Salvador tem maior população negra do País e é a mais discriminada

Romulo Faro
Editor do Bahia 247

Salvador terá muitos eventos em comemoração ao Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira (20). Mas na prática, os negros que vivem no estado e na cidade que detêm maior concentração de pessoas da raça africana em sua população não tem muito que comemorar.

Iniciativas pontuais do poder público marcam alguns avanços para os negros na luta pela igualdade na cidadania, mas Salvador, até ironicamente, ainda é uma cidade considerada racista por especialistas.

O bairro da Liberdade, na periferia da capital baiana, é o maior em número de negros em toda a América Latina. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 75% dos habitantes são negros.

Salvador é o verdadeiro centro da cultura afro-brasileira. Dados divulgados pelo IBGE em 2010 revelam que a maior parte da população é negra ou parda na Região Metropolitana (RMS), 51,7% da população (1.382.543). A capital baiana é cidade com maior número de descendentes de africanos no mundo, seguida por Nova York, majoritariamente de origem iorubá, vindos da Nigéria, Togo, Benim e Gana.

Ainda de acordo com o censo do IBGE de 2010, a região brasileira com maior número proporcional de negros na população é a Nordeste e a Bahia apresenta maior proporção de negros na população, com 14,4% de negros.

Violência

Infelizmente a Bahia se destaca em mais um aspecto negativo em nível nacional contra os negros. Estudo divulgado nesta terça-feira (19) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta a Bahia na quinta posição em perda de expectativa de vida para homens negros.

Dado é apresentado no trabalho “Vidas Perdidas e Racismo no Brasil”, que coloca também o estado na sexta posição em homicídios contra negros em todo o país, com um percentual de 47,3 para cada cem mil pessoas, enquanto entre os não negros o índice é de 11,3 para cem mil. No caso de perda de expectativa de vida para não brancos, a Bahia fica na 18ª colocação.

Estudo calcula impactos de mortes violentas (acidentes de trânsito, homicídio, suicídio, entre outros) na expectativa de vida de negros e não negros, baseados no Sistema de informações sobre Mortalidade (SIM/MS) e no Censo Demográfico do IBGE de 2010.

No mesmo período, enquanto a taxa de homicídios de negros é de 36 mortes por 100 mil negros em todo país, a mesma medida para os não negros é de 15,2. Para cada homicídio de não negro, são assassinados outros 2,4 negros.

Ainda de acordo com o levantamento, entre 1996 e 2010, foi constatado que não só características socioeconômicas, a exemplo de escolaridade, gênero, idade e estado civil, são determinantes em mortes violentas, mas também a cor da pele. A pesquisa diz que a vítima “quando preta ou parda, faz aumentar a probabilidade do mesmo ter sofrido homicídio em cerca de oito pontos percentuais”.

Mapa da Violência 2012, divulgado em outubro último pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, revelou que 5.069 afrodescendentes foram assassinados no maior estado do Nordeste em 2010. Número representa aumento de 300% em comparação a 2002.

Salário dos negros é menor do que dos não negros

Estudo recente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revelou a desigualdade no mercado de trabalho em Salvador. Segundo a pesquisa, o salário médio dos negros chega a ser 36,1% a menos do que os trabalhadores não negros.

Ainda de acordo com o Dieese, em Salvador, em 2012, o rendimento médio real dos ocupados negros diminuiu (3,2%), enquanto o dos não negros permaneceu relativamente estável (-0,1%). Os valores desses rendimentos passaram, entre 2011 e 2012, de R$ 1.077 a R$ 1.043, e de R$ 1.727 para R$ 1.726,00, respectivamente. Os homens negros registraram a maior perda de rendimento (de R$ 1.230 para R$ 1.179) no período analisado.

Melhorias

Como dito acima, a busca por melhoria de vida dos negros e ações que lhes garantam igualdade ainda são pontuais. Em âmbito municipal, avaliações de especialistas dão conta de que o prefeito ACM Neto (DEM), no cargo há 11 meses, parecer ter vontade de diminuir os índices de desigualdade.

Exemplo das ações do prefeito democrata é o decreto baixado no início de sua gestão proibindo o racismo institucional. Se um servidor desrespeitar um colega negro será exonerado do cargo e responderá a processo por racismo na justiça civil.

Por parte do governo do estado, embora também haja ações ‘pontuais’, os avanços ainda são considerados muito superficiais.

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