FOLHA DE SÃO PAULO
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Na primeira aparição pública após o mal-estar com o ministro Guido Mantega (Fazenda) sobre o crescimento dos bancos públicos durante a crise, o presidente-executivo do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou ontem que não quer mais “polemizar” e que vê espaço para avanço dos bancos privados no crédito devido à recuperação da economia.
Setubal negou que tenha provocado o governo ao afirmar que os bancos públicos estavam trabalhando com “juros insustentáveis” para ganhar mercado. Dias depois, quando saiu o balanço do Banco do Brasil, Mantega rebateu a afirmação, dizendo que os bancos privados iriam “comer poeira” se não seguissem as instituições públicas e reduzissem também suas taxas de juros.
“Não comecei polêmica nenhuma. Não fiz nenhuma provocação. Não quero falar mais nada sobre esse assunto”, disse Setubal. Ele participou ontem de reunião com mais de 300 analistas de mercado.
O presidente do Itaú Unibanco disse ainda que recebeu com “naturalidade” a notícia de que o Banco do Brasil havia retomado o posto de maior banco em ativos no país. Segundo Setubal, a liderança do mercado não é um objetivo do grupo, que se tornou o maior após a fusão com o concorrente Unibanco, em novembro do ano passado.
“Nunca nos propusemos a isso nem enfatizamos esse aspecto na nossa operação. Quando fizemos a fusão, nunca colocamos isso com grande destaque. A imprensa que fez esse papel. Vimos com muita naturalidade que o Banco do Brasil tenha retomado a liderança”, disse.
O presidente do banco negou que o Itaú Unibanco tenha perdido espaço significativo no mercado para os bancos públicos. Segundo o BC, os bancos estatais tiveram expansão de 10,9% na carteira de crédito de janeiro a junho, enquanto as instituições privadas tiveram avanço de apenas 1,4%.
“O Itaú Unibanco também está ganhando “market share” [participação de mercado]. Estamos felizes com isso. O mercado tem uma competição saudável”, disse.
Setubal evitou comentar o resultados dos bancos públicos, que tiveram queda nos lucros apesar da forte expansão em suas carteiras de crédito.
Segundo levantamento da Austin Ratings, o BB e Caixa tiveram crescimento de 32,8% e 56,1% na carteira total de crédito, em relação a junho de 2008. No mesmo período, a expansão no Itaú foi de 15,7%. Já o lucro líquido caiu 54,5% na Caixa e 17,8% no Itaú Unibanco, enquanto o BB teve crescimento de 0,6%. “Não tenho nenhuma capacidade de avaliar qual era a expectativa que eles tinham. Posso falar do nosso resultado, mas não tenho nada a dizer sobre nenhum dos concorrentes”, disse Setubal.
Recuperação de mercado
Na reunião com analistas, o banco elevou sua projeção de crescimento da carteira de crédito no varejo no ano passado para 12% a 18%. Até então, a previsão era de um crescimento entre 10% e 15%.
Para Setubal, a inadimplência dá sinais de desaceleração, o que permitirá um avanço maior das instituições privadas. “Continuamos muito otimistas com a recuperação da economia brasileira. Estamos em um ritmo muito bom. O Brasil, claramente, destaca-se em relação a outras economias do mundo. O crescimento está voltando. Isso cria um ambiente muito mais propício ao crédito. Há muito mais demanda. E nós estamos preparados para atender o mercado”, disse.