O banco Real deu uma demonstração de desrespeito com a representação dos trabalhadores na rodada de negociação ocorrida nesta quarta-feira, dia 2, com a Contraf/CUT.
Os trabalhadores voltaram a reivindicar do banco a abertura de negociação sobre garantia de emprego para os funcionários durante a efetivação do processo de fusão com o Santander. Para isso, protocolaram pedido da Contraf/CUT de que fossem repassadas aos trabalhadores diversas informações essenciais para o processo negocial, garantindo o cumprimento dos princípios da OCDE e o dialogo social.
O RH do banco se esquivou de afirmar ou dar qualquer garantia aos trabalhadores, alegando também estar em compasso de espera, e admitiu não poder passar as informações que os funcionários gostariam de ter agora. A justificativa é que a fusão não está oficialmente concretizada internacionalmente: ela depende da emissão de uma Declaração de Não Objeção (DNO) pelo Banco Central holandês. Nessas circunstâncias, a empresa só poderia divulgar as informações oficiais, o que tem feito pelos seus canais internos.
A alegação, no entanto, se mostrou falsa poucas horas mais tarde. Uma mensagem no blog do atual presidente do Real e futuro do Santander, Fábio Barbosa, trazia uma série de informações sobre o processo, incluindo a criação de uma equipe de funcionários encarregada da transição e a criação de um Escritório de Integração. “O banco não teve a hombridade de dar essa informação na mesa de negociação e a divulgou pelos meios internos do banco. Isso é uma falta de respeito”, afirma Gutemberg de Souza Oliveira, diretor da Fetec-SP e membro da Comissão de Organização dos Empregados do Real da Contraf/CUT (COE Real). “Será esse o modelo de respeito, integridade e profissionalismo com o qual a direção do banco pretende conduzir as negociações?”, complementa o dirigente.
A postura do banco de negar informações aos trabalhadores se limita à América Latina. Na Europa, uma das cláusulas previstas em lei que condicionam a emissão da DNO pelo BC holandês é a garantia de negociação e efetivação de acordos com a representação dos trabalhadores. Lá as negociações estão adiantadas. “O banco argumenta que a lei brasileira não exige essa conduta. Isso e verdade, mas mesmo assim o certo seria o banco sentar-se com seus trabalhadores e negociar o futuro deles. Não é preciso haver uma lei que o obrigue a fazer o que é correto”, defende Orlando Puccetti, membro da COE Real e diretor do Sindicato dos Bancários do ABC. A DNO deverá ser emitida no dia 19 de julho.
“Mesmo por entendermos a complexidade do negocio, não é salutar que o banco postergue a negociação com os trabalhadores”, avalia Gutemberg. “Esperamos que não se repita a experiência que tivemos com a compra do Sudameris, quando só passamos a discutir após o banco ter tomado as decisões”, sustenta.
“Não queremos fazer negociação a partir de fatos consumados. Temos o entendimento, de uma conversa direta realizada com o presidente do banco, de que nenhuma mudança ocorreria sem processo de negociação. Acreditamos no diálogo e queremos que o banco mantenha o que foi dito anteriormente”, defende Marcelo Gonçalves, coordenador COE Real.
Informações escassas
“Enquanto aguardamos as aprovações dos reguladores, o jogo já começou.” A frase abre a mensagem de Fabio Barbosa, direcionada “pela primeira vez”, com lembra o presidente, aos funcionários de Real e Santander. O texto informa que um Escritório de Integração foi criado, sob a coordenação de Angel Agallano, reunindo funcionários dos dois bancos das áreas de Varejo, Produtos, Riscos, Processos e Comunicação. Uma outra equipe de cerca de 400 pessoas também está trabalhando para identificar as demandas de infra-estrutura tecnológica e de sistemas . Por fim, as áreas de Varejo, Atacado/Global Banking& Marketing (GB&M) e Empresas estão traçando planos estratégicos e comerciais para uma transição sem sobressaltos. “Não vejo o motivo que levou o banco a não divulgar essas informações na negociação de ontem”, questiona Gutemberg.
Enquanto o banco trabalha na “transição” nos altos níveis, nas agências os trabalhadores sofrem com a ansiedade e o medo por seu futuro profissional. Prova disso são os números de desligamentos do banco, dos quais mais de 30% são pedidos de demissão. “O banco está perdendo bons quadros e, conseqüentemente, clientes, o que não é bom para ninguém”, avalia Marcelo. Os principais motivos apresentados para os pedidos de demissão são a insegurança quanto ao futuro e a má fama do Santander, além de uma série de mudanças que vêm ocorrendo no cotidiano da empresa.
Dentre essas mudanças, está o aumento da pressão por metas, denúncia recebida pela Contraf/CUT de todas as bases. No entanto, o banco nega a alteração nas metas definidas em 2007 e afirma não haver orientação nesse sentido. “A negativa destoa da realidade, pois não é o que os trabalhadores têm enfrentado nos locais de trabalho. Orientamos os sindicatos a cobrar os gestores dessas agências, pois a ação deles não condiz com o que a direção do banco diz”, afirma Marcelo. O RH do Real afirmou ainda que não são verdadeiros os boatos de que a maior pressão se deveria a ingerências do Santander na gestão do banco.
Os trabalhadores solicitaram do banco um relatório detalhado sobre sua situação atual, com dados como número de empregados, demissões e contratações, rotatividade etc. “Precisamos que o banco nos coloque a par de como ele está hoje em números, para que possamos iniciar as negociações sobre garantia de emprego”, afirma Carlindo Abelha, diretor de Organização da Contraf/CUT.
O banco respondeu timidamente, divulgando alguns dados. O número de trabalhadores da empresa até o final de maio era de 32.402, o que representa uma pequena queda em relação a dezembro de 2007, quando eram 32.589. Isso representa uma mudança, já que o número vinha crescendo desde dezembro de 2006. Além disso, a rotatividade no banco foi de 11,5% em 2007, com previsão de 12,5% em 2008. “Reiteramos a necessidade de que o banco prepare um documento mais completo com essas informações, que ele inclusive já disponibilizava até 2006 de maneira detalhada”, lembrou Marcelo.
Os funcionários cobraram o fim das demissões, especialmente de funcionários próximos da aposentadoria, o que foi denunciado pelos sindicatos para a Contraf/CUT e pode ser constatado nas homologações. “As demissões recentes têm um perfil semelhante: mais tempo de casa, mais experiência e salário maior”, explica Gutemberg.
Os sindicalistas cobraram também mais contratações para suprir as necessidades das agências. O banco confirmou que continua em seus planos o projeto de abertura de novas agências em 2008, com novas contratações. Os investimentos serão direcionados para canais eletrônicos, principalmente telemarketing, call center e serviço de apoio ao cliente (SAC).
O banco afirmou ainda não ter nenhum plano de extinção do HolandaPrev, plano de previdência complementar do Real.
O representante do banco se comprometeu a levar todas as demandas à presidência do banco e aos diretores envolvidos. A Contraf/CUT solicitou uma nova reunião antes da Conferência Nacional, que ocorrerá entre os dias 25 e 29 de julho, para que o banco possa dar resposta aos pedidos não respondidos hoje.
Participaram da reunião representantes de Fetec-SP, Feeb RJ/ES, Fetraf MG, Fetec CN e Feeb RS, além da Comissão de Organização dos Empregados do Real da Contraf/CUT.