Depois de ficar cinco minutos detido na porta giratória da agência Amaral Peixoto do Banco Real, em Niterói, um agente da PF deu voz de prisão ao vigilante Damião de Oliveira. O dirigente do Sindicato dos Bancários de Niterói e Região Waldemiro Silva estava passando perto da agência no momento e presenciou o ocorrido. Quando ele chegou, uma viatura da Ronda Bancária da PM estava no local. O sargento da PM, que fazia a ronda naquela manhã, percebeu um tumulto na entrada da agência e parou para verificar. O agente da PF, que se identificou como Amaral, se irritou por ter que aguardar até que o subgerente Flávio Nunes chegasse à entrada da unidade e desse autorização para Damião liberar a porta. Assim que entrou na agência, Amaral sacou da arma e a apontou para o peito do vigilante. Neste momento, o sargento da PM conseguiu entrar e tentou apartar, colocando-se entre o vigilante e o policial federal. Amaral não baixou a arma, mantendo-a apontada para o peito do policial militar. Em seguida, o agente da PF deu voz de prisão ao vigilante, algemando-o com violência, a ponto de ferir seus pulsos. O subgerente e o sargento da Ronda Bancária foram intimados a comparecer à delegacia. Amaral chamou reforços e levou o vigilante algemado, na caçamba do camburão, mais o subgerente no carro. O sargento PM seguiu em sua própria viatura.
O gerente-geral da agência e alguns bancários foram para a delegacia da Polícia Federal prestar solidariedade ao segurança, que já trabalha na agência há muitos anos e é querido por todos. A presença de dirigentes do Sindicato dos Bancários de Niterói foi notada, já que Waldemiro, que presenciou a cena, e outros dirigentes se encaminharam para a delegacia a fim de acompanhar a situação.
O grande problema do caso é que o vigilante não fez nada além de sua obrigação. A legislação proíbe expressamente a entrada de pessoas armadas em agências bancárias e não faz exceção a policiais ou membros das forças armadas. As únicas pessoas autorizadas a portar armas nas dependências de unidades bancárias são os vigilantes. Já houve outros casos em que seguranças de bancos receberam voz de prisão por impedir a entrada de policiais armados. “A PF elabora um plano de segurança que exige dispositivos como a porta giratória e a presença de vigilantes, mas este tipo de coisa acontece. Estão indo na contra-mão do que eles mesmos determinam”, analisa Waldemiro.
Revolta e generosidade
A grande surpresa foi a presença, na delegacia, de dois advogados, contratados por um cliente que assistiu à prisão do segurança. O cliente ficou revoltado com a arbitrariedade do policial federal e informou que pagaria os honorários advocatícios para a defesa do vigilante caso ele viesse a precisar de acompanhamento.
Segundo reportagem do JB Online, alguns clientes teriam se assustado durante a confusão, pensando tratar-se de um assalto. O temor se justifica, já que Niterói, São Gonçalo e alguns municípios da Região dos Lagos têm apresentado alto índice de assaltos a agências, seqüestros de bancários e roubo de caixas eletrônicos.
Responsabilidades
O UNIDADE entrou em contato com o departamento de Relações Sindicais do Real, em São Paulo, para apurar a atuação do banco. Fabiana Ribeiro informou que há uma unidade de Segurança Bancária do banco no Rio de Janeiro e que o responsável se dirigiu à delegacia para ajudar a resolver o problema. De fato, dirigentes do Sindicato dos Bancários informaram que um funcionário da administração do banco – que, a princípio, achava-se que era um advogado – foi ao local. Segundo Fabiana, o vigilante não ficou preso e voltou a seu local de trabalho no mesmo dia. Ela ressaltou, ainda, que as providências legais em favor do vigilante Damião de Oliveira são da responsabilidade da empresa de vigilância para a qual ele trabalha.
Segundo reportagem do JB Online, Amaral teria se queixado de constrangimento ao ser detido pela porta giratória e teria informado que pretende processar o banco por danos morais.
