Camilla Veras Mota
Valor Econômico
Nos últimos anos, as incertezas em relação à recuperação da economia afetaram as contratações, os serviços criaram mais vagas do que os demais segmentos produtivos e cresceu a parcela de jovens que nem estuda nem trabalha, a chamada geração “nem-nem”. Antes de serem exclusividades do mercado de trabalho brasileiro, essas e outras características mostraram-se fenômenos mundiais, como aponta o relatório anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com as tendências globais para o emprego em 2014.
A entidade chama atenção para o aumento dos jovens “nem-nem”, ou, na sigla internacional, os NEET (neither in employment, nor in education or training) – aqueles que não participam do mercado de trabalho e tampouco estão ampliando sua formação e qualificação.
Entre 2007 e 2012, a proporção de pessoas entre 15 e 29 anos nesse grupo cresceu em 30 dos 40 países analisados. Na Irlanda e na Espanha, o percentual avançou em 9,4 e 8,7 pontos percentuais no período e passou de 20%, patamar considerado alto. Nesse sentido, a análise chamou atenção para o Brasil, em que a parcela chega a 18,4% e, entre as mulheres negras, a 28,2% (foram usados dados de 2009). “Jovens entre os NEETs podem ser menos comprometidos e menos satisfeitos com suas respectivas sociedades do que aqueles empregados ou que fazem parte do sistema educacional”, afirma o texto.
De acordo com a OIT, o desemprego bastante alto entre os jovens no mundo dificulta ou desestimula cada vez mais a entrada no mercado de trabalho – e essa poderia ser uma das razões do crescimento dos nem-nem lá fora. Entre 2012 e 2013, a taxa de desocupação entre jovens aumentou de 12,9% para 13,1% globalmente, contra 6% da média geral. E as estimativas da organização preveem que ela suba a 13,4% neste ano. No Brasil, economistas também têm observado o fenômeno, mas sem relação direta com o desemprego, que está baixo. Aqui, acredita-se que ele possa estar ligado ao avanço da renda média familiar, por um lado, e, por outro, ao aumento da gravidez entre jovens pertencentes a grupos sociais vulneráveis.
Além dos “nem-nem”, outras tendências recentes do emprego mundial observadas pela OIT também podem ser vistas no Brasil, entre elas o aumento da participação dos serviços na oferta de trabalho e o impacto das incertezas sobre o futuro da economia na contratação de novos empregados.
Em 2013, de acordo com a análise, muitos países não conseguiram coordenar suas políticas econômicas e adiaram decisões críticas que, combinadas à fraca demanda agregada, afetaram o apetite das empresas por novas contratações. Sem incentivos para investir, “as companhias podem escolher esperar por novas informações e por novos sinais antes de contratar”, avalia OIT. Ou, ainda, optar por empregar seu capital recomprando ações ou aumentando a distribuição de dividendos.
O relatório mostra, por meio de modelos econométricos, que há uma correlação direta entre a incerteza das empresas em relação ao futuro das políticas econômicas e a incerteza diante de novas contratações. No caso dos Estados Unidos, a incerteza adicionou 1,5 ponto percentual à taxa de desemprego entre 2007 e 2012, calcula a OIT.
Enquanto isso, mais da metade das 23,1 milhões vagas assalariadas abertas no mundo em 2013 ocorreu no setor de serviços. Em 20 anos, a participação desse segmento no estoque de empregos passou de 35% para 45%. A agricultura perdeu representatividade, passando de 43,6% em 1993 para 32% no ano passado. A indústria ainda conseguiu elevar a parcela, de 21,4% para 23%. No Brasil, por sua vez, os serviços geraram 49% do total de postos criados com carteira assinada em 2013, como mostram os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A indústria respondeu por 11,3% do total do saldo líquido de vagas celetistas no ano passado.
Duas grandes tendências negativas do emprego mundial, porém, não têm se manifestado no Brasil. Uma delas é o aumento do desalento, daqueles que, por estarem desempregados há muito tempo ou por não terem perspectivas de se inserir no mercado de trabalho, decidem deixar a população economicamente ativa. Em 2013, de acordo com a OIT, 23 milhões de pessoas estavam nessa situação no mundo, e a projeção é que, em 2018, o grupo tenha 30 milhões de pessoas. “O desemprego tem ficado mais persistente, embora agora seja mais o ritmo fraco de contratações do que a destruição de vagas que tem mantido as taxas altas”.
No Brasil, uma das medidas de desalento da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) mostra que esse fenômeno tem diminuído desde o início da série histórica, em 2002. A média entre janeiro e novembro de 2013 do total de pessoas que gostariam e estavam disponíveis para trabalhar e que não faziam parte da força de trabalho é 6,3% menor do que no mesmo período do ano anterior.
Outro ponto ressaltado pela organização foi o aumento da informalidade do emprego no mundo. Mais uma vez, o Brasil caminha na direção contrária, com aumento da geração de empregos formais. Em 2012, segundo dados da nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), a parcela de trabalhadores sem carteira assinada dentro do setor privado era de aproximadamente 25%. Na América Latina, segundo o relatório, a média é de 50%. O país foi um dos 26 entre 49 que conseguiram diminuir o trabalho informal na última década, aponta a OIT.