O 2º Encontro Nacional da Juventude do Ramo Financeiro continuou na parte da tarde com debate a respeito do tema Democracia e Participação Juvenil. Os jovens presentes assistiram a apresentação da socióloga da USP Helena Abramo, que trouxe dados importantes sobre a realidade dos jovens no Brasil.
Abramo é consultora do Instituto Pólis na pesquisa “Juventudes Sul-Americanas”, realizada em parceria com o Ibase e organizações de vários países da América do Sul. A pesquisa busca aprofundar questões relativas à participação juvenil, políticas públicas e integração regional, por meio de conversas com jovens de seis países do continente – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai -, discutindo seus problemas e demandas.
Segundo Helena, entre as demandas apontadas pelos jovens de todos os países, as mais recorrentes foram por educação e trabalho. Além destas, também foram citadas na maioria dos países reivindicações por cultura, circulação (transporte), segurança e preocupação com o meio ambiente.
“A questão da circulação é pouco falada. É o jovem da periferia que quer meios de transporte até o restante da cidade e o do campo que quer chegar até as cidades vizinhas”, explica Helena. “Em geral, quando pensamos políticas para a juventude, falamos de levar equipamentos para a periferia, mas não de permitir que os jovens vão até outros pontos. Os jovens querem ter um centro cultural em sua vizinhança, mas também freqüentar o de outros bairros, fazer novos amigos, trocar experiências. O pessoal do hip-hop de São Paulo, por exemplo, costuma dizer que não quer ‘ficar só da ponte pra lá’. É uma questão de direito à cidade”, conclui.
Helena deu grande importância para a questão do trabalho. Os dados mostram que 43% dos jovens pesquisados declararam só trabalhar, enquanto menos de 10% disseram apenas estudar. “Isso mostra que os jovens estão mais ligados ao mundo do trabalho que ao da educação, ao contrário do que se pensa”, afirma.
Ela explicou que, ao contrário do que comumente se imagina, a demanda não é apenas vinculada a necessidade imediata de renda destes jovens (para se sustentar, ajudar a família etc.). “Os jovens vêem o emprego como um passo para a construção de uma trajetória de inserção profissional, aliada à escolaridade”, explica. “Quando conseguem emprego, demandam condições de trabalho dignas, formalização e direitos trabalhistas”, acrescenta.
Demandas invisíveis
Uma demanda muito presente na pesquisa é a da visibilidade, reconhecimento e valorização. Um exemplo são os trabalhadores das lavouras de cana-de-açúcar. Helena conta que, por conta da mecanização de alguns setores do corte de cana, houve um aumento muito grande da demanda por produtividade dos trabalhadores que fazem a colheita em locais que as máquinas não alcançam. Assim, apenas os mais jovens – no auge das capacidades físicas – conseguissem suportar o ritmo e as péssimas condições de trabalho. No entanto, esse fenômeno passou desapercebido pelos os sindicatos dessas regiões, que não têm políticas específicas. “A pauta de reivindicações desses jovens é invisível, suas demandas não são vistas nem pelos sindicatos nem pelos movimentos ligados À questão da juventude”, afirma a pesquisadora.
A questão visibilidade se articula com outra, pelo direito à participação tanto institucional quanto em outros espaços. “No Fórum Social Mundial, os jovens do Acampamento da Juventude brigaram muito para serem reconhecidos pela organização do evento como um ator político”, conta.
O 2º Encontro Nacional da Juventude do Ramo Financeiro continua nesta quarta-feira.