Para HSBC, alta de emergentes pode ser passageira, menos para o Brasil

Valor Econômico

A melhora na percepção de risco e os planos mais concretos do governo americano de remoção dos ativos tóxicos do balanço dos bancos trouxeram uma recuperação para os mercados dos países emergentes e para suas relativas moedas. O problema é que esse movimento pode terminar com outro período de mercado em baixa, já que a crise financeira continua a afetar a demanda global. A visão nada animadora consta em relatório sobre mercados emergentes elaborado pela HSBC Global Research.

Na visão da corretora, as ações e bônus dos mercados emergentes deverão cair para novos recordes de baixa, num momento em que a deterioração das economias ofusca os esforços empreendidos pelo governo dos Estados Unidos para revitalizar o sistema financeiro, avalia o relatório.

Na avaliação da HSBC Global Research, as economias de todos os 30 mercados emergentes monitorados pelo banco inglês vão se enfraquecer este ano. E mais de metade delas vai entrar em recessão, com a alta do desemprego e a queda das vendas aos países desenvolvidos, diz Philip Poole, diretor mundial de mercados emergentes da corretora, sediada em Londres. Os mercados vão cair em direção a suas maiores baixas ou para níveis inferiores a elas, enquanto os dados da economia continuarão “desestimulantes por algum tempo”, diz ele.

No que se refere à América Latina, a expectativa é de que a região apresente uma contração de 1,6% da economia neste ano, pior que a previsão anterior, de redução de 0,2%. Para o Brasil, as estimativas são de crescimento de 0,1% do PIB, também piores que a expectativa divulgada em janeiro, de expansão de 1,2%, explica Alexandre Gartner, diretor de pesquisa de renda variável da corretora no Brasil e responsável pela análise do mercado brasileiro no relatório.

Nos mercados emergentes, a HSBC Global Research diz que recentemente aumentou em seu portfólio as posições em ações da Polônia e República Tcheca. De acordo com o relatório, a seleção inclui papéis de alguns bancos e empresas de telecomunicação, embora muitos das ações de maior liquidez estejam interesses. Na América Latina, entretanto, o Brasil se destaca. “Nós acreditamos que fatores específicos do país estão influenciando os investidores e levado o Brasil a subir entre os mercados emergentes neste ano”, diz o relatório.

Entre esses fatores que colocam o Brasil em posição privilegiada entre os emergentes estão seu sólido sistema financeiro, economia relativamente fechada ante os países asiáticos, por exemplo, com um grande mercado doméstico e sólidas contas externas, diz Gartner. Ele lembra que o mercado brasileiro voltou a registrar entrada líquida de investimentos estrangeiros na bolsa em fevereiro e março depois de oito meses de saldo negativo.

Na avaliação da corretora do HSBC, com as recentes medidas tomadas pelo Banco Central e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para reativar o crédito – aliadas à recuperação do fluxo de capital estrangeiro no mercado doméstico -, as perspectivas para o Ibovespa no médio prazo ficaram mais positivas.

O relatório diz ainda que o mercado continua a ser pesadamente influenciado pelas perspectivas da economia global e, mais diretamente, pelo mercado acionário americano. “Dados recentes da economia (brasileira) nos levam a acreditar que cresceram as chances de o fundo do poço para o Brasil ter ficado para atrás.”

Aqui no Brasil, a corretora encaminhou a clientes a carteira de ações recomendada para abril. Entre as recomendações para este mês estão as ações ordinárias (ON, com direito a voto) de Usiminas, com participação de 15%; B2W Global, com também 15%; CCR Rodovias, com 10%; e Vale, com 20%. Já entre as preferenciais (PN, sem voto) estão Petrobras, com fatia de 20%; Cemig, com 10%; e Itaú, também com 10%. “É uma carteira que está focada em recomendações de papéis de empresas mais expostas à economia doméstica”, diz Gartner.

Segundo o relatório, considerando a redução da taxa Selic e expansão do crédito, o segmento de varejo deverá ser um dos mais beneficiados por conta da elevada exposição ao mercado interno e à maior dependência de seus resultados à disponibilidade de crédito aos consumidores. “Sob essa ótica, acreditamos que as ações ordinárias de B2W poderão se recuperar no médio prazo, além do fato de que a unificação de seus centros de distribuição (Submarino, Shoptime e Americanas.com) deverá propiciar ganhos de margens operacionais à companhia”, escreve o analista.

Além disso, a corretora ressalta que, entre as medidas de incentivos fiscais, a prorrogação da redução de impostos (como IPI) à indústria automobilística poderá beneficiar o setor siderúrgico brasileiro, principalmente Usiminas, cuja maior parte de sua receita consolidada está atrelada a este setor dadas as vendas aos segmentos de autopeças e distribuidores.

Com relação ao setor de concessões rodoviárias, apesar do recente recuo do IGP-M, o relatório diz que o banco continua acreditando em um reajuste significativo em 2009, além de uma recuperação no volume de tráfego de veículos equivalentes (leves e pesados) ao longo dos próximos meses. “Para o setor de mineração, acreditamos que o cenário de forte redução nos preços de minério de ferro em 2009 (estimamos queda de 25%), já esteja incluído no atual patamar das ações deste setor.”

Na avaliação da HSBC Global Research, os pacotes de incentivos governamentais na China, voltados principalmente à infraestrutura, deverão trazer uma demanda adicional por commodities, como minério de ferro. Mas, segundo o relatório, apesar da expectativa positiva para a China, os economistas do HSBC na região ainda questionam se tais investimentos do governo chinês irão compensar a desaceleração do crescimento da demanda global, já que, provavelmente, essa desaceleração possui um caráter muito mais estrutural do que cíclico.

Quanto ao setor petrolífero, as incertezas quanto a uma possível redução nos preços de derivados de petróleo (gasolina e diesel) permanecem elevadas. “Principalmente se considerarmos o atual nível dos preços de petróleo no mercado internacional.” Para a corretora, o setor de energia elétrica se mantém como opção mais defensiva, devido ao seu fluxo de caixa mais estável e maior distribuição de proventos

Segundo o relatório, apesar de a HSBC Global Research acreditar que o cenário doméstico ainda poderá apresentar volatilidade no curto prazo, o momento pode ser de mudanças pontuais na carteira de ações, aumentando a exposição a setores que podem ser beneficiados pelas recentes medidas tomadas pelo BC e CMN no Brasil, com destaque para os setores de varejo e siderurgia.

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