Valor Econômico
Ari Levy, Bloomberg News, de San Francisco
A decisão do governo dos Estados Unidos de comprometer vários bilhões de dólares adicionais, sob certas condições, no Citigroup e Bank of America pode tratar-se de uma estatização com outro nome, no entendimento de alguns ex-banqueiros e ex-reguladores.
Os bancos, ante a pressão de parlamentares, reformularam a direção, eliminaram bonificações de executivos, cortaram empregos e cancelaram convenções. Ainda serão forçados a fornecer informes mensais mostrando que elevaram a concessão de créditos e a diminuir a distribuição de dividendos durante três anos.
“Quando o Tesouro diz a um banco para pagar um centavo por ação em vez do dividendo antigo, sabe-se quem é que manda”, observou Jon Bruss, veterano de 40 anos do setor financeiro e fundador da Fortress Partners Capital Management Ltd., gestora de recursos de Wisconsin, que tem investimentos em bancos. “Pode não ser uma estatização de direito, mas é uma estatização de fato.”
Embora tenham evitado as medidas tomadas pelo governo do Reino Unido, que assumiu participação de 70% no Royal Bank of Scotland Plc, as autoridades reguladoras dos EUA já não injetam mais capital passivamente nos maiores bancos do país. Os investidores vêm evitando ações do Citigroup e Bank of America, que caíram mais de 50% no ano, com receio de que uma fiscalização mais rígida do governo esteja se aproximando, na esteira da aquisição no ano passado das empresas hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac e da seguradora AIG.
“Algumas dessas decisões tradicionais da direção estão sendo tomadas pelo governo”, afirmou Donald Powell, 67 anos, que foi presidente do Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC) de 2001 a 2005. “Os acionistas não têm voz em algumas coisas que estão ocorrendo.”
Depois que a ajuda inicial concedida pelo Tesouro dos EUA em outubro não ter sido suficiente para proteger o Citi e Bank of America, os dois bancos voltaram em busca de mais capital e de garantia para centenas de bilhões de dólares em casos de inadimplência.
O Citigroup precisou de US$ 20 bilhões em novembro, além da injeção anterior de US$ 25 bilhões, o que, somado, não foi suficiente para evitar que a empresa se dividisse em duas, após anunciar prejuízo recorde em 15 de janeiro. No mesmo dia, o Bank of America recebeu US$ 20 bilhões para cobrir perdas relacionadas à Merrill Lynch, valor que se somou aos US$ 25 bilhões que estas duas instituições haviam recebido, juntas, em outubro.
Para William K. Black, que foi advogado do Federal Home Loan Bank de San Francisco, seria melhor se o Tesouro assumisse o controle das companhias e trocasse toda a direção existente. Para ele, ao evitar a estatização dos bancos, o governo desperdiça dinheiro.
Citigroup e Bank of America não se encaminham necessariamente para uma estatização, segundo Powell, para quem o governo do presidente Barack Obama busca uma “saída estratégica” para evitar acabar assumindo o controle financeiro dos bancos. Isso pode significar converter as ações preferenciais em ordinárias e, então, revendê-las, afirmou.
Outro ex-regulador do setor bancário, Kevin Jacques, diz que a política de estatização poderia ser preferível à atual estratégia de lidar de forma diferenciada com cada caso. “Quando se assume uma política de estatização, pelo menos se cria certo grau de certeza, porque se sabe que o governo respaldará essas instituições”, disse Jacques, 49 anos, que foi economista do Tesouro por 14 anos. Agora, “é como se fosse um tipo esquisito de estatização parcial”, afirmou.