Reparação histórica tem de ser um compromisso do Brasil com povo negro

20 de Novembro é o Dia Nacional da Consciência Negra, dedicado à reflexão sobre a importância do povo africano na formação da sociedade brasileira. Trata-se de um dos grandes temas nacionais que a democracia precisa discutir, porque a questão racial no Brasil não está resolvida.

Nessa data, em 1695, Zumbi, o líder do Quilombo dos Palmares, foi morto em combate numa emboscada na Serra dos Dois Irmãos, em Pernambuco, na defesa da liberdade de seu povo. Os quilombos representavam uma resistência organizada ao sistema escravista das classes dominantes e também uma forma coletiva de reproduzir, aqui no Brasil, o sistema de vida comunitária africana.

Em 1888 os escravos foram libertados como um grande favor real, e as elites não quiseram aceitá-los como força de trabalho assalariada. Para elas, se não podiam ser escravos que se danassem e fossem expulsos das fazendas, caindo no mundo sem qualquer auxílio, sem uma política social que lhes desse suporte.

Ao contrário, as elites conservadoras, insensíveis como sempre, preferiram montar uma operação descaradamente racista, promovendo a imigração de populações miseráveis da Europa para branquear a raça e “civilizar” o país, porque os negros não eram considerados seres humanos, mas res, coisa, mercadoria, que em média se degradava em oito anos de trabalho duro nos engenhos e que periodicamente precisava ser substituída a preços altos, perpetuando o crime hediondo do tráfico negreiro.

Libertos do cativeiro, das senzalas, foram atirados, sem qualquer política de Estado, na escravidão do preconceito, e seus descendentes permanecem em grande parte, até hoje, nas calçadas das metrópoles, nas sub-habitações das favelas, sofrendo com a criminalização racial por parte das polícias, com a desigualdade salarial e de oportunidades fazendo parte dos baixos índices das estatísticas que medem o desenvolvimento humano.

A ideologia racista é um problema histórico da sociedade brasileira. Para vencê-la é preciso, antes de tudo, reconhecer a sua existência e as suas formas disfarçadas no mundo globalizado contemporâneo. Merece destaque histórico o gesto do ex-presidente Lula quando, em visita feita há poucos anos à África, ainda no exercício do mandato, pediu perdão aos africanos, em nome da nação brasileira, pela barbárie do tráfico de escravos.

Os movimentos sociais, tendo à frente os sindicatos de trabalhadores, precisam agregar às suas bandeiras o compromisso com a reparação histórica, refletindo e apontando ações que diminuam a desigualdade e eliminem a discriminação, que pode começar com a simples fiscalização do ensino da História da Cultura Afro nas escolas brasileiras, uma lei que não vem sendo cumprida.

Os sindicatos têm avançado neste processo e levado governos a tomar medidas práticas como a inserção do negro no mercado de trabalho, com a criação de cotas a serem implantadas no serviço público, sem prejuízo da meritocracia. Na Educação, a política provisória das cotas raciais para acelerar o ingresso de negros nas universidades e o reconhecimento de mais terras dos quilombolas são vitórias que começam a surgir. Mas ainda é pouco se considerarmos as péssimas condições sociais em que este coletivo se encontra, em razão dos crimes praticados em nossa História contra seus antepassados.

Na vida é preciso combater o bom combate e a reparação histórica tem de ser o foco de uma política de Estado, e não de governos, que oscilam ao sabor dos interesses partidários.

Esta é uma luta que vale a pena ser lutada.

Vou dedicar minha vida a esta causa.

Almir Aguiar
Presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram