Os bancários de Santa Catarina definiram, na 13ª Conferência Estadual, realizada no último sábado, dia 16, em Florianópolis, as propostas que irão levar para a 13ª Conferência Nacional, entre os dias 29 e 31 de julho em São Paulo. As deliberações ocorreram após palestras e trabalhos em grupos, que deram a dimensão dos desafios para a Campanha Nacional 2011, mas também apontaram caminhos para fazer a luta em relação a temas fundamentais para a categoria
As principais propostas são: piso do DIEESE e unificado, índice de 22,5%, mais reposição de perdas históricas, aumento do vale alimentação baseado no aumento dos alimentos, desburocratizar a concessão do auxílio-creche, passando a ser de pelo menos um salário mínimo, aumento do quadro efetivo de funcionários com mais contratações e reposição imediata de aposentados, licenciados/afastados por doença ocupacional, demitidos e/ou outros tipos de rescisões contratuais, fim dos correspondentes bancários, cumprimento da lei na manutenção dos contratos com terceirizados, que todo o empregado afastado por CAT, doenças graves ou psíquicas tenha estabilidade de um ano no emprego e na função e fim das metas, dentre outras reivindicações por segurança, saúde e condições de trabalho.
Para a direção do Sindicato dos Bancários de Florianópolis, a Conferência Estadual proporcionou aos bancários presentes uma grande oportunidade de debater tanto grandes temas políticos e econômicos de nosso país e do mundo como o cotidiano dos trabalhadores bancários. “Tivemos a oportunidade de pensar o nosso trabalho, de construir novos caminhos para o futuro. Entendemos que toda a categoria deveria estar presente na Conferência Estadual por todo trabalho realizado pelos bancários presentes neste dia e que poderia ainda ter sido melhor”, avalia.
Sistema financeiro em debate
Uma das palestras de abertura da 13ª Conferência Estadual focou o “Sistema Financeiro”, e foi proferida pelo professor do Departamento de Economia da PUC-SP, Carlos Eduardo Carvalho. Ele iniciou a discussão apontando três aspectos a serem problematizados desde o início da crise de 2008 e da forma como ela se expressou no sistema bancário:
1- Ficou claro que os bancos continuam no centro do sistema financeiro mundial. Havia uma discussão de que o crescimento das novas formas de organização financeira configuraria um sistema em que os bancos teriam uma relevância decrescente. A crise de 2008, porém, foi bancária, com epicentro nos Estados Unidos. Ficou claro que também não havia mecanismos de proteção para deter seus efeitos, e a resposta, como se viu, foi estatal. Por isso, tomam força temas como a regulamentação do sistema bancário.
2- Ficou clara a insuficiência dos debates sobre a questão do papel do Estado, que na ótica de muitos analistas estaria perdendo relevância com base na ideia de Estado Mínimo, sem ser mais o centro do sistema, dando lugar às corporações.
Na economia, havia a discussão sobre isso, com temas como autogestão, autogoverno, autorregulação. Entre as forças de esquerda, isso apareceu como se a promessa neoliberal significasse a desmontagem do Estado. Nos EUA, as linhas de crédito para segurar os avanços da crise apareciam diariamente, para salvar uma série de empreendimentos, com recursos públicos.
“O governo dos EUA não teve dúvidas em relação a salvar o mercado. O mais relevante é que eles conseguiram isso. Todos os países queriam dólares. Ora, que mercado fraco é esse?”, ironizou o palestrante. Então houve um equívoco nas análises de que o neoliberalismo significava Estado Mínimo.
3- Outra lição foi a capacidade que os bancos têm de se defender e como conseguem se blindar rapidamente para evitar perdas. A discussão sobre a regulamentação do setor nos EUA foi esquecida, abafada. Isso não é novidade, mas o peculiar nisso é que o setor conseguiu criar um discurso, uma mensagem política falaciosa, de que a ideia de salvar bancos é necessária porque não salvá-los é levar a sociedade à ruína, como foi o discurso sobre o PROER no Brasil.
“Uma crise bancária, no contexto deste discurso, remete aos anos 30, ao fascismo, aos caos em países como a Argentina, mas o governo poderia, em vez do que fez, entre outras coisas, preservar o sistema de crédito e estatizar os bancos, ou exigir garantias de seu patrimônio”, exemplificou. Os banqueiros fazem forte articulação política para manter-se como estão e esse é um problema para a qual são necessárias respostas.