“Não entendi ainda o não cumprimento dos itens de seguro debitados em conta. Nossa meta não é 100% e sim 150%, e tem alguns que nem 100% ainda alcançaram! Está faltando alguns esclarecimentos para vocês. Ou vocês acham que estou brincando? Aguardo hoje meta cumprida de todos que não chegaram aos 100%, não aceito desculpas. Gerente não ter cumprido meta de venda de 5 seguros, isso não existe! Hoje, 14 de abril, ainda não conseguiram cumprir os seus orçamentos do mês? O que foi combinado em reunião?”
O texto acima foi enviado ao Sindicato dos Bancários de Campos de Goytacazes, no Estado do Rio de Janeiro, anonimamente e reproduz a fala do gerente geral de uma das agências do Itaú no município. A prática de assédio moral se intensificou no último ano, em conseqüência da fusão entre Itaú e o Unibanco.
Em resposta à denúncia do bancário, o sindicato realizou manifestação em frente à unidade do banco no Pelinca, bairro elegante da cidade. A entidade levou para a rua o carro de som e fez corpo a corpo com bancários e com a população esclarecendo sobre as metas impossíveis e o assédio moral.
Durante o ato foi distribuído um panfleto reproduzindo a fala do gestor. Manifestações semelhantes serão realizadas ao longo de toda a semana e até o próximo dia 28 em todas as agências do banco na base da entidade.
A pressão sobre os funcionários está chegando a níveis insuportáveis. “Têm acontecido trocas de gerentes da área comercial entre o Itaú e o Unibanco e isto está aumentando o assédio moral. Está sobrando gerente, eles estão dando cabeçadas uns nos outros. Cada um quer mostrar eficiência para manter seu emprego e isso faz com que pressionem cada vez mais seus subordinados”, relata Iraciny da Veiga, diretora de Bancos Privados da Federação dos Bancários do RJ-ES.
O aumento do assédio com as fusões não é novidade no Itaú. “Foi assim na incorporação do Banerj e, mais tarde, com o Bemge. Os funcionários destes dois bancos sofreram muita pressão e a maioria acabou sendo demitida. Hoje, os bancários oriundos do Banerj e do Bemge que continuam no Itaú são os que adoeceram e têm estabilidade garantida pelo acidente de trabalho”, relata Iraciny.
Mesmo com todos os esforços do movimento sindical no combate à prática, todos os bancos ainda insistem nas metas inalcançáveis e nas pressões exageradas e o Itaú é um dos que se destacam. “Não dá mais para conviver com o assédio moral neste nível. Há dez anos o fim do assédio é um dos temas de nossa campanha salarial, já houve mesa temática com a participação dos banqueiros, já foi distribuída uma cartilha sobre o tema. Mas, para o Itaú, pelo jeito, nada adiantou”, relembra Rafanele Alves Pereira, presidente do Sindicato.