Assis Moreira
Valor Econômico – Genebra
O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, lançou um sinal de alerta sobre a “vulnerabilidade” da retomada da economia da zona do euro. A turbulência nos mercados financeiros e riscos geopolíticos podem pesar numa recuperação que continua frágil, desigual e com uma taxa de desemprego recorde.
A recessão na zona do euro não acabou, apenas atravessa uma pausa prolongada, concluiu um grupo de economistas europeus reunidos no Centre for Economic Policy Research (Cepr). No primeiro trimestre do ano, houve nova desaceleração na região. E o grupo de economistas, reunido para determinar a data de início e fim do ciclo econômico, avalia que o crescimento até agora na zona do euro tem sido tão fraco que não constitui evidência suficiente de que a região saiu mesmo da recessão.
Desde o começo de 2013, a zona do euro tem registrado um período longo de crescimento econômico de menos de 1%, e o desemprego recorde pouca mudou.
“A zona do euro pode estar experimentando desde o começo de 2013 uma pausa prolongada na recessão que começou após o terceiro trimestre de 2011”, diz o grupo que inclui Lucrezia Reichlin, ex-economista do BCE e hoje professora da London Business School.
O grupo evitar prever a duração do ambiente de recessão e ressalva que constatar que ela ainda não acabou tampouco reflete uma projeção negativa sobre o crescimento futuro das economias que usam a moeda comum europeia.
Outros economistas consideram, por sua vez, que o fraco crescimento do custo do trabalho na zona do euro reforça a evidencia de riscos de deflação na região. A queda no aumento de salários não tem sido confinado ao setor público ou às economias da periferia.
“O desenvolvimento no mercado de trabalho alimenta os riscos de deflação na zona do euro e reforça as pressões para o BCE fazer mais contra isso’, avalia Jennifer McKeown, de Capital Economics.
Conforme dados publicados na semana passada, o crescimento do custo da hora de trabalho na zona do euro passou de 1,6% (anual) no quarto trimestre de 2013 para apenas 0,9% no primeiro trimestre deste ano, representando a menor taxa desde que os custos do trabalho passaram a ser coletados, em 1999.
Levando em conta que o aumento da produtividade do trabalho na região foi de 0,8% no primeiro trimestre, o custo unitário do trabalho subiu apenas 0,15% no ano passado. Ao mesmo tempo, dados mais recentes sinalizam que a inflação pode cair ainda mais.
Em entrevista ao jornal holandês “Telegraaf”, Mario Draghi reiterou que o BCE não vê deflação, no sentido de ampla queda de preços que induz empresas e famílias a adiarem decisões de consumo e de investimento. “No entanto, vemos uma inflação baixa que persiste por um longo período. Se durar muito tempo, o ajuste nos países em crise torna-se mais difícil”, disse, em referência a competitividade e redução da dívida.
Uma pesquisa da Comissão Europeia mostrou também queda inesperada na confiança do consumidor europeu em maio, pondo fim a uma melhora de sentimento que vinha ocorrendo nos últimos dois anos e meio. Embora os consumidores estejam mais otimistas quanto às perspectivas econômicas e considerem que o pior da crise já passou, o gasto das famílias dificilmente voltará tão cedo ao nível de antes da crise.
Alem de a retomada do consumo continuar anêmica, os investimentos de empresas permanecem fracos e dificilmente retornarão a normalidade antes de 2015 ou 2916, acreditam analistas.
Nesse cenário, os lideres europeus entraram numa nova fase de discussões sobre se a União Europeia deve relaxar as regras de déficit e divida dos países.
A França acha que a meta de 3% de déficit precisa ser revista para dar espaço a medidas de estímulo ao crescimento. O ministro da Economia da Alemanha, o social-democrata Sigmar Gabriel, apoiou os franceses. Mas a premiê Angela Merkel avisou que as regras europeias não mudarão.