Apesar da inadimplência e a desaceleração do crédito serem consideradas pelo Itaú Unibanco como principais fatores que afetaram os resultados da instituição, o semestre foi fechado com lucro líquido de R$ 4,586 bilhões.
A estratégia da instituição se manteve em aumentar as provisões que asseguraram a expansão da margem e do resultado bruto da intermediação financeira, que passou de R$ 12,7 bilhões para R$ 13,9 bilhões entre o primeiro semestre de 2008 e igual período deste ano.
Leia abaixo a matéria publicada pelo Jornal Valor Econômico
Inadimplência sobe e reduz lucro do Itaú
Valor Econômico
Maria Christina Carvalho, de São Paulo
A inadimplência elevada e a desaceleração do crédito afetaram os resultados do Banco Itaú Unibanco no primeiro semestre. O banco teve lucro líquido de R$ 2,571 bilhões no segundo trimestre, acumulando R$ 4,586 bilhões no semestre, 17,8% a menos do que em igual período de 2008. O retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado ficou em 20,2% (um ano antes foi de 26,7%).
O diretor financeiro do Itaú Unibanco, Silvio de Carvalho, prevê que a inadimplência atingirá um pico neste terceiro trimestre, exigindo provavelmente mais provisões, estabilizando-se em seguida no fim do ano, com a melhoria do cenário econômico. “Tudo leva a crer que a crise já passou no Brasil, e que o país será um dos primeiros a se recuperar”, afirmou Carvalho, acrescentando que o banco trabalha com a perspectiva de mais um corte de meio ponto na taxa Selic, para 8,25% ainda neste ano e sua manutenção neste patamar no próximo ano, e com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4% em 2010.
As ações preferenciais do Itaú Unibanco caíram 4,07 % ontem, para R$ 34,61, dia em que o índice Bovespa recuou 1,88%. Segundo avaliação da corretora Ativa, o resultado veio em linha com o esperado mas foi considerado fraco em termos de retorno e margem financeira, afetada pela queda dos juros e inadimplência maior.
Os ativos totais do Itaú Unibanco fecharam em R$ 596,387 bilhões em junho, 15% a mais do que em junho de 2008 mas 4,5% abaixo de março. A carteira total de crédito, incluindo avais e fianças, fechou em R$ 266 bilhões o semestre, com expansão de 15,1% sobre junho de 2008, e queda de 2,5% sobre março.
Carvalho atribuiu o recuo dos ativos e do crédito ao impacto do câmbio nas operações em moeda estrangeira. Ele afirmou que o banco não se importa se isso fizer o Banco do Brasil (BB) tomar do Itaú Unibanco a liderança do mercado. “Não estamos querendo ser o líder absoluto. Nossa posição é continuar competindo, atender clientes e focado em rentabilidade.”
A carteira de crédito em moeda estrangeira encolheu 18,7% no segundo trimestre; já as operações em moeda local cresceram 1,4%.
Segundo Carvalho, a carteira de crédito livre para pessoa física, atingiu R$ 96,543 bilhões em junho, com crescimento de 13,2% quando comparada a igual período de 2008 e de 3,6% neste ano.
Já as operações com empresas aumentaram 17,1% em doze meses e diminuíram 4,9% neste ano para R$ 145,976 bilhões, com destaque para os créditos para micro, pequenas e médias empresas que saltaram 28,5% em doze meses e 7,3% no ano, para R$ 54,3 bilhões.
Carvalho destacou a expansão de 36,2% em doze meses do crédito imobiliário para R$ 7,1 bilhões. Outro destaque foi o saldo da carteira de veículos pessoa física do Itaú Unibanco que atingiu R$ 49,535 bilhões.
No negócio de cartões, o Itaú Unibanco reclama a liderança do mercado em faturamento. Com a união do Itaucard, Unicard e Hipercard a carteira de cartão de crédito pessoa física somou no fim de junho R$ 24,307 bilhões.
O Itaú está mantendo as previsões de expansão da carteira de crédito deste ano, ao contrário do Bradesco que reduziu as projeções. O Itaú continua com a expectativa de que o crédito vai crescer de 10% a 15% neste ano, excluindo as operações com grandes empresas. A tendência, acredita o Itaú, será puxada pelas operações com pessoas físicas, que devem crescer 15%; pelo crédito imobiliário, com 25%; e pequenas empresas, com 20%.
Para 2010, o banco está mais otimista e prevê um crescimento de 20% a 25% do crédito.
A inadimplência, disse Carvalho, continuará crescendo até setembro, devendo se estabilizar a partir de então. Por conta disso, o banco pode vir a reforçar mais as provisões. A inadimplência tem sido principalmente observada em operações originadas antes da crise; já as concessões mais recentes não mostram a mesma tendência de deterioração.
Ao fim de junho, o índice de inadimplência medido pelo percentual de operações vencidas há mais de 60 dias chegou a 6,7% da carteira total, quase dois pontos acima dos 4,8% de dezembro e dos 4,9% de junho de 2008. O pico desse índice foi de 8,5% em 2002. O banco acredita que vai subir até 7% no terceiro trimestre.
O Itaú Unibanco passou a divulgar também o índice de operações em atraso acima de 90 dias (E a H), mais comumente usado pelo mercado. No caso do banco, as operações nessa classificação correspondiam a 5,4% da carteira total em junho (8,1% na pessoa física e 3,1% na pessoa jurídica). A previsão do banco é que o índice atingirá 6% no terceiro trimestre e se estabilizará.
Por conta disso, as provisões cresceram. As despesas com provisões aumentaram 57,5% entre o primeiro semestre de 2008 e igual período de 2009, somando R$ 8,086 bilhões. Carvalho lembrou que só no fim de 2008 o banco constituiu R$ 7,5 bilhões em adicional de provisões de crédito, dos quais cerca de R$ 1,4 bilhão foram utilizados.
O saldo total de provisões do Itaú Unibanco atingiu nada menos do que R$ 22,9 bilhões, sendo R$ 6,5 bilhões de adicionais, quase o triplo dos R$ 8,4 bilhões de junho do ano passado.
O aumento das provisões segurou a expansão da margem e do resultado bruto da intermediação financeira, que passou de R$ 12,7 bilhões para R$ 13,9 bilhões entre o primeiro semestre de 2008 e igual período deste ano. No mesmo espaço de tempo, as receitas de tarifas e serviços recuaram, passando de R$ 7,6 bilhões para R$ 7,1 bilhões. Mas Carvalho notou que as despesas cresceram apenas 0,6% no segundo trimestre, já como efeito positivo da integração.
O banco informou que vai iniciar o processo de migração de agências com um piloto neste mês, envolvendo cinco delas. O processo deve se estender pelos próximos 18 meses. As agências de varejo deverão ter a marca Itaú; já a marca das agências para alta renda ainda está sendo definida entre o Personnalité e o Uniclass.