crescendo. Em 2006, foram 122 assaltos a banco em São Paulo registrados, um número 82% superior ao de 2005. Em Porto Alegre, em janeiro deste ano, foram 16 ocorrências, mesmo no estado de Minas Geais. Clientes e funcionários são expostos à violência do assalto em si e têm a vida colocada em risco, como foi o trágico assalto do último dia 28 na agência do Itau em Moema, Zona Sul da capital paulista. A adolescente Priscila Aprigio, de 13 anos, foi baleada no abdômen em uma troca de tiros com os assaltantes e passou por uma cirurgia de medula. Outras quatro pessoas ficaram feridas.
Em 22 de dezembro, no Rio de Janeiro, em uma agência do Itau, o fim foi ainda mais trágico. Um vigilante sem preparo matou a tiros o cliente Jonas Eduardo Santos de Souza, depois de se desentender com ele. Na agência do Sudameris da Faria Lima, em 23 de agosto de 2006, também em São Paulo, a bancária Bárbara Cristina Fidelis, de 31 anos, foi morta por assaltantes.
Os casos refletem alguns dos elementos do problema. Os indícios de que um apagão da segurança nos bancos poderia acontecer levaram a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) a re-estabelecer com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) uma mesa de negociações específica a respeito de segurança bancária. Além disso, a entidade sindical irá buscar audiências públicas com o Ministério da Justiça, a Polícia Federal e com o Banco Central para discutir a questão. A gravidade da situação exige que medidas eficientes sejam tomadas rapidamente. A sociedade já não suporta mais ser exposta a tanta violência por negligência dos bancos.
Negligência que, aliás, é grande. Tanto assim que, apenas no mês de dezembro de 2006, as instituições foram multadas em R$ 985 mil por não cumprirem as exigências fixadas na lei. Os dados são da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada (CCASP), coordenada pela Polícia Federal. São valores irrisórios frente à lucratividade dos bancos e principalmente em relação ao montante arrecadado com tarifas, que já superam o patamar de duas vezes as despesas com folha de pessoal.
As medidas exigidas pela legislação são insuficientes, diante da realidade da falta de segurança pública vivida no Brasil. São divididas em três grupos, sendo dois obrigatórios. A instalação de sistema de alarme e a colocação de vigilantes treinados e capacitados são dois requisitos básicos. Além disso, deve-se optar por pelo menos um entre um outros itens: circuito interno de TV, sistemas de retardo da ação de criminosos (como porta giratória ou o equipamento que impeça a abertura imediata do cofre) e cabine blindada.
A Contraf-CUT defende a segurança baseada num tripé: equipamentos eficientes, vigilantes treinados e capacitados e clientes esclarecidos. Um referencial de segurança interessante para reflexão é a utilizada em um aeroporto, onde há detectores de metais são eficientes e até de raio-X da bagagem são utilizados de modo a garantir a segurança. Nos bancos, cada instituição cria seus procedimentos. Não bastaria apenas uma, mas pelo menos duas portas giratórias para que, em caso de bloqueio, a circulação de pessoas liberadas seja mantido. O equipamento teria de ser de ponta, com calibragem adequada e instalado logo na entrada da agência, incluindo a área de acesso aos caixas eletrônicos, para reduzir a exposição dos clientes.
Além disso, num aeroporto, o pessoal é muito bem treinado e capacitado. Trata-se de um cenário muito diferente do vigilante bancário, que recebe baixos salários por jornadas muito pesadas e sem a capacitação devida. Para ocupar o posto atualmente, basta a formação básica, como se a segurança de um banco não guardasse diferenças da de uma escola ou de um restaurante. Para piorar, os bancos repassam o serviço em agências a empresas terceirizadas. Sem dar valor às pessoas que freqüentam o espaço e só preocupados com os lucros, a definição da contratação é feita a partir do menor preço, ignorando a qualidade da formação dos profissionais. Com o transporte de valores há o mesmo tipo de negligência, com um agravante ocorrido em pequenas cidades. Não é raro haver relatos de funcionários sujeitos à própria sorte ao serem obrigados a carregar valores de maneira irregular nos próprios automóveis.
O terceiro ponto do tripé, também comparável a um aeroporto, é que o público tem clareza sobre a necessidade das medidas preventivas. Sem sofrer abusos nem constrangimentos desnecessários, o passageiro se dispõe a separar moedas, telefones celulares e outros objetos metálicos. Os bancos, em vez de despender dinheiro enviando ofertas e cartões de crédito não solicitados, deveriam promover reflexões com seus clientes a respeito de que tipo de comportamento é o mais adequado para assegurar sua passagem pela agência.
As exigências da Contraf-CUT citadas são exemplos de medidas que a sociedade necessita e que precisam ser tomadas pelos bancos. O apagão da segurança bancária tem um preço muito alto, pago pela parte mais importante: a vida humana.
* Carlos Cordeiro é secretário geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT)