FOLHA DE SÃO PAULO
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A ISLA MARGARITA
Com promessas de se tornarem independentes financeiramente dos países ricos, sete presidente sul-americanos, incluindo o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, assinaram na noite de anteontem, na Venezuela, o documento de fundação do Banco do Sul, uma instituição multilateral e continental para projetos de infraestrutura.
A instituição reúne também Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela e terá recursos para o financiamento a projetos de agricultura, energia e saúde.
Durante os quatro anos de negociações para constituição do banco, o capital inicial foi elevado de US$ 7 bilhões para US$ 20 bilhões, a ser formado a partir da contribuição de seus membros. Todos terão os mesmos direitos de votos, não importa o tamanho da população ou da economia.
O evento de lançamento ocorreu durante a segunda cúpula entre países africanos e sul-americanos, em Isla Margarita (Venezuela).
Anteontem, durante um debate, o presidente anfitrião, Hugo Chávez, brincou com Lula sobre o financiamento da instituição. “Tem de colocar dinheiro, Lula. Tem de colocar o dinheirinho.”
Lula apenas sorriu, mas a brincadeira de Chávez tem um tom de cobrança.
Embora o Brasil não tenha sido um dos grandes incentivadores da instituição -muito mais uma obra de Chávez, do ex-presidente argentino Nestor Kirchner, do boliviano Evo Morales e do equatoriano Rafael Correa-, é sobre o Brasil, como maior economia do continente, que recaem as principais responsabilidades para que o empreendimento funcione.
Trazer reservas do Norte
“É nosso banco, para trazer de volta nossas reservas que estão no Norte, para que possamos emprestar entre nós”, afirmou Chávez. O escritório central ficará em Caracas (Venezuela), com sedes regionais na Bolívia e na Argentina.
“Este é um momento histórico para a verdadeira independência da América Latina. Chega de depender dos ricos, de ajoelhar para pedir alguns dólares”, afirmou Correa.
Lula não deu entrevistas ontem sobre o banco. Mas, na única vez em que falou com a imprensa, também deu um tom triunfal à capacidade de os países sul-americanos reagirem à crise econômica sem depender dos países mais ricos.
“Em função da crise econômica, os países ricos já não estão com a petulância que habitualmente eles tinham nas relações e nas discussões com os países pobres nas questões econômicas. A situação do Brasil do ponto de vista da macroeconomia está melhor do que a dos países ricos”, afirmou.
Lula disse que “brincou” com Barack Obama, em encontro na semana passada, comparando a situação econômica dos dois países. “Eu brincava com o Obama dizendo para ele que a diferença entre nós agora é que no mês de agosto o Brasil gerou 242 mil empregos formais, e no mês de julho os EUA tiveram 700 mil desempregados.”
Segundo Lula, a economia brasileira está “consolidando crescimento de 5% para 2010”.