O 10º CONCUT contou com a participação de dois sindicalistas haitianos, empenhados em garantir apoio para que o governo brasileiro retire as tropas do Haiti. Em um debate realizado nesta quarta-feira (5), o secretário geral da Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti Louis Fignolé Saint-Cyr e o secretário geral da Confederação dos Trabalhadores do Haiti Raphael Dukens, contaram um pouco do que vem ocorrendo no país. Eles também convidam lideranças populares para conhecer de perto os problemas decorrentes da ocupação promovida pelas forças armadas das Nações Unidas, representada pelo Brasil, há mais de 15 anos. Uma Comissão Internacional de Investigação, composta por membros de várias entidades, visita o país entre os dias 16 a 20 de agosto. O objetivo é trazer um relato sobre a situação do país a ser apresentado ao presidente, onde constarão argumentos em defesa do retorno dos soldados brasileiros.
História
Depois de golpes sucessivos promovidos por presidentes como Jean Bertrand Aristide, com apoio de governos dos Estados Unidos, França e Canadá, o Haiti passou por uma onda de retrocessos sociais. As privatizações varreram o país e incitaram levantes populares contra medidas neoliberais, conforme relatos dos haitianos. A repressão a esses movimentos teve como marco o dia 29 de fevereiro de 2004, quando tropas brasileiras da ONU desembarcaram no país. Desde então, qualquer reação popular é contida com extrema violência, como relatam os visitantes, pela Missão das Nações Unidas pela Estabilização do Haiti (Minustah). Além disso, o Brasil acumula um gasto anual de R$ 140 milhões para manter as operações no Haiti, ou seja, dinheiro público que poderia ser utilizado para investimentos sociais ou para a ajuda na reconstrução do país, como vem fazendo Venezuela e Cuba.
O Haiti está localizado na América Central e é considerado um dos países mais pobres das Américas, devido à exploração promovida por países ricos. Foi o primeiro país negro a conquistar independência, após lutas sociais dos escravos, em 1803.
O repórter da CUT Paraná, Gulherme Gonçalves, conversou com o secretário geral da Confederação dos Trabalhadores, Raphael Dukens, e com o secretário geral da Central Autônoma dos Trabalhadores, Louis Fignolé Saint-Cyr, que falaram sobre a situação no Haiti. Leia a entrevista abaixo
Depois da invasão das tropas brasileiras no Haiti qual é o quadro geral do país? A situação está melhor ou pior?
Raphael Dukens: Há um aumento do problema da segurança, principalmente. Mas isso é resultado das medidas do governo atual que liquidaram todo o sistema público com privatizações e com políticas neoliberais.
Fale um pouco da Minustah. Qual é o papel da Minustah no Haiti?
Raphael Dukens: Esta é uma iniciativa da França, dos Estados Unidos e do Canadá. Instituído desde 2004 e é um plano implantado no Haiti encabeçado pelo governo do presidente Lula, que enviou tropas em nome das Nações Unidas. Mas eles estão reprimindo tudo que nós exigimos, não toleram nenhuma atitude democrática e progressista ou movimentos que exigem o fim da Minustah e sua volta imediata ao Brasil. Isso é contraditório, porque o Brasil não tem uma história de conquistador, de promover guerras, e é isso que está sendo feito em nosso país.
O argumento apresentado pela grande mídia brasileira é de que a ocupação é necessária porque há gangues armadas nos bairros do Haiti. Qual é a verdade?
Raphael Dukens: A imprensa brasileira passa essas informações sem conhecer os fatos. Nós convidamos a imprensa brasileira para ir ao Haiti e se juntar ao Comitê Internacional de Investigação para ir lá e verificar se há grupos armados. Isso não existe. Nenhuma parte do mundo conta com condições totais de segurança e isso vem sendo utilizado para justificar a ocupação.
Vocês apresentam, inclusive, números sobre a violência que são menores que no Brasil.
Louis Fignolé: São menores que no Brasil. Nós apresentamos números sobre a criminalidade no Brasil que são de 22% e em nosso país é de 5%. Em uma população de oito milhões e 80% não tem emprego não tem como existir segurança. Enquanto o atual governo do Haiti continuar com sua política entreguista e com a ocupação do Haiti pelos Estados Unidos e pelo Canadá será difícil mudar esse quadro de agitação social que a Minustah encabeça. O Haiti é um país pacífico.
O que os trabalhadores brasileiros e os povos brasileiros podem fazer para ajudar o povo haitiano e fazer com que o governo retire as tropas do Haiti?
Louis Fignolé: A primeira coisa a fazer é sensibilizar toda a comunidade brasileira e todo o país, sobretudo, os trabalhadores, os movimentos sociais, os estudantes, as mulheres, os artistas, enfim, todo mundo para cobrar o governo Lula para retirar as tropas do Haiti. A imagem é muito negativa para o Brasil. Quando a seleção brasileira foi disputar um jogo de futebol lá, todos os haitianos gostaram mais do Brasil e comemoraram, mesmo com o Brasil ganhando. Mas isso cai por terra, porque as pessoas sabem que é o Brasil que está encabeçando a invasão.
A visita da Comissão de Investigação é muito importante, então?
Louis Fignolé: Eu convido todos os defensores da democracia, os sindicalistas, todos em geral, a integrarem essa comissão para que vejam o que se passa com seus próprios olhos e o que o governo Lula está fazendo, ou seja, que os movimentos sociais estão sendo oprimidos e que o Haiti não merece passar por isso. Nós precisamos da cooperação do Brasil, mas de outra forma, sem ocupação.