Seminário de Segurança discute violência contra bancários no Rio

O Seminário de Segurança bancária realizado na última segunda-feira em Nova Friburgo discutiu diversos temas relativos aos problemas enfrenta-dos pelos bancários no dia-a-dia. Ficou evidente, pela apresentação de estatísticas, que o principal problema de segurança no estado do Rio de Janeiro é o seqüestro de bancários e seus familiares.

O delegado-adjunto da Delegacia de Roubos e Furtos, Fábio Corsino, forneceu estatísticas que demonstram que o número de assaltos a banco é muito reduzido. Em 2008, o pico foi de duas ocorrências num mês e o banco campeão de assaltos nos últimos anos é o Itaú. Já Carlos Cordeiro, o Carlão, secretário-geral da Contraf, informa que este banco fez uma pesquisa e um grande investimento em segurança. A discrepância entre informações acontece por peculiaridades locais, já que o Itaú, com a compra do Banerj, passou a ter um imenso número de agências em todo o estado.

Infrações, multas e impedimento jurídico

Carlão, que é representante do movimento sindical bancário na Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada – CCASP, apresentou uma relação dos tipos de infração mais comuns às exigências de segurança dos bancos – entre elas, alarmes inoperantes e a falta de vigilantes em número suficiente, principalmente no auto-atendimento. “Os bancos têm sido multados com muita freqüência por não obedecerem à exigência de manter seguranças no hall eletrônico e o campeão desta infração é o Bradesco”, informou.

Os sindicalistas presentes concordaram que o Bradesco é o banco que menos respeita as exigências de segurança. “Somente hoje foi inaugurada a primeira porta giratória em agência do Bradesco em nossa base”, destacou Cláudio Damião, presidente licenciado do Sindicato de Nova Friburgo. Carlão ressaltou que as multas recebidas pelo banco vão de mil a vinte mil UFIRs, o que equivale de R$ 1 mil a R$ 20 mil. “Para um banco, estas multas são muito baixas. Além disso, as multas demoram para ser aplicadas. O ideal é que o banco seja multado no ato da constatação da infração”, defende Carlão. O dirigente também informou que a Contraf está orientando os sindicatos a fazerem manifestações constantes nas agências onde as normas de segurança não são respeitadas. “A irresponsabilidade social dos bancos é tamanha que a Febraban está usando artifícios jurídicos para impedir que a Contraf divulgue a pesquisa que fizemos sobre segurança bancária”, destacou o sindicalista.

Investigações e responsabilidades

O delegado Corsino destacou que quadrilhas especializadas em seqüestrar bancários têm sido desbaratadas pela ação policial. “A equipe da DRF já trabalha junta há três anos. Isso permite que façamos investigações longas que acabam com a prisão dos criminosos. Já houve reconhecimento de assaltantes através de fotografias que tínhamos em nosso arquivo. Isto facilita nosso trabalho”, relatou o policial. Ele destacou também que o tratamento das vítimas de seqüestro na delegacia é diferente do que é dado pelos bancos. “O banco sempre pressupõe que o bancário está envolvido e, na dúvida, demite. Nós não descartamos a possibilidade de haver participação ou conivência do bancário no assalto, mas, na dúvida, acreditamos na sua inocência”, relatou o delegado.

O deputado federal Antônio Biscaia foi enfático na defesa de uma unificação da formação dos policiais de todas as polícias e a criação de uma corregedoria externa única. O parlamentar defende também que todas as informações captadas pelas polícias Federal, Civil e Militar circulem pelos setores de inteligência das três forças. Biscaia defende, ainda, que o município tenha um papel mais importante como agente de segurança pública e questiona a importância da segurança privada. “O controle deste serviço deixa muito a desejar. Não sabemos quantos, nem quem são estes profissionais”, destaca o deputado.

Biscaia também destaca a responsabilidade dos bancos em outro tipo de crime que está cada vez mais comum: a saidinha de banco. “As empresas dizem que não têm nenhuma relação com o crime porque ele acontece fora da agência. Mas é claro que o banco é responsável, porque não oferece condições de privacidade para os saques”, defende o parlamentar. Os sindicalistas presentes concordaram. “Os olheiros ficam na agência muito tempo, por causa das longas filas, e observam o movimento dos clientes que sacam grandes quantias. A ação das quadrilhas seria dificultada se as agências não ficassem tão cheias. A solução é: Mais bancários, menos filas”, defende Carlão, da Contraf.

Juridiquês e ação sindical

Já o advogado criminalista João Custódio Gomes de Carvalho ressaltou que o problema dos seqües-tros esbarra em filigranas jurídicas, já que a legislação atual não prevê este tipo de crime. O que acontece não é exatamente um assalto, mas “ex-torsão mediante seqüestro”, que é um crime hediondo. Mas, como os bancos não dão importância ao crime se não houver roubo de dinheiro, este crime não é tratado como deveria. O advogado também defende que o movimento sindical bancá-rio negocie a inclusão dos problemas de segurança na Convenção Coletiva: “É preciso apresentar uma proposta única, nacional, para a segurança bancária”, sugere Custódio.

O evento teve ainda a presença de dois represen-tantes da Polícia Militar local, o major Marcelo Freiman e o capitão Alex Soliva. O Major Freiman destacou que a ação da PM é dificultada pela escassez de recursos, principalmente homens em número suficiente para cobrir toda a região. “O cobertor é curto e precisamos nos desdobrar para fazer nosso trabalho”, resumiu o policial.

Muitos interessados

O Seminário de Segurança atraiu gerentes do BB, Bradesco e Real na região de Nova Friburgo, interessados em propostas para tornar mais seguros seus locais de trabalho.

Cláudio Damião, presidente licenciado do Sindicato de Nova Friburgo, mediou o debate e destacou a importância do evento para a base da entidade e para todo o estado: “Houve um assalto com seqüestro de bancário no início deste mês em nossa cidade. Este crime, que está crescendo em todo o estado, não ocorria em Friburgo há alguns anos. Ficamos preocupados e percebemos que era a hora de discutir o problema da segurança bancária”, destacou Cláudio.

A Federação foi representada pelo presidente Fabiano Júnior e por Célia Regina, diretora para Questões da Mulher, e Paulo Garcez, do Departamento Jurídico. Além do sindicato anfitrião, Nova Friburgo, enviaram representantes os Seebs Angra dos Reis, Campos, Itaperuna, Rio de Janeiro e Teresópolis.

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