Valor: Itaú Unibanco inicia enxugamento

Valor Econômico
Vanessa Adachi, Tatiana Bautzer e Ana Paula Ragazzi, de São Paulo

Um dia depois de o Banco Central aprovar na quarta-feira passada a união dos bancos Itaú e Unibanco, funcionários receberam um telefonema gravado pelo presidente do banco, Roberto Setubal. Na mensagem, ele comunicava que a fusão estava começando e conclamava todos a colaborar. Na sede do Unibanco, balões azuis e laranja, as cores do Itaú, foram colocados em todos os andares para comemorar a união com o antigo rival.

O que a mensagem otimista e os balões festivos não deixavam transparecer é que também tinha início o processo de ajustes na estrutura de funcionários do novo banco. Decisões já estavam tomadas, mas a execução aguardava o aval do BC para a transação.

Os cortes começaram por áreas onde os salários são mais altos e a sobreposição de equipes, maior: as corretoras de valores e os bancos de investimento e atacado. Esses segmentos foram duramente atingidos pela queda de atividade no mercado de ações e de dívida e demandariam um enxugamento natural, que foi aprofundado devido à duplicidade de estruturas. Nessas áreas, houve uma clara predominância das equipes originárias do Itaú BBA, em detrimento do Unibanco.

No Itaú BBA, o banco de atacado que agora também engloba a corretora, as demissões começaram a ser comunicadas na sexta de manhã. Da equipe de 30 analistas da corretora Itaú, cerca de metade foi cortada. A funcionários desligados, foi oferecido um pacote de remuneração, de alguns salários e mais um bônus. Mas o enxugamento é maior quando considerada também a equipe do Unibanco. Segundo uma fonte que acompanhou de perto os cortes, a somatória de analistas de Itaú e Unibanco resultaria num time de 50 a 60 pessoas. Depois dos cortes, restaram cerca de 25 apenas, ou seja, menos que a equipe original do Itaú, que era de 30 analistas. Os balões colocados no Unibanco destoaram completamente do clima de demissões e, segundo relatos feitos ao Valor, pessoas deixavam o banco chorando, enquanto outras descontavam a frustração estourando os balões.

Na própria sexta, o Itaú BBA confirmou, em nota, “aproximadamente” 100 demissões, entre banco de investimento e corretora. Mas a nota não esclarece se os números incluem o Unibanco.

O banco de investimentos do Unibanco, que estava em estágio de montagem, desaparece com a fusão. Eleazar de Carvalho Filho, que havia sido contratado em abril do ano passado para dirigir o Unibanco Banco de Investimentos, já se desligou da instituição e há informações de que teria acertado a recompra de parte do capital de sua gestora de ativos, a Iposeira, que havia sido adquirida pelo Unibanco. Carvalho Filho preferiu não comentar o tema.

Da equipe que havia sido contratada para o “investment bank” deve ficar Eduardo Gentil, que já dirigiu a Goldman Sachs no país e saiu do Credit Suisse para juntar-se a Carvalho Filho. Coube a ele fazer a demissão de praticamente todo o time na semana passada. Em alguns casos, executivos demitidos tinham contratos de dois anos e receberão a mesma remuneração que teriam caso continuassem trabalhando. A área de banco de investimento, incluindo a corretora, será comandada por Jean Marc Etlin, que já era do Itaú BBA.

Também na sexta circulavam informações de que cortes na seguradora do Unibanco e de diretores de nível médio do banco. As informações não foram confirmadas pela instituição.

A financeira do Itaú, a Taií, começou a passar por um enxugamento já no ano passado e, segundo apurou o Valor, deve ser fechada, já que a Fininvest, do Unibanco, é um negócio mais maduro e bem-sucedido. José Francisco Canepa, executivo que comandava a Taií, está de saída. Quem comandará a área de financiamento ao consumo e de cartões será Márcio Schettini, do Unibanco.

Uma área que deve passar por cortes menores é a de private banking, que ficou sob o comando de Celso Scaramuzza, vindo do Unibanco. O patrimônio somado dos dois bancos é de cerca de R$ 90 bilhões e aproximadamente 90 “bankers” cuidam das contas da clientela, número considerado adequado. O enxugamento deve ser feito no “back office” do private, além de cortes pontuais de executivos que tiveram um desempenho mais fraco em 2008.

Mas a maior incógnita são as demissões potenciais na área de varejo dos dois bancos. No total, o Itaú Unibanco tem cerca de 105 mil funcionários (números de setembro) e a maior parte deles na operação de varejo. Nos últimos anos, os dois bancos só aumentaram o quadro de funcionários, mas o cenário agora não é mais de crescimento. Desde que a fusão foi anunciada, Roberto Setubal tem afirmado que não haverá fechamento de agências e que os empregos serão poupados.

Mas pessoas ligadas ao banco têm dito a interlocutores que terá que ser feito um ajuste na estrutura de varejo. “Uma operação desse porte demanda redução de custos de 20% a 30% e a maior parte disso é corte de pessoal”, diz um experiente executivo de banco. Um corte no “back office” dos dois bancos é esperado. Há informações não confirmadas de um enxugamento de dez mil funcionários em áreas como recursos humanos, marketing, tecnologia etc.

Segundo a assessoria de imprensa do banco, a informação da presidência é que não existe um programa de desligamentos. Mas, também segundo a direção do banco, a rotatividade natural de funcionários nas duas instituições “fará boa parte do ajuste, ao longo dos próximos 2 a 3 anos”.

No Itaú, o “turn over” anual é de 5 mil a 6 mil funcionários. Ou seja, esse é o número de bancários que deixam a instituição espontaneamente e precisam ser repostos. Supondo que nos próximos três anos esses funcionários deixem de ser substituídos, poderia haver um enxugamento de 15 mil funcionários só no Itaú.

Na diretoria, a idade limite para aposentadoria no novo banco foi fixada 60 anos e essa medida já reduzirá o quadro de diretores do Itaú, onde o limite anterior era de 62 anos.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região está preocupado com a possibilidade de demissões em massa nos dois bancos e tem mantido negociações com a direção, diz Luiz Cláudio Marcolino, presidente.

Até o momento, diz ele, as demissões homologadas pelo sindicato no ano estão dentro da média de anos anteriores. Marcolino diz ter feito uma série de propostas aos bancos e que ainda tenta obter um compromisso por escrito de que não haverá demissões. Entre as propostas, está a de não renovar os contratos de estagiários que vencem. “Entre os dois bancos, há 4 a 5 mil estagiários, que acabam substituindo bancários.” Outra sugestão foi a de suspender contratações e, com isso, realocar funcionários internamente e evitar cortes.

Na sexta-feira, as notícias dos cortes de pessoal no Itaú Unibanco começavam a chegar ao sindicato. “Nosso receio agora é que comece a haver demissões de funcionários que não são bancários, como seguros, corretora e financeira. São áreas em que os sindicatos não são tão atuantes.”

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