Bancários paralisam Bradesco Prime e Nova Central em São Paulo

Paralisações reforçam pressão sobre bancos para nova proposta

“Tá tudo parado. Nova Central, Santa Cecilia, Alphaville, aqui… Não sei o que fazer”, dizia pelo celular um gestor do Bradesco Prime, em São Paulo. A frase sintetiza a estratégia adotada na greve na manhã desta terça-feira 8 – que priorizou os centros administrativos e operacionais dos bancos -, mas também mostra a disposição de resistência, luta e adesão dos bancários em prol de uma proposta de reajuste digna. E isso no vigésimo dia de paralisação.

“Acho que este ano a greve está mais forte, está atingindo os setores que têm que ser atingidos para paralisar o banco”, disse outra funcionária do Prime. Para ela, “a greve é necessária para que os bancos aceitem negociar”, completou.

Pela terceira vez desde o início do movimento, o Bradesco Prime teve suas atividades paralisadas. A concentração, localizada na Avenida Paulista, em São Paulo, administra as grandes movimentações financeiras da holding e conta com cerca de 1.850 funcionários.

Muitos deles estão insatisfeitos com a gestão do setor, principalmente no que se refere à mobilidade profissional. “É muito difícil ascender profissionalmente. Promoção aqui significa aumento de responsabilidades, e não de salário”, dizia uma bancária.

Para outro funcionário, as promoções privilegiam os já privilegiados. “Quando surge uma oportunidade, as pessoas que se formaram em uma faculdade menos reconhecida já são de cara descartadas. Só dão oportunidade para os de berço.”

Auxílio-educação

Os bancários do Prime também se queixam da falta de investimento na qualificação profissional. “Para subir de cargo eles exigem pós-graduação, mestrado, MBA, mas não ajudam com um centavo sequer.”

Outra conta que apenas com o salário é difícil pagar um curso. “O valor do MBA que eu queria fazer é 90% do meu salário. Como o banco quer que eu me qualifique?”, questiona.

Coerência e valorização

As discrepâncias salariais para as mesmas funções também são motivo de revolta para os trabalhadores da concentração. “Tem gente que faz o mesmo serviço, mas ganha quase o dobro. E isso é mais comum com os profissionais que vieram de outros bancos.”

Outra bancária completou: “O Bradesco tem essa política de carreira fechada, mas na hora do vamos ver, dão aumento de salário para os que vieram de fora. Cadê a coerência e a valorização?”.

Dignidade e respeito

Obviamente, o aumento real de menos de 1% proposto pela Fenaban também foi motivo de achincalhamento pelos funcionários do Prime. “Parece que estão tirando com a nossa cara”, resumiu um. Para outro, o sistema financeiro é responsável pelo que chamou de injustiça. “Capitalismo é isso, é o lucro acima de tudo, mas eles têm que ver o lado humano. Merecemos dignidade e respeito”, afirmou.

A diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Neiva Ribeiro, lembrou que só com o dinheiro que o Bradesco arrecada com as tarifas cobradas dos clientes é possível pagar 135% da folha salarial do banco. “Os bancos podem apresentar uma proposta melhor e que não irá prejudicar seus resultados. Com isso as pessoas vão trabalhar mais satisfeitas. O que não dá é aceitar esse reajuste.”

Ao comentar o aumento real de 0,97% oferecido pela Fenaban, outro bancário foi mais enfático. “Arrisco dizer que nem o tráfico de drogas lucra tanto quanto os bancos, mas a diferença é que o tráfico é menos desonesto”, brincou.

Outro analisou. “Uma aplicação no banco rende 1% ao mês, mas ele cobra 15% de juros no cartão de crédito. Um setor com essa lógica vai respeitar quem? Só com greve mesmo para eles entenderem”, desabafou.

Nova Central

Uma nova proposta dos bancos também é o desejo dos trabalhadores da Nova Central do Bradesco, concentração que fica na República, em São Paulo, que parou mais uma vez. “O aumento real deve ser maior. É muito pouco o reajuste que eles oferecem comparando ao lucro do Bradesco”, comentou um bancário que trabalha há dois anos na Nova Central.

E para os trabalhadores da concentração do Bradesco, esse aumento real vem com a mobilização cada vez mais forte. Funcionário do Bradesco há 27 anos, outro trabalhador comemorou as paralisações de funcionários do Bradesco desta terça, que também abrangem o Telebanco Santa Cecília, o prédio do Prime da Paulista e o Núcleo Alphaville.

“É a coisa certa para incomodá-los. Isso mexe com o banco”. “É uma falta de respeito com a categoria. Estamos com muitas concentrações paradas, com mais de 40 mil trabalhadores envolvidos nessas concentrações. A proposta não mexe na PLR do jeito que deveria. Não vamos encerrar a greve se não melhorarem o aumento real e a PLR. Ano a ano a distribuição de riqueza gerada pelo setor bancário fica mais com os acionistas. Não pode ser tão sofrido resolver a campanha dos funcionários”, disse a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, aos bancários da Nova Central.

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