Valor Econômico
Vanessa Adachi e Maria Christina Carvalho, de São Paulo
O Banamex, segundo maior banco mexicano, controlado pelo problemático Citigroup, está na mira do recém-criado Itaú Unibanco, que tem uma estratégia declarada de expansão internacional. Envolto numa crise de liquidez profunda e prestes a receber uma injeção de recursos do governo americano que passaria a ser o seu maior acionista, o Citi pode ser levado a desfazer-se de sua bem-sucedida operação mexicana.
E isso parece ter aguçado o interesse do Itaú Unibanco. O banco brasileiro já estaria se mexendo para fazer parte do processo caso o Banamex seja mesmo levado à venda, dizem pessoas familiarizadas com o assunto. Mas não há ainda negociação em curso, afirmam essas fontes.
Ao Valor, o presidente executivo do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, confirmou ter interesse no Banamex. Mas negou que já houvesse alguma negociação em torno da compra. De acordo com ele, o banco quer estar presente no México como parte do projeto de ser um banco internacional. “De prático não há nada. Se o Banamex for colocado à venda, vamos examinar”, afirmou Setubal. “Não há nada de concreto a respeito. Mas, se houver alguma oferta relevante, que adicione valor e seja um risco possível de entender, vamos examinar”, reforçou o presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles.
O preço relativamente elevado do Banamex e o fato de o Citi quase que certamente querer o pagamento em dinheiro não assustam Setubal. “Não é nada que não esteja ao nosso alcance”, afirmou.
Estimativas feitas por banqueiros de investimento indicam que o Banamex poderia valer entre US$ 9 bilhões e US$ 12 bilhões. Em 2001, o Citi pagou US$ 12,5 bilhões para comprar o banco mexicano. Ao Citi, só interessa agora receber o pagamento em dinheiro, para ajudar a fechar o buraco em suas contas. Trocar o Banamex por participação acionária num banco brasileiro não faria sentido. “O Itaú Unibanco tem recursos próprios para parte do negócio e facilmente conseguiria levantar o restante”, diz um executivo de banco.
Segundo Setubal, é natural para o Itaú Unibanco investir na expansão pela América Latina dentro do projeto de ser um banco global. Um dos motivos é a proximidade cultural. Outro é o fato de já possuir instituições na Argentina, Chile e Uruguai. O Itaú Unibanco tem sido lembrado por analistas como eventual interessado também em outro banco mexicano, o Banorte, controlado por capital local.
Moreira Salles afirmou que tudo depende do que o governo americano decidirá em relação ao Citi. Se converter a participação que já possui em ações ordinárias, conforme se espera, o Citi pode ser forçado a vender as operações no México porque a legislação mexicana proíbe que um banco tenha mais de 10% de participação de um governo estrangeiro. Citi e Banamex têm negado continuamente a intenção de vender a instituição mexicana.
Mas pode ser que, mesmo que não assuma o controle, o governo dos EUA determine à administração do Citi que se desfaça de mais ativos, como já ocorreu com a corretora Smith Barney, vendida ao Morgan Stanley. No Brasil, a fatia de 17% que o Citi possui na processadora de cartões Redecard acaba de ser colocada à venda, em oferta pública de ações a investidores qualificados. Se bem-sucedida, a venda pode render entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões.
Hoje, os ativos do Citigroup claramente valem mais separadamente do que dentro do grupo. O valor do Citi em bolsa ontem era US$ 13,4 bilhões, pouco menos do que o grupo poderia obter apenas pelo Banamex. Os valores de mercado de Unibanco e Itaú somados chegam a US$ 33,4 bilhões.
Mas mesmo que o Citi, pressionado pelo governo americano, decida vender o Banamex, ou ainda que a legislação mexicana obrigue-o a desfazer-se do negócio, a equação para o Itaú Unibanco não é simples.
Primeiro porque, embora tenha a estratégia clara de se internacionalizar, a integração entre as operações do Itaú e do Unibanco apenas começou e os investidores ainda querem ver os resultados dela. O “timing”, portanto, não parece ser o melhor. Por outro lado, o Banamex surge como uma grande oportunidade de ingressar em um mercado estrangeiro com uma posição dominante. Com mais de 3 mil agências bancárias, o Banamex só perde em tamanho de ativos para o BBVA Bancomer.
O ímpeto do Itaú Unibanco pode esbarrar ainda no interesse do governo mexicano em que um eventual comprador do Banamex tenha capital nacional.
Segundo uma fonte, o Itaú Unibanco poderia buscar como aliado o diretor-presidente do Banamex e coordenador das operações do Citi na América Latina, Manuel Medina Mora. Ele e Roberto Setubal têm um bom relacionamento. Mas Mora tenderia, preferencialmente, a se aliar a investidores de capital mexicano. Ele e os antigos donos do Banamex, Alfredo Harp e Roberto Hernandéz (conselheiro do Citigroup) estariam articulando um grupo com esse objetivo. Segundo a imprensa mexicana, outro grupo local com interesse no Banamex seria liderado pelo magnata das telecomunicações Carlos Slim, dono do banco Inbursa.