Artigo de Andrea Vasconcelos: Vamos “exorcizar” o monstro do racismo

O racismo se constituiu ao longo da história e até os dias atuais como um dos elementos estruturantes das desigualdades sociais no planeta. Sua pior manifestação é a noção de superioridade e inferioridade entre os seres humanos, expresso num universo de atitudes, valores, temores e um ódio peculiar contra uma parte da humanidade a partir de seu fenótipo.

Contudo, dirigentes sindicais, ativistas e militantes não têm medido esforços para eliminar todas as formas de manifestação do racismo na sociedade, apontando caminhos rumo às ações afirmativas, cuja principal missão é corrigir distorções entre brancos e negros.

A categoria bancária protagonizou em sua última conferência nacional, em 2013, a aprovação da reivindicação que trata da contratação de 20% de negros/as no setor financeiro, com vistas a alcançar a igualdade. Essa iniciativa, que ocorreu inclusive antes da apresentação pela Presidência da República do PL nº 6.738/2013 de reserva de vagas de negros em concursos públicos, revela o pioneirismo e a maturidade da categoria com o tema.

Porém, os desafios permanecem e exigem muita ação sindical em 2014, pois teremos que “convencer” os banqueiros a convencionar nossa reivindicação, como exemplo concreto de compromisso e responsabilidade social com o povo brasileiro e, especialmente com a população negra, ainda marginalizada e segregada no mercado de trabalho. Portanto, vamos “exorcizar” o mostro do racismo na categoria, garantindo presença igualitária no setor financeiro.

Ações afirmativas para promover a igualdade no mercado de trabalho

A reserva de vagas para negros em concursos públicos (PL 6.738/2013) é uma iniciativa fundamental para corrigir as distorções raciais no mundo do trabalho, especialmente na composição dos cargos públicos “supostamente” neutros. O PL é uma medida efetiva para alterar o panorama desigual no serviço público, além de ser considerado em conjunto com a Lei de Cotas nº 12.177/2012 uma das ações afirmativas mais importantes no governo federal.

A aprovação do PL no Congresso abrirá um precedente positivo para sua extensão para o setor privado. Logo, bancários e categorias organizadas na CUT e nas demais centrais sindicais, em conjunto com o movimento negro e movimentos sociais, terão que acompanhar, pressionar e cobrar a sua imediata aprovação.

A presença, por exemplo, de mulheres negras no setor público é de somente 7,5% em nível federal. Esse espaço é ocupado por ampla maioria de homens brancos que, por sua vez, recebem melhores remunerações.

Para a população negra, o acesso ao mercado de trabalho é pressuposto para enfrentar a pobreza e a privação de recursos. Entretanto, a taxa de desemprego é mais elevada para as mulheres negras (12,5%), sendo que estas estão em maioria no trabalho doméstico, muitas sem registro em carteira de trabalho.

Na categoria, a participação das mulheres negras não é diferente. Pesquisa realizada pelo Sindicato dos Bancários de Piracicaba, que entrevistou 1.342 trabalhadores/as, revelou que deste universo somente 2,74% são mulheres negras contra 91,79% de mulheres brancas. Logo, é urgente corrigir essas distorções.

Educação não racista

Persistem as desigualdades quando comparamos negros e brancos. No quesito médio de anos de estudos, as distorções são de 7,1 anos entre 1992 e 2012. E, mesmo quando o dado está equalizado, a população negra segue em desvantagem. Trabalhadores com 12 anos de estudo têm rendimento médio equivalente a 66% daquele auferido por homens brancos, com a mesma escolaridade.

Dados da PNAD de 2012 revelam que as mulheres negras têm rendimentos de 40% do rendimento dos homens brancos. A explicação vem da segregação racial nos papéis relativos às carreiras, posição na ocupação, setor de atividade e nível hierárquico que colocam negros/as nos lugares de menor valorização do trabalho.

Na categoria bancária foi detectado que 48,48% das vagas do setor são ocupadas por mulheres (RAIS, 2010). Mas, a participação das mulheres negras não chega ao percentual de 10% incluindo bancos públicos e privados.

No tocando à educação, o I Censo da Diversidade revelou que as mulheres com o mesmo nível de escolaridade ganham menos que os homens e, conforme aumenta a formação (mestrado e doutorado), as desigualdades são uma afronta, chegando a mais de 50%.

Está na hora de transformar essa dura realidade, eliminar a discriminação racial e garantir oportunidade de oportunidades.

Andrea Vasconcelos
Secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT

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