Manchete do jornal Diário de São Paulo de quarta (2): “IPTU terá reajuste máximo de 30%”; subtítulo: “Após crítica, prefeito muda projeto e reduz teto do aumento”. A Folha de S.Paulo vai no mesmo caminho: “Kassab recua e reduz reajuste do IPTU”. O Estadão idem: “Para assegurar IPTU, Kassab recua da alta de até 60%”.
No jornal Gente, da rádio Bandeirantes, ancorado por José Paulo de Andrade, o tom foi o mesmo: “Havia gordura demais e Kassab recua”. E a CBN, de Heródoto Barbeiro, acompanhou: “Prefeito recua e reajuste será menor”. Assim, todos os textos passaram a trabalhar com os verbos recuar, reduzir, baixar, ficou menor.
O fato, porém, foi que a maioria dos vereadores de São Paulo que apoia a gestão DEM/PSDB aprovou um reajuste draconiano no imposto, de no mínimo 30% para os imóveis residenciais a 45% para os comerciais, o que provocou protestos de entidades comerciais e de populares na sessão. Dependendo da região, o aumento poderá ser muito maior.
A forma como DEM e PSDB conduziram a negociação foi armada para que o noticiário, cúmplice, invertesse a lógica dos fatos, convencendo os leitores de manchete de que “o pior” foi transformado em “menos mau”.
Isso está explícito na manchete interna do Estadão: “Kassab recua em teto de 2010 e Câmara aprova IPTU até 45% maior” seguida do complemento: “Reajuste máximo para imóveis residenciais será de 30%; previsão de arrecadação diminui R$ 100 milhões”. Um pouco mais e o leitor ficaria penalizado com a decisão, pois, segundo o Estado, até a previsão de arrecação vai diminuir!
O vereador Antonio Donato lembra que o reajuste atual, que vai levar a uma arrecadação de R$ 650 milhões, não se compara com o da gestão Marta Suplicy, que arrecadou cerca de R$ 250 milhões só no IPTU, excluindo-se a taxa do lixo. “A classe média vai sentir o baque quando o carnê chegar, em janeiro”, acredita.
Em artigo publicado no Estado de S. Paulo de quarta (2), o empresário Oded Grajew, um dos idealizadores do Movimento Nossa São Paulo, destaca que o projeto do novo IPTU não foi apresentado na discussão do Orçamento 2010 e nem do Plano Plurianual 2010-2013 (que estabelece diretrizes e metas do executivo por um período de quatro anos) e ainda não deixa claro em que secretarias, programas e projetos o dinheiro extra será gasto. “Uma proposta com esse impacto na vida da população mereceria um debate mais aprofundado com a sociedade, no âmbito da democracia participativa”, critica.