Fusões levam Itaú e Santander a um esforço de guerra na área de TI

Valor Econômico
André Borges, de São Paulo

Claudio Almeida Prado e Alexandre de Barros são os executivos à frente da integração tecnológica que envolve as duas maiores fusões de bancos ocorridas recentemente no país: a união do Santander ao Banco Real e do Itaú ao Unibanco. Por trás de cada uma dessas fusões estão operações de tecnologia da informação (TI) com estrutura e porte suficientes para fazer frente à maioria dos fornecedores de sistemas e serviços do mercado.

No caso do grupo Santander, o que existe de fato são empresas de TI independentes. Hoje, toda a estrutura do Santander está nas mãos de duas empresas de tecnologia – a Altec e a Produban – que pertencem ao próprio grupo espanhol e prestam serviços exclusivos para o banco em diversos países. A integração tecnológica com o Real, iniciada em setembro do ano passado, envolve hoje um parque de 55 mil computadores e 1,8 mil servidores, além de uma estrutura de mainframes, os supercomputadores que realizam as principais transações financeiras dos bancos. Com o apoio de um time interno de 2 mil funcionários ligados à TI e outros 3 mil profissionais indiretos, Prado toca uma infinidade de projetos simultâneos.

Nos primeiros meses de operação, sua equipe passou a maior parte do tempo mapeando as lacunas encontradas entre os cerca de 500 sistemas usados pelo Santander e os 400 do Real. O confronto dos sistemas gerou um total de mil “brechas” para serem preenchidas, uma lista que inclui desde itens simples, como a inclusão de uma informação no extrato do cliente, até projetos que demandam 30 mil horas de desenvolvimento. “Cerca de metade desses ‘gaps’ já foi resolvido”, diz Prado. “Devemos concluir esse trabalho até o fim do ano.”

Os números do Itaú também impressionam. A partir da fusão com Unibanco, o Itaú passou a contar com um time próprio de 6 mil profissionais ligados à área de TI. Atualmente, outros 2 mil funcionários terceirizados também estão envolvidos com os projetos. Para fazer a transição tecnológica do banco e, ao mesmo tempo, manter em funcionamento uma rede apoiada por um parque de mainframes, 8 mil servidores e 120 mil computadores, Barros diz foi criada uma força-tarefa. A todo instante, o executivo recebe relatórios de nove diretores, uma equipe responsável por acompanhar o desenvolvimento de nada menos que mil projetos.

O consumidor já começou a sentir alguns reflexos da migração. A rede de 29 mil caixas de autoatendimento (ATM) do Itaú-Unibanco já está integrada. O mesmo serviço também está disponível nos 17 mil ATMs do Santander-Real. Os maiores desafios, no entanto, ainda estão por vir.

Diferentemente do que ocorreu com a força de trabalho ligada ao departamento de TI – que, ao menos até agora, teve uma leve sobreposição e gerou poucos cortes -, a infraestrutura de equipamentos desses bancos ficou inchada. Ao comprarem seus concorrentes, Itaú e Santander viram seus prédios de centros de dados dobrarem.

“Hoje temos quatro centros de dados em atividade, mas o processo natural é ficarmos com apenas dois”, diz Barros, do Itaú-Unibanco. A previsão, no entanto, é de esse processo de consolidação vai demorar. “Não devemos desligar nenhuma das estruturas neste ano.”

No grupo Santander, um centro de dados da região de Santo Amaro, em São Paulo, já foi desativado. Segundo Prado, uma segunda estrutura deve ser desligada ainda neste ano. As mudanças incluem também a preparação tecnológica da Torre JK, prédio localizado na zona Sul de São Paulo e construído pela WTorre. Há um ano, o Santander acertou a compra, por R$ 1,06 bilhão, da torre erguida sobre o antigo esqueleto do prédio que seria a sede da Eletropaulo.

Os grandes fornecedores de equipamentos e serviços de tecnologia acompanham com lupa cada movimento. No Santander-Real, um time de cinco fornecedores – Accenture, Everis, IBM Tata Consultancy Services e Telefônica – divide os grandes contratos da fusão, mas os projetos ainda envolvem cerca de 30 companhias de TI do país. No Itaú-Unibanco, a lista dos principais provedores é puxada por Accenture, Embratel, IBM, Hewlett-Packard, Sun Microsystems e Telefônica, além da Itautec, controlada pelo banco. “Para o fornecedor, essa é a hora da verdade”, diz Prado. “O que temos pela frente é um caminho complexo e temos que contar com o melhor que encontrarmos nas duas operações.”

Investimento não faltará. Prado não revela o orçamento de TI que o grupo Santander reservou para este ano. Recentemente, porém, o presidente do banco no Brasil, Fabio Barbosa, afirmou que o Santander deverá investir cerca de R$ 2,56 bilhões no país, sendo que boa parte desses recursos serão aplicados em tecnologia. No caso do Itaú-Unibanco, comenta Barros, o orçamento tecnológico atingirá neste ano R$ 3 bilhões. Desse montante, cerca de R$ 450 milhões são investimentos e R$ 2,55 bilhões estão ligados ao custo operacional do banco.

Na saga pela integração, Santander e Itaú já fizeram a lição de casa ao unificarem os sistemas de gestão administrativa com os bancos adquiridos. Operações internas realizadas pelas áreas de tesouraria e recursos humanos, por exemplo, já estão funcionando de maneira unificada. Agora, o próximo passo é integrar suas bases de correntistas e os serviços atrelados a esses clientes. A dificuldade, neste caso, é bem maior, porque a maior parte dos serviços bancários voltados ao cliente final está baseada em sistemas desenvolvidos internamente.

No Itaú-Unibanco, afirma Barros, uma bateria de testes de integração das agências vai começar no próximo semestre. O grupo Santander trabalha para que, no início do ano que vem, também sejam feitos os primeiros testes com uma base de dados já integrada ao Real. “Estamos correndo para construir um barco novo”, diz Prado. “Mas para entrar nele temos que fazer com que o barco velho continue flutuando.”

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