A Fenaban tratou com absoluto descaso as reivindicações relativas ao emprego apresentadas pelo Comando Nacional dos Bancários nesta quarta-feira 8, na terceira rodada de negociações da Campanha Nacional 2010. Os bancos deixaram claro que não consideram prioridade discutir proteção contra demissões imotivadas, mais contratações e o fim dos correspondentes bancários. A discussão sobre emprego prossegue nesta quinta-feira 9, em São Paulo.
“Com essa postura intransigente, os bancos estão empurrando os bancários para a greve. Eles estão se recusando a discutir questões que a categoria considera da maior importância, como o emprego, pois afeta diretamente outros temas, como saúde, condições de trabalho e remuneração, além da melhoria do atendimento aos clientes”, critica Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional.
O Comando Nacional apresentou aos representantes dos bancos os dados preocupantes da Pesquisa sobre Emprego Bancário que a Contraf-CUT e o Dieese vêm realizando desde o início de 2009. No ano passado e nos primeiros seis meses de 2010, os bancos desligaram 48.295 bancários, mais de 10% da categoria. E as contratações são em número pequeno comparado com os resultados astronômicos do sistema financeiro. Para um lucro líquido de R$ 24,7 bilhões no primeiro semestre deste ano, eles criaram 9.048 postos de trabalho, o equivalente a 0,61% dos 1,47 milhão de empregos gerados por toda a economia.
Desligamentos dão para lotar o Pacaembu
“Os bancos desligaram um Pacaembu lotado de pais e mães de famílias em apenas 18 meses, o que mostra a perversidade da rotatividade e do descaso com o emprego”, afirma Carlos Cordeiro. “Muitos trabalhadores foram dispensados porque não cumpriram as metas abusivas para a venda de produtos, enquanto outros pediram demissão porque não suportaram o assédio moral e as precárias condições de trabalho, que tem trazido estresse e adoecimento.”
Na mesa de negociação, no entanto, os bancos recusam-se a discutir o problema. Disseram ainda nesta quarta-feira que o emprego é uma questão de gestão das empresas, que pode ser debatido banco a banco, mas não como pauta da campanha nacional.
“Esse posicionamento intransigente da Fenaban neste tema obriga os bancários a intensificarem a mobilização, em todos os bancos e em especial nos privados, uma vez que na campanha do ano passado a categoria conquistou a contratação de 15 mil trabalhadores no Banco do Brasil e na Caixa”, acrescenta o presidente da Contraf-CUT.
Terceirização
Este tema será discutido na mesa temática sobre terceirização, que já realizou quatro reuniões este ano. Nos debates acumulados até agora, foram identificadas as diversas áreas onde ocorrem as terceirizações, número de trabalhadores envolvidos, acordos específicos com determinados bancos onde efetivamente se manteve os serviços dentro da própria categoria, demonstrando a possibilidade de acompanhamento pelo conjunto dos bancos.
A Contraf-CUT apresentou uma listagem de áreas terceirizadas (back office, tesouraria, compensação, call center, Internet banking, abertura e processamento de contas correntes, gestão eletrônica de documentos e processamento de empréstimos/crédito/crédito imobiliário). Ficou acertada a escolha inicial de uma delas pela Fenaban para iniciar os debates. Os trabalhadores cobraram dos bancos o compromisso de, ao final da Campanha Nacional 2010, informarem a área escolhida para que seja possível iniciar o quanto antes o debate sobre a desterceirização.
Correspondentes bancários
A reivindicação dos bancários, aprovada na 12ª Conferência Nacional, é universalizar os serviços bancários e acabar com este tipo de bancarização que discrimina as pessoas pela renda. “Os correspondentes bancários têm sido usados pelos bancos para reduzir custos, precarizar e segmentar o atendimento, empurrando para padarias, açougues, farmácias, entre outros, os clientes de baixo poder aquisitivo, enquanto mantêm nas agências e postos os clientes de maior renda. Isso na verdade é bancarizar sem bancários e sem segurança”, critica Miguel Pereira, secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, que esteve presente na negociação. “Recentemente, temos ainda o exemplo mais drástico da Caixa, que começou um novo modelo de correspondente que se assemelha a uma franquia. Essa não é a bancarização que a sociedade quer”, completa.
Nas negociações desta quarta-feira, os bancos defenderam o modelo em que há correspondentes bancários e não-bancários. Para eles, correspondente não-bancário não é banco, mesmo recebendo documentos para abertura de contas, fazendo pagamentos e outros serviços bancários, o que foi contestado pelos representantes do Comando Nacional.
Discriminação
Os trabalhadores também cobraram dos bancos soluções para as barreiras que dificultam a entrada e ascensão profissional de mulheres e negros nos bancos. Segundo dados da Pesquisa de Emprego Bancário, feita em parceria entre a Contraf-CUT e o Dieese, embora o número de mulheres e homens admitidos esteja bem equilibrado (50,3% e 49,7%, respectivamente), a remuneração inicial é visivelmente inferior para as trabalhadoras: R$ 1.770,00 contra R$ 2.600 dos bancários.
“Existe uma desigualdade grande, que fica clara ao olharmos estes números. Um outro problema grave é a discriminação na ascensão profissional. Segundo estudos, apenas 5 a 10% ocupam cargos superiores nos bancos”, afirma Juvândia Moreira Leite, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Ficou acertado entre bancários e Fenaban que o tema será retomado antes do final das negociações da Campanha 2010.
O debate prosseguirá nesta quinta-feira 9, a partir das 10h.
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