Gabriel Jorge Ferreira é um velho advogado, amantes de bons faroestes de Hollywood e que faz parte da história do sistema bancário brasileiro, seja como ex-presidente da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), homem de confiança do legendário Walther Moreira Salles.
Na condição de presidente do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) coube a ele a incumbência de resolver o pepino do Banco Panamericano, do empresário Silvio Santos.
Recentemente, o banco vendeu participação acionária para a Caixa Econômica Federal. Na terça-feira, o Mercado foi informado de que tinha um rombo de R$ 2,5 bilhões – mais do que o seu patrimônio liquido.
Os antigos gestores recorreram a um golpe que serviu ou para desvio de dinheiro ou para mascarar má gestão. Por ocasião da grande crise de liquidez de 2008, o Banco Central incentivou os bancos menores a venderem suas carteiras de crédito. O banco pegava os contratos de financiamento e repassava para instituições maiores mediante um determinado desconto, que servia para a compradora se remunerar pela compra.
O que o Panamericano fazia era aumentar seu capital, com o dinheiro que entrava, mas sem dar baixa na carteira de crédito, que saía.
Ao contrário dos rumores de primeira hora, foi estritamente de mercado a solução encontrada para o rombo.
Em 1995, após as quebras do Banco Nacional, Econômico e Bamerindus, os bancos foram estimulados a criar um fundo destinado a cobrir prejuízos de correntistas com a quebra de bancos. Esses prejuízos eram o principal fator a provocar corrida bancária sempre que um banco quebrava. Com esse propósito foi criado o FGC, como instituição privada, sendo constituído por depósitos de todos os bancos.
Na semana passada, o FGC possuía fundos da ordem de R$ 28 bilhões.
Quando explodiu o problema Panamericano, montou-se uma operação típica de socorro, com todas as garantias sendo apresentadas. O fundo emprestou R$ 2,5 bilhões para o Panamericano, algo que não tinha sido pensado na sua constituição. A lógica era simples.
Emprestando o dinheiro – e tendo garantias – era muito mais saudável do que esperar a quebra do banco e cobrir os prejuízos dos correntistas – caso em que o dinheiro não seria recuperado.
O comportamento de Silvio Santos foi exemplar.
Para obter o empréstimo, entregou como garantia as 44 empresas do grupo, incluindo a rede de televisão. E obteve condições favoráveis, de três anos de carência para começar a pagar, dez anos de prazo. Se o banco se recuperar e gerar lucros, o empréstimo será quitado normalmente. Caso contrário, as garantias serão executadas.
A Caixa Econômica Federal não deverá sofrer nenhum prejuízo, já que não participava da gestão do banco. Além disso, Silvio Santos chamou a si a responsabilidade total pela recapitalização da instituição.
A operação mostra a maturidade do mercado bancário brasileiro, após os grandes problemas do pós-real – que exigiu o lançamento do Proer para impedir uma crise bancaria.
E poderá ter implicações relevantes no novo desenho da televisão brasileira, que em breve começará a emergir com a entrada de novos grupos.