Os bancários realizaram nesta quinta-feira 2, no terceiro dia da greve nacional, manifestações em pelo menos 11 capitais para combater a proposta de independência do Banco Central, que os bancos privados colocaram na agenda eleitoral ao incluírem o tema nos programas de governo de alguns candidatos à Presidência da República.
Os atos foram convocados pelo Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, e receberam apoio e participação da CUT, da CTB, da Intersindical e vários movimentos sociais.
As manifestações foram realizadas em frente à sede do Banco Central, em Brasília, e nas representações do BC em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Curitiba, Porto Alegre, Fortaleza e Belém. Também em Cuiabá os bancários promoveram ato contra a independência do BC, mas em frente ao Banco do Brasil, uma vez que a capital de Mato Grosso não tem espaço do BC.
Em São Paulo, a manifestação ocorreu no final da tarde na Avenida Paulista e reuniu bancários, dirigentes da CUT, CTB e Intensindical, lideranças e militantes de movimentos sociais, como o MST, a União Nacional de Moradias, o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), organizações da agricultura familiar e do Levante Popular da Juventude. Mesmo com vento frio e chuva fina, o protesto juntou aproximadamente 1,5 mil manifestantes.
Bancos querem concentrar mais renda
Um dos oradores foi o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, para quem o mercado financeiro está fazendo terrorismo econômico contra o povo brasileiro e assumindo claramente um lado na campanha eleitoral.
“Nós, bancários, estamos do lado oposto, enfrentando os bancos na greve nacional da categoria, nas ruas e nas urnas. Por isso estamos aqui protestando contra a independência do Banco Central, que os bancos privados incluíram nos programas de governo de alguns candidatos”, destacou.
Para ele, “estão querendo criar o sindicato nacional dos banqueiros”. Cordeiro lembrou que os setores que pedem a independência são os mesmos que defendem, em entrevistas, análises e palestras, que o desemprego deveria ser maior para segurar a inflação.
O presidente da Contraf-CUT afirmou também que os banqueiros querem dominar o BC, controlar a política econômica e concentrar a riqueza. “Nós lutamos por desenvolvimento econômico com geração de emprego e distribuição de renda. Para isso é necessário um BC independente dos bancos e mais democrático”, ressaltou.
Na Europa, recessão e desemprego
O presidente da CUT, o bancário Vagner Freitas, recorreu ao exemplo europeu para explicitar o que significa, para o povo, dar autonomia ao BC. “O Banco Central Europeu é autônomo, e dita as regras para os governos dos países daquele continente. Os burocratas daquele banco, que não foram eleitos pelo povo, têm mais poder hoje do que o presidente de um país, que foi eleito pelo povo. E está destruindo o sonho de construir uma Europa unida e desenvolvida. As regras que o Banco Central Europeu impõem aos povos estão provocando recessão e desemprego”, afirmou.
“O presidente do BC será eleito diretamente pela classe trabalhadora ou será uma vontade absoluta da Federação Brasileira dos Bancos? É isso que o povo tem que entender, que os banqueiros querem mandar no Brasil sem terem sido eleitos para tal”, ressaltou Vagner.
O diretor executivo da CUT, Júlio Turra, salientou que a independência seria o mesmo que “colocar uma raposa para cuidar de um galinheiro”.
Responsabilidade
“A independência do BC significa entregar os rumos da economia aos bancos privados, ao mercado financeiro, que não têm nenhuma reponsabilidade social”, afirmou a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira. Ela lembrou que os bancários estão em plena Campanha Nacional e frisou que a categoria tem reponsabilidade especial na defesa dos bancos públicos, sobretudo os funcionários do Banco do Brasil e da Caixa.
“É por isso que os bancários, no meio da greve nacional, fizeram questão de realizar esse protesto em defesa dos bancos públicos e contra a autonomia do BC, para que não se torne um banco independente da população brasileira, para que o crédito direcionado continue financiando a agricultura familiar, o microcrédito e a casa própria. Lembrando que os bancários de todo o Brasil lutam por valorização salarial, melhores condições de trabalho, garantia de emprego, mais saúde e mais valorização, e nós vamos lutar até que os bancos atendam às nossas reivindicações”, enfatizou Juvandia.