Financial Times, de Londres
O comitê de política monetária do Banco da Inglaterra surpreendeu os mercados ao votar ontem a favor de uma grande ampliação em seu programa de afrouxamento monetário quantitativo, em que o governo cria dinheiro para comprar ativos e injetar recursos na economia, de 125 bilhões para 175 bilhões de libras esterlinas (de US$ 212 bilhões para a US$ 300 bilhões).
O comitê do banco central inglês espera que o plano, conhecido em inglês como “quantitative easing”, leve mais três meses para ser completado. “O tamanho do programa ficará sob revisão”, informou a autoridade monetária, em comunicado.
A decisão chegou como surpresa, pois em suas duas reuniões anteriores o comitê havia optado por não ampliar o programa. A libra esterlina e o rendimento dos “gilts”, bônus governamentais britânicos, caíram depois da notícia.
A taxa referencial de juros foi mantida em 0,5%, menor patamar histórico, como era esperado.
O comitê destacou que a economia mundial continua em recessão, embora surjam cada vez mais sinais de que a produção dos principais mercados de exportação do Reino Unido esteja se estabilizando. As tensões no mercado financeiro afrouxaram e as condições de financiamento dos bancos melhoraram um pouco, embora a situação financeira continue frágil.
No Reino Unido, a recessão parece ser mais profunda do que se imaginava, avaliou o comitê. O órgão ressaltou, contudo, que o ponto mais baixo da produção está bem próximo, segundo pesquisas com empresas, e que o ritmo de contração está mais moderado.
“Embora alguma recuperação do crescimento da produção seja provável, a margem de capacidade ociosa na economia ainda deverá continuar aumentando por algum tempo, ameaçando a inflação no médio prazo”, informou o comitê. “Mas a recessão e a disponibilidade de crédito limitada também deverão impactar adversamente a capacidade de oferta da economia, moderando o crescimento desse excedente [de capacidade] na economia.”
A libra, que na quarta-feira, havia atingido a maior cotação em dez meses, de US$ 1,7042, caiu 0,7%, para US$ 1,6868. O rendimento dos “gilts” de dez anos caiu 14 pontos-base, para 3,68% ao ano.
As novas compras de ativos do programa somam-se aos 125 bilhões de libras já injetados na economia do Reino Unido, o equivalente a quase 9% do Produto Interno Bruto (PIB) nominal.
O segundo trimestre teve retração de 0,8% no PIB, bem pior do que a maioria dos analistas e o Banco da Inglaterra haviam previsto. O número, combinado com o crédito ainda escasso para empresas e consumidores, pode ter encorajado o banco central a ampliar o programa de compra de ativos.
Além disso, um importante indicador da base monetária mostrou poucas evidências de melhora até o fim do segundo trimestre, apesar do gigantesco programa de compras que o banco central promoveu.
A decisão foi bem recebida pela Câmara de Comércio Britânica (BCC, em inglês), embora com o alerta de que mais estímulos econômicos podem ser necessários ainda neste ano. O órgão também pediu ao comitê para elevar a proporção de ativos que compra do setor privado.
“Embora o afrouxamento quantitativo venha ajudando a evitar o pior na crise, ainda não é totalmente efetivo”, afirmou o economista-chefe do BCC, David Kern. “A base monetária não está crescendo em um ritmo adequado, os empréstimos bancários às empresas vêm registrando claro declínio nos últimos meses e muitas pequenas firmas rentáveis encontram dificuldade para ter acesso a crédito.”
O comitê reuniu-se de posse da maioria das previsões sobre inflação e crescimento da economia, que serão apresentadas na próxima semana no informe trimestral do banco central sobre a inflação. A ampliação da política de afrouxamento quantitativo sugere que o relatório inflacionário trará um quadro sombrio sobre o estado da economia do Reino Unido.