O setor imobiliário está entre os alvos prioritários do plano estratégico de investimentos para 2010 da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ). Maior investidor institucional do país, com R$ 133 bilhões em patrimônio e um superávit acumulado de R$ 38 bilhões, o fundo de pensão planeja ampliar de 2,8% para 5% seus investimentos em imóveis no ano que vem, afirmou o presidente da fundação, Sergio Rosa, em entrevista ao Valor. Rosa confirmou que deixa o comando da fundação em maio, quando termina o seu segundo mandato à frente da instituição.
A Previ pretende ainda inovar adotando critérios de sustentabilidade ambiental em seus investimentos. Segundo Rosa, riscos em termos de imagem e da própria sobrevivência do negócio serão considerados e cobrados das empresas que fazem ou poderão vir a fazer parte do portfólio de ações do fundo.
A Previ tem apenas um pequeno fundo que investe nesse segmento, mas, de acordo com Rosa, a grande preocupação da fundação como investidor é, olhando no médio e longo prazos, levar isso em consideração quando compra e vende ações.
A estratégia para o setor imobiliário significará um aporte de R$ 2,9 bilhões, já que hoje a fundação tem R$ 3,7 bilhões aplicados em empreendimentos imobiliários. O foco principal da Previ são conjuntos comerciais. As últimas aquisições foram no Edifício Parque Cidade, em Brasília, e W Torre Nações Unidas, em São Paulo. Imóveis residenciais também poderão entrar na carteira, não diretamente, mas através de fundos de investimentos que estão em análise.
De seu patrimônio, R$ 80 bilhões, correspondentes a 62%, estão investidos no mercado de ações e em participações acionárias em quase 70 empresas.
No entanto, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil precisa se desfazer de parte dos ativos de renda variável buscando o enquadramento não só na legislação, mas também em seu estatuto. No início de 2009, a Previ vendeu R$ 3 bilhões em ações, dos quais a maior operação (R$ 1,6 bilhão) foi a alienação da participação na Brasil Telecom.
Para o próximo ano, a política de desinvestimento em ações vai continuar, diz Sergio Rosa: “É uma política permanente do Plano 1 porque é um plano que paga aproximadamente R$ 6 bilhões em benefícios por ano e não tem mais contribuição. Então, precisamos juntar dinheiro para pagar benefícios.”
Constituído há 40 anos na forma de benefícios definidos (BD), o Plano 1 tem R$ 132 bilhões em patrimônio e foi fechado para novos participantes em 1997. Já no plano novo, o Futuro, no qual estão 57,7 mil participantes e apenas 281 assistidos (aposentados e pensionistas), a aposta no mercado acionário é considerada importante para engordar as reservas que só vão virar aposentadoria no longo prazo.
Os desinvestimentos mais notórios da carteira de renda variável da Previ são a Vale do Rio Doce e a Invepar.
A mineradora tem peso de 35% no portfólio de ações da fundação, enquanto na Invepar – empresa que opera concessões de transportes públicos – a Previ tem 50% do capital total. Os fundos de pensão não podem ter mais que 25% do capital de uma empresa e uma empresa não pode representar mais que 10% do patrimônio líquido de um fundo de pensão. A fundação tem que se enquadrar em Vale do Rio Doce e Invepar, mas Rosa diz “que tem tempo para isso, até 2014”.
A Previ tem R$ 30 bilhões aplicados na mineradora, equivalente a 15% do capital total da Vale. A fundação terá de reduzir essa exposição em R$ 17 bilhões, para ficar com R$ 13 bilhões, o que corresponde a 10% do seu patrimônio. Estes são valores de lançamento contábil e não de transação, esclareceu.
Sergio Rosa garantiu que “nem imagina desinvestir a totalidade do investimento na Vale”, mas que, quando vender a parcela do capital da qual tem que se desfazer, o candidato a sócio tem que cumprir alguns requisitos. Primeiro, ser alguém que “pague bem”; e segundo, que se componha com o grupo controlador.
“Queremos trazer alguém que contribua para o sucesso da empresa tal como ela está hoje, que agregue em termos de governança, estratégia ou parceria, não vamos trazer ninguém que possa prejudicar aquilo que está indo muito bem”, afirmou o presidente da Previ.
Também será reduzida a participação na Invepar, na qual a Previ chegou a ter 83% e já reduziu para 50%. O objetivo da fundação é chegar aos 25%, dentro do limite legal. Antes, porém, afirma Rosa, a primeira estratégia é fazer crescer a empresa onde tem como sócios a empreiteira OAS e os fundos Petros e Funcef. “Ela está muito bem posicionada, é preciso consolidar seu faturamento”, diz Rosa.
O presidente da Previ disse que 2009 foi um ano “excelente” para o fundo, com forte valorização do mercado de ações, que se recuperou de forma surpreendente da crise. “Todas as empresas foram bem. Para um ano que começou com nevoeiro que não permitia decidir se se saía de casa ou não, terminamos o ano muito bem.” Rosa não quer fazer previsões sobre o comportamento das ações para 2010. Mas diz acreditar no potencial de valorização dos papéis tomando por base o rendimento da carteira do fundo que, nos últimos dez anos, foi de mais de 1.200%.
A Previ está estudando uma revisão da meta atuarial de seu plano pela segunda vez. De 6% de juros anuais mais a variação do INPC, a meta foi reduzida para 5,75% e pode baixar ainda mais. Por enquanto, a fundação não deve exercer a prerrogativa aberta com a nova regulamentação para investimentos no exterior. “Não temos nenhuma decisão a não ser estudar melhor o assunto durante o ano de 2010.”
Rosa “se orgulha” de governança
VSD e JR
Rosa admite que, se a Previ quiser, poderá continuar como conselheiro da Vale. Mas não comenta rumores de mercado de que poderia assumir a função de presidente executivo da empresa, substituindo o atual CEO, Roger Agnelli.
Em rápido balanço dos sete anos de mandato, Rosa destacou o salto do patrimônio do fundo, R$ 43 bilhões para R$ 133 bilhões entre 2003 e novembro passado, a criação do Conselho Fiscal na instituição e a suspensão da contribuição de participantes e patrocinador ao plano de benefício definido, o Plano I, mais antigo e com o maior número de aposentados, graças a superávits acumulados.
Defensor ferrenho de uma participação ativa dos fundos nas empresas, também ressaltou durante sua gestão a atitude militante da Previ para introduzir princípios de governança nas companhias de cujos conselhos participa.
O padrão de governança da Previ virou um “selo” reconhecido pelo mercado, diz. “E isso veio para ficar. Somos hoje vistos pela maior parte do mercado como um sócio que contribui para melhores práticas das empresas. E muito me orgulho disto.”