Passeata chama atenção da população e revigora greve em Recife

Sob os olhares atentos da população, os bancários movimentaram as ruas do centro do Recife nesta quinta-feira, 07 de outubro. Nas paradas de ônibus, calçadas ou estabelecimentos comerciais, o povo parava para ver e ouvir a passeata da categoria. A atividade suscitou debates no interior de agências bancárias e deu fôlego novo ao movimento, que entra em seu nono dia de greve sem qualquer resposta dos banqueiros.

Com concentração no prédio do Banco do Brasil da Rio Branco, a marcha fez duas paradas: no Bradesco da Imperador e da Concórdia. Em ambas, os trabalhadores realizaram ato no interior da agência e suspenderam o atendimento.

A concentração foi no prédio do Banco do Brasil da Rio Branco. Lá, se encontraram várias gerações de bancários, de diferentes empresas. Como uma trabalhadora do Bradesco, que preferiu não se identificar. Com 31 anos de serviços prestados e vítima de doença ocupacional, ela afirma: “A gente não pode ter medo. Com greve ou sem greve, quando o banco quer, demite”.

Seu recado vai, especialmente para os jovens bancários, que são, segundo ela,a grande maioria do quadro de pessoal do Bradesco atualmente. “Se a gente quer ter mais segurança, mais funcionários, menos metas… a gente precisa brigar pra conquistar”, diz a bancária.

> Veja aqui a galeria de fotos da passeata dos bancarios.

Do Banco do Brasil, os veteranos Domingos e Heliane – com 27 e 28 anos de banco, respectivamente – também conclamavam os mais jovens a participarem do movimento. “A gente já fechou muita agência de banco privado. Não temos mais idade para correr de polícia… E o que a gente repete, sempre, é que greve não é férias. Pelo contrário. É momento de trabalhar ainda mais, conversar com o cliente, conquistar a população”, fala Domingos. Ele lembra, por outro lado, que o banco tem adotado uma política cruel de divisão dos trabalhadores, a partir dos comissionamentos.

A fala de Domingos é reforçada por duas funcionárias, também do Banco do Brasil, que preferiram não se identificar. Uma delas está há pouco mais de um ano na empresa. A outra está há apenas dois anos. Segundo elas, o banco está adotando um novo programa de reestruturação – o BB 2.0 – que prevê vários comissionamentos. “Então, muita gente fica retraída, com medo de participar ativamente e perder uma oportunidade na carreira. Conheço gente, inclusive, que ajustou as férias para o período de greve”, diz uma delas. E acrescenta: “E tem aparecido muita mensagem subliminar do banco, pressionando”.

> Veja aqui a reportagem sobre a passeata do Pernambuco.com

Mas, nesta quinta-feira, 07 de outubro, não teve pressão que calasse os bancários. A passeata contou com a solidariedade de outras categorias e movimentos, como metalúrgicos, trabalhadores de Correios, metroviários e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST. Presente, também, o presidente da CUT – Central Única dos Trabalhadores, Sérgio Goiana.

Um grupo de teatro repetiu em cada parada uma performance, na qual Dona Fenaban pressionava o funcionário Astrogildo a bater suas metas e oferecia aos bancários o contraste entre um lucro em pernas-de-pau e um reajuste anão. As propostas da personagem eram recebidas com vaias e protestos pelos manifestantes.

A passeata ajudou a promover o diálogo com a população. Na agência do Bradesco do Imperador, onde os bancários entraram e suspenderam o atendimento, a cliente Gracilene, com o filho ao colo, aplaudiu o movimento. E explicou: “Greve é sinônimo de coisas melhores. Eu apoio. Mesmo que venha a me prejudicar por um momento”. Dentro da unidade, outro grupo de clientes, que esperava a retomada do atendimento, debatia calorosamente: “Se todo mundo se juntasse, se não ficasse somente cada grupo fazendo o seu, as coisas até podiam melhorar”, dizia uma delas.

Na última parada da atividade, o Bradesco da Concórdia, a reação foi a mesma, com manifestações de apoio por parte dos clientes e trabalhadores. A apresentação teatral arrancou risadas e chamou a atenção, enquanto bancários se misturavam a clientes para conversar com a população.

“Não queremos apenas melhorar os salários. Queremos mostrar para a população que um outro banco é possível. Que eles não deveriam enfrentar filas nem pagar as tarifas que pagam, porque os banqueiros são o setor que mais lucra neste país. Tem condições de contratar mais gente e melhorar o atendimento. Nossa briga é para que as pessoas estejam em primeiro lugar”, afirmou a presidente do Sindicato, Jaqueline Mello.

A última negociação entre os banqueiros e trabalhadores aconteceu no dia 22 de setembro, quando foram negadas todas as reivindicações e proposto apenas a reposição da inflação. Desde então, os bancos tem se recusado a dialogar.

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