Relatos de grevistas de bancos públicos e privados de São Paulo
Seja por saber que os bancos podem e devem pagar mais aos seus funcionários, ou porque não aguentam mais tanta pressão e sobrecarga no trabalho, milhares são os bancários que se enchem de disposição para fazer a luta ao lado do Sindicato.
“A greve é mais do que justa. A gente não pode aceitar o pouco que estão oferecendo. Depois, a gente se esforça tanto pra bater as metas, é tanta pressão! Tem muita gente adoecendo”, afirma uma bancária do Bradesco.
Para sua colega de banco, que também parou, “as reivindicações são justas. Temos de lutar por nossos direitos. Eles (os banqueiros) não dão nada de graça mesmo”.
Um empregado da Caixa relata a animação ao sair da assembleia na Quadra, pronto para a luta. “Ontem mesmo (segunda 29), eu e mais dois companheiros colocamos faixas e adesivos de greve em dez agências na zona leste. Antes de ir para a assembleia, que definiu pela paralisação, passamos na regional leste do Sindicato e pegamos o material. Agora que vejo essas agências paradas, a sensação é de dever cumprido. A greve é nosso último mecanismo. Teve um processo de negociação e os banqueiros desrespeitaram os trabalhadores, insistindo em não fazer nada para valorizar o bancário que é o responsável pelos seus lucros.”
Um bancário de agência do Santander na zona sul lembra que todos sabiam que a greve ia começar. “Mas ficamos surpresos com todo mundo da agência parar, logo no primeiro dia. No ano passado paramos, mas foi depois da greve já iniciada. Hoje só o gerente-geral está lá dentro para cuidar da compensação. Sinto que estamos mostrando força. Nós, que estamos do lado de cá, sabemos que tem que ser dessa forma, infelizmente. Só assim os banqueiros vão nos ouvir”.
Um bancário do Itaú, na Paulista, queixava-se das metas como o maior problema enfrentado nos locais de trabalho, motivação a mais para paralisar as atividades e aderir à luta (leia mais na página 4). “A greve é válida, é justa para sermos respeitados.”
Primeira vez
Um atendente do SAC do BB conta que essa é a primeira greve que faz. “Eu estava em dúvida se ia aderir ou não. Depois que vi a proposta dos bancos, decidi participar. Sou sindicalizado e penso que só minha participação pode valer alguma coisa. De 40 trabalhadores, se três entraram no prédio foi muito.”
Na Central de Atendimento do Banco do Brasil o movimento também está forte, informa um atendente. “São aproximadamente 800 pessoas no prédio e soube que 80% pararam. Acho que tende a crescer, com mais adesão. Participei de todas as greves. Nada é de graça. E vou continuar porque a proposta foi insuficiente.”
Clientes
Danilo Machado, correntista do Bradesco, compreendeu o motivo da greve ao ser informado do reajuste oferecido pelos bancos. “Acho que deve ter um movimento como esse. Os bancos ganham muito em cima dos trabalhadores e das tarifas cobradas. O que eu acho injusto é que os clientes também paguem por esse impasse, sendo que poderiam resolver em negociações.”
Outra cliente que mostrou sua indignação foi a auxiliar de escritório Soraia Lima. “Acho justo fazer greve. Aliás, queria ter um sindicato assim para me defender também, mas quem paga o pato também é a gente. Todo ano é isso. O atendimento já é ruim porque falta funcionário. Cobrar tarifas os bancos sabem fazer. Agora eles precisam aprender a respeitar os clientes.”