Por Vagner Freitas*
No futebol, há quem prefira torcer contra o principal adversário que pelo seu próprio time. Na vida, há também quem adora profetizar desgraças o tempo todo. Quando ela acontece, prova que está certo.
Se esses desvios são até comuns no dia-a-dia, o que se pode dizer quando o presidente do Banco Central usa, de maneira oportunista, um espirro de crise na China para justificar sua política, que vem limitando o crescimento do Brasil.
"Talvez o que esteja acontecendo nas últimas horas nos mercados mundiais seja um aviso, de fato, para que tenhamos prudência ou, nas palavras do Banco Central, parcimônia", disse.
Ditas em seu depoimento no Senado, quando era cobrado por senadores da própria base de sustentação do governo pelo baixo crescimento econômico, as palavras mostram que, aparentemente, o senhor Meirelles torce para que a crise venha só para provar que sua política está certa.
Mas será que isso é o melhor para o país? Os números divulgados pelo IBGE esta semana mostram que não. O Produto Interno Bruto brasileiro cresceu em 2006 2,9%. Mais que nos últimos anos e média superior aos oito anos do governo FHC, mas isso ainda é pouco diante das carências que enfrentamos e da necessidade de criar empregos e enfrentar nossa tremenda desigualdade social.
Na próxima semana, ocorre nova reunião do Copom, conselho que determina as taxas de juros básicas cobradas na economia e que é chefiado pelo presidente do BC. Será uma boa oportunidade para ver se será mantida a política que controla a inflação com taxas de juros reais entre as maiores do mundo e faz com que o país perca tempo e desperdice oportunidades de crescimento.
No Senado, o presidente do BC também chegou a ameaçar, ao se referir à queda nas bolsas do mundo: "Não sabemos se é um fenômeno prolongado, se o dia vai terminar assim, como será amanhã. Mas acho que é, de fato, um aviso de que nós não podemos basear política econômica em dados de euforia momentânea. Temos de fazer uma política sustentável a médio prazo."
Não à toa, Meirelles foi defendido no Senado por representantes do PFL e do PSDB, que sempre serviram aos interesses dos que acumulam renda e se beneficiam das crises para ganhar mais dinheiro. Não se pode esquecer também o DNA do palestrante: Meirelles foi presidente do BankBoston, um dos maiores do mundo, e, por coincidência, em cenários de crise, com taxas de juro altas, normalmente quem ganha são os bancos. Como coincidência na maioria das vezes não existe, esse setor foi beneficiado em sua gestão no BC e continuam a bater recordes de lucratividade.
Está passando da hora de o Brasil não se deixar enganar por falsos temores e começar a construir seu futuro com crescimento e justiça social. O presidente Lula e seu governo já deram vários passos nesse sentido, principalmente com os programas sociais, redistribuição de renda, a volta do papel do Estado como agente do desenvolvimento, uma política internacional soberana. Está passando da hora para que esses avanços também cheguem à caixa-preta do Banco Central, para que acabem as chantagens de quem parece torcer contra o próprio país.
* Vagner Freitas é presidente da Contraf-CUT