As crianças não se odeiam, são “ensinadas” a odiar por “adultos” enfermos, adeptos de crenças e valores que representam a própria negação da Humanidade. Por isso os psicopatas se creem infalíveis em seus desígnios doentios, querendo impor a submissão a qualquer custo e negando ao outro até mesmo o direito de dizer não.
É isto o que vi no filme “O menino do pijama listrado” e, infelizmente, é o que estamos assistindo com os bombardeios de aviões e tanques a escolas, hospitais e até parques de diversão na Faixa de Gaza. Conforme a própria ONU, um terço das vítimas das bombas assassinas de Israel – boa parte made in USA – é composta por crianças, muitas mortas em suas incubadoras. Outras no colo das suas mães, fugindo de mãos dadas com seu pai ou simplesmente jogando futebol na praia.
Mas volto ao filme do diretor Mark Herman, adaptado do livro de John Boyne. Falando de um tempo em que os carrascos de hoje eram as vítimas, retrata a amizade de dois meninos: um judio, preso com seu pai no campo de concentração; o outro, filho do oficial nazista, comandante do “clube de lazer” – como eram retratados esses centros de terror pela máquina de propaganda de Hitler e Goebbels.
Quando o pai judeu desaparece, o filho pede ajuda ao amigo alemão que arruma uma pá, cava por debaixo da cerca que os separava e veste o pijama listrado justamente no momento em que mais uma leva de seres humanos era enviada à fornalha.
Somente ao ver que seu menino foi confundido e carregado para incineração, o pai, carrasco de tantas crianças, tem a noção do que está acontecendo. E em meio à fumaça fúnebre dos fornos crematórios, tudo termina.
Neste momento de intensa dor e perplexidade, onde levantamos em alto a bandeira da solidariedade ao povo palestino, mais do que estranheza, causa repugnância a forma covarde com que alguns pretendem esconder – e justificar – o terrorismo de Estado praticado por Israel. Assim, tentam rotular como “antissemitas” a todos os que não endossam suas teses, desconhecendo inclusive que os palestinos são povos semitas, pois árabes e hebreus compartilham as mesmas origens culturais.
Assim como o fim imediato dos bombardeios, urge que seja dado ao povo que habita a Palestina há milhares de anos o direito de ter o seu Estado, algo que lhe é negado – desde 1948 – quando foi criado Israel. Afinal, como pode um povo viver confinado em bantustões, ao estilo do regime de segregação racial na África do Sul, sem qualquer autonomia, com os rios desviados, com a energia roubada, enquanto os assentamentos de colonos ultraortodoxos israelenses crescem a cada dia, armados até os dentes, erguendo um muro sem fim? E as centenas de milhares de refugiados palestinos a quem é negado o direito ao retorno? É esta somatória de fatores mais do que cruéis o que provoca e vitamina a violência.
Como a velha indústria armamentista americana e europeia vê nos crimes de guerra praticados por Israel uma fonte inesgotável de lucros, sua diplomacia e sua mídia têm atuado como cúmplices, empenhadas que estão em sustentar a tese de que é o Estado sionista quem estaria sendo atacado.
Diante de tais fatos, causa indignação e revolta a declaração do cônsul geral de Israel em São Paulo, Yoel Barnea, quando defende “a existência de dois Estados para dois povos e na constituição de um Estado palestino, ao lado de Israel”. Afinal, quem está sendo um obstáculo à criação do Estado palestino, que resultaria em paz e prosperidade para os dois povos? É o próprio Estado de Israel.
Resoluções da ONU, durante décadas, condenam as práticas do Estado sionista sem que seus sucessivos governantes tenham se inclinado a respeitá-las. Portanto, a conquista da paz só será possível com o mais amplo boicote comercial e militar a Israel, nos mesmos moldes do que foi feito contra o apartheid sul-africano. Sem fecharmos a torneira, o sangue de inocentes continuará escorrendo. Na Palestina e em Israel.
João Felício, presidente da CSI
Antônio Lisboa, novo secretário de Relações Internacionais da CUT