Cientista político defende regulação do sistema financeiro nacional

Para Moisés Marques, concentração bancária no Brasil é perigosa

Rede de Comunicação dos Bancários
Andrea Ponte Souza e Renata Bessi

A concentração bancária, que vem se mostrando uma tendência no cenário nacional, é perigosa, pois resulta em maior concentração de poder financeiro e político. A afirmação é do cientista político Moisés Marques, coordenador-geral do Centro 28 de Agosto do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. “Os bancos possuem informações sobre a vida de seus clientes, possuem dinheiro para financiar eleições”, advertiu ele, durante painel sobre conjuntura e sistema financeiro, neste sábado (21), no segundo dia da 14ª Conferência Nacional dos Bancários, em Curitiba.

Moisés avaliou que o sistema financeiro nacional passa por um momento delicado, em que os grandes bancos estão se apossando dos médios e pequenos. “Os pequenos bancos trabalham alavancados, ou seja, emprestam mais do que possuem, e costumam equacionar esse problema vendendo as dívidas para os maiores. Mas os grandes bancos, percebendo que os pequenos estão com problema de liquidez, estão deixando de comprar esses ativos e se lançando no movimento de engoli-los. Daí a tendência das fusões e concentração de poder”, explicou Marques, citando como exemplos a aquisição de parte do Votorantim pelo Banco do Brasil e a do BMG pelo Itaú.

Ele ressaltou também a crise econômica mundial causada pela ganância dos bancos e a necessidade de mecanismos de regulação do sistema financeiro. “Os bancos precisam ser organizados e regulados para deixar de ser vetores de crise.”

Nova geografia mundial do poder

Moisés também traçou um quadro geral das mudanças por que passa o mundo, destacando o descenso nas economias dos EUA e Europa; a ascensão dos Brics; o “surgimento” da África; novas questões no Oriente Médio; e a nova geografia do poder, com o Brasil, por exemplo, ganhando outra dimensão internacional. “Há uma nova geografia mundial do poder, surgiram novas formas de conflito, novos atores nas relações internacionais. Além disso, novos temas mundiais passaram a pautar a conjuntura, como o meio ambiente.”

Desigualdade, o grande problema

O vetor de crescimento hoje, de acordo com ele, são os países que compõem os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). “O Brasil cresce a um ritmo razoável. Adotou um modelo econômico voltado para o mercado interno e passou de uma situação de devedor para credor do FMI. Mas o grande problema continua sendo a desigualdade social. O índice de desenvolvimento humano ainda é ruim”, avaliou.

Regulação do sistema financeiro

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, fez coro à preocupação do cientista político sobre a falta de regulação das instituições financeiras. “É surpreendente que mesmo com a crise internacional, que foi oriunda do sistema financeiro, os bancos continuem sem regulação. Os bancos não podem se autorregular, eles trabalham por meio de concessão pública, lidam com o dinheiro das pessoas e têm de servir ao desenvolvimento da nação”, defendeu ela, durante os debates da mesa.

A dirigente criticou a concentração do sistema financeiro no Brasil, onde os seis maiores bancos detêm 81% dos ativos e 86% das operações de crédito. “E sabemos que eles ditam as regras mesmo, inclusive financiando campanhas eleitorais.”

A realidade nacional, segundo Juvandia, aponta para a necessidade de duas reformas fundamentais: a política e a tributária. “Hoje quem financia as campanhas eleitorais são os grandes bancos, o agronegócio… Temos de fazer uma grande mobilização por reforma política, para termos uma democracia forte e participativa. Além disso, temos de defender a reforma tributária para melhorarmos os investimentos em educação, pois um país só se desenvolve quando investe em seus talentos”, afirmou, defendendo o investimento de 10% do PIB na educação.

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