Futuro presidente do Banrisul assume em março e aponta prioridades

O futuro presidente do Banrisul, Túlio Zamin, servidor de carreira da Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul e membro do Conselho Fiscal da Petrobras desde 2003, já tem uma sala no quarto andar do edifício-sede do banco em Porto Alegre, onde começa nesta semana a aprofundar seu diagnóstico da instituição.

Dois meses antes da data prevista para assumir o posto e pouco mais de sete anos depois de ocupá-lo no governo Olívio Dutra, Zamin já vislumbra os desafios. O banco precisa sedimentar a operação com pessoa física e ser mais arrojado com crédito para empresas, sinaliza.

O futuro presidente viu imperfeições na retaguarda de suporte à análise de risco e antevê a meta de carteira imobiliária a ser cumprida. Também reage com tranquilidade quando cobrado sobre a nova capitalização. Antes de dois anos não deve ser preciso.

“Outro plano: tirar da gaveta a meta de fincar mais estacas em outros estados. Ele só não sabe qual será o slogan do banco na Era Tarso. O foco, adianta, deve passar longe da marca de Olívio, forjada sob o temor da privatização (Banrisul – Melhor porque é nosso). “Isso é página virada.”

Jornal do Comércio – Alguma semelhança entre o banco que o senhor dirigiu entre 2000 e março de 2003 e o de agora?

Túlio Zamin – São realidades completamente distintas. O Banrisul estava quase vendido quando o governo Olívio Dutra começou em 1999. Depois da decisão política do PT de manter a instituição pública, veio o desafio da gestão, de ter o banco autossuficiente e que não drenasse mais recursos do orçamento estadual.

Lançamos o alicerce para um novo banco, com nova gestão, novas carteiras e novo port-fólio. Investimos pesado em tecnologia para competir em igualdade com o sistema financeiro. O banco voltou a ter lucratividade, com taxa de rentabilidade do patrimônio líquido acima de 20%. Premissas que tiveram continuidade.

JC – E quais são os desafios?

Zamin – Precisamos aprofundar a gestão para consolidar e garantir o padrão de governança definido em 2007 (capitalização e IPO na BM&FBovespa), alem de tranquilizar os investidores que aportaram recursos. Qualificar o atendimento para nos diferenciarmos será um dos focos. O que mantém um banco no mercado e com chance de crescer não é a fachada ou parque tecnológico avançado, mas as pessoas, e o Banrisul é regional. Vamos prestar muita atenção no atendimento.

JC – O governo Yeda demarcou que o Banrisul foi um antes e outro depois do IPO. Como o senhor vê isso?

Zamin – Não concordo. O governo Olívio é o divisor de águas. Com o crescimento da instituição, ela precisou de reforço de capital. É necessário retirar o viés de que o aporte tenha a ver com a discussão público versus privado. Se for preciso nova expansão de capital, seja por lançamento de ações ou outra forma de captação, faremos.

Começamos com resultado de R$ 50 milhões (2000) a R$ 120 milhões, em 2003. Agora devemos superar R$ 600 milhões de lucro líquido (até o terceiro trimestre de 2010 foi de R$ 511 milhões). Em 2003, o patrimônio líquido era de R$ 640 milhões. Hoje é de R$ 3,7 bilhões.

JC – Em que momento deve se impor esta necessidade?

Zamin – Persistindo a atual trajetória de crescimento e comportamento de resultado e atual forma de distribuição de ganhos, a preocupação com o aumento de capital não deve surgir antes de dois anos. Em relação ao Índice de Basileia, temos 15% na relação de patrimônio líquido em relação a ativos, o que está em linha com grandes bancos privados nacionais. O que interessa é o nível mínimo de operações que o banco pode alavancar sobre seu patrimônio líquido.

JC – Depois dos primeiros encontros com a gestão atual, o que o senhor já vislumbra de ações?

Zamin – A maior atenção será dada ao atendimento, por meio de ferramentas internas e sistemas. Temos de fazer uma atualização da estrutura de processamento, dando mais agilidade e segurança às operações, o que inclui automatizar processos de controles internos, na gestão do crédito e análise de risco. Não se trata de defecção pontual, mas daremos mais ritmo, estabelecendo prioridades. A retaguarda tem de estar atualizada para operar com tranquilidade.

JC – A evolução da base de clientes tem se estabilizado. Como ampliar os correntistas?

Zamin – O banco é regional, mas precisamos ampliar a atuação. Na nossa gestão, fizemos um plano de expansão para Santa Catarina (prevíamos 15 novos pontos em dois anos, com mapeamento, estudo de viabilidade e até de prédios para locação ou aquisição) e Paraná, dando conta de um diagnóstico: para crescer teríamos de avançar além da nossa fronteira física. A ideia era fazer isso gradualmente, chegando ao Mato Grosso do Sul, pois há semelhança de economia e cultura entre os gaúchos e esses estados. No estado vizinho, ocuparíamos o vácuo deixado pelo Besc (Banco do Estado de Santa Catarina – federalizado e que acabou comprado pelo Banco do Brasil em 2009). Mas isso não foi implementado e hoje está mais difícil.

JC – Como crescer no mercado gaúcho, que também está no foco das grandes instituições públicas e privadas?

Zamin – Tem muito espaço aqui na pessoa jurídica, por exemplo. Para ter mais correntistas, temos de ir a outros locais. Hoje estamos em 80% dos municípios do Estado. Os bancos cresceram muito comprando carteiras, o que aumentou a concentração. O Banrisul não tem este potencial. Temos de crescer organicamente.

JC – Como agir para evitar que os correntistas operem com outros bancos?

Zamin – Temos um case de sucesso que é o Banricompras, com mais de 100 mil pontos credenciados. É um dos principais ativos do banco. Também começou o sistema de pontos para cartão de crédito, com meta de levar ao de débito, que não segue custos do plástico de crédito. Para isso, precisamos aproveitar mais o potencial dentro de casa. Fazer mais negócios com clientes. Temos de organizar as equipes para que tenham metas, dar mais autonomia às unidades para buscar resultado. Há certo déficit nesta área. Não usamos o máximo da nossa potência. Não é falta de produto, mas de melhor estratégia.

JC – Na área de cartões, grandes bancos se associam para operar bandeiras comuns. O Banrisul pode buscar parceiros?

Zamin – É prematuro dizer que pode ser uma saída. Temos potencial nosso com o Banricompras. Uma parceria poderá depreciar este ativo, que é muito valioso. É uma pequena mina na mão que precisa ser potencializada. O usuário não se deu conta de que já transformou o cartão em canal de crédito. Também temos um sistema de registro das operações que é estável, raramente sai do ar. Isso tudo deu credibilidade à operação.

JC – Como a parceria do banco com a Mastercard entrará nesta estratégia?

Zamin – Esta semana pretendo analisar o contrato e ver como isso se ajusta aos nossos planos. Mas certamente a abertura do nosso sistema a um terceiro terá antes de trazer mais vantagens ao banco. Nós somos a noiva cortejada.

JC – Investigação da Polícia Federal em 2010 flagrou irregularidades no uso de verbas de publicidade por terceiros. O que será feito para evitar problemas como esse?

Zamin – O banco precisa de uma orientação, de um plano de comunicação e relacionamento com orçamento claro. Historicamente, o Banrisul é um dos principais parceiros em eventos culturais do Estado. Vamos seguir o exemplo das estatais federais, que têm editais de concorrência pública para projetos. Já a verba de mídia tem de seguir indicadores e critérios para escolha de veículos, conforme produtos e regiões. A atual gestão está em linha com o que pensamos.

JC – Como será alavancado o crédito para pessoa jurídica, que cresce menos que o do segmento físico?

Zamin – Não voltamos atrás no foco da pessoa física. Na atuação com empresas, o desafio é maior e interno. Temos de nos preparar melhor e atualizar produtos e reforçar as equipes para a interface com clientes. A crise recente mostrou o papel dos bancos públicos. Ganhamos credibilidade junto aos setores. Ninguém tira isso de nós.

JC – A atual gestão elevou o índice de eficiência principalmente cortando gastos. Como será a conduta a partir de agora?

Zamin – Queremos melhorar ainda mais o índice, mas com aumento da receita. Claro, seremos parcimoniosos com gastos. Se o projeto é de expansão precisaremos mais de estrutura.

JC – O Banrisul tem as folhas de salários das prefeituras. É uma zona de conforto?

Zamin – De certa forma é vantagem. Mas precisamos ficar atentos. Se for confirmada a portabilidade, que deve entrar em vigor em 2012, não há acordo que garanta os clientes. O correntista migrará para onde quiser. Por isso, o atendimento ganha mais relevância.

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