Andrew Grossman, Devlin Barrett e John Letzing
The Wall Street Journal, de Washington
O Credit Suisse tornou-se ontem a primeira instituição financeira em mais de uma década a declarar-se culpada por um crime. O banco suíço admitiu ter conspirado para auxiliar americanos ricos a evadir impostos e concordou em pagar US$ 2,6 bilhões para encerrar um processo movido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos
O procurador-geral Eric Holder vai anunciar as acusações, informou o banco, que reconheceu ter se engajado num amplo esquema para ajudar americanos a esconder ativos.
Os termos financeiros do acordo incluem um pagamento de US$ 100 milhões ao Federal Reserve, o banco central americano, outro de mais de US$ 715 milhões ao Departamento de Serviços Financeiros de Nova York, e de cerca de US$ 1,7 bilhão ao Departamento de Justiça,
O acordo representa a maior vitória para o Departamento de Justiça dos EUA em sua empreitada para combater a evasão fiscal desde que o rival do Credit Suisse, o UBS, concordou em pagar US$ 780 milhões como parte de um acordo selado em 2009.
A declaração de culpado marcar a primeira vez que a controladora de uma grande instituição financeira admite ter cometido um crime nos EUA em mais de dez anos. O acordo é também o resultado de uma abordagem mais agressiva da Justiça americana para policiar Wall Street.
Os promotores tomaram medidas para limitar os possíveis efeitos em cascata da declaração de culpa ao obter garantias de que reguladores estaduais e federais dos EUA não vão impor penalidades que pudessem prejudicar seriamente o banco, como impedir o Credit Suisse de operar no país. O diretor-presidente e o presidente do conselho não devem deixar o banco por conta do caso, apesar de alguns na Suíça terem exigido que eles se demitissem.
Executivos do Credit Suisse esperavam inicialmente um acordo inferior a US$ 500 milhões, diz uma pessoa próxima ao banco, um montante que, acreditavam eles, refletiria o porte menor das operações do banco nos EUA, comparado com o concorrente UBS.
Mas o valor maior do acordo provavelmente não vai comprometer a saúde financeira do Credit Suisse nem sua situação de capital, segundo analistas que acompanham a instituição. O banco já provisionou mais de US$ 800 milhões, ou um terço do total, para arcar com as penalidades.
Tim Dawson, analista da corretora Helvea, diz que o acordo bilionário não deve enfraquecer substancialmente o índice de capital do Credit Suisse, uma medida importante da capacidade de um banco de absorver prejuízos. No fim do primeiro trimestre, o índice de capital do Credit Suisse era de 10%, dois pontos percentuais a mais que em 2012.
Um porta-voz da Finma, o regulador do mercado financeiro da Suíça, não quis comentar sobre o possível impacto do acordo sobre a estabilidade do Credit Suisse.
Ainda assim, o relacionamento do banco com seus clientes e sócios talvez seja afetado. Muitos fundos de pensão e fundos mútuos têm regras que os proíbem de fazer negócios com instituições que se declararam culpadas de acusações criminais. Outros clientes podem decidir simplesmente evitar ligações com um banco visto como problemático, dizem especialistas.
“Se você é um cliente e pode escolher entre um banco que tem uma reputação abalada e outro que não tem, você talvez opte pelo que não tem”, diz Andrea Bonime-Blanc, gestora da consultoria GEC Risk Advisory.
As ações do Credit Suisse, que recuaram 0,5% ontem, já perderam 4,4% desde o começo do ano, quando começaram os rumores de que um acordo estava próximo. As ações do UBS, por outro lado, subiram 4,1% este ano.