Valor Econômico
Maria Christina Carvalho, de São Paulo
O Citigroup anuncia hoje os resultados do quarto trimestre e o esperado plano de reestruturação, que está sendo exigido pelas autoridades americanas, analistas e investidores. O plano deve incluir a venda de vários ativos. Uma das alternativas pode ser a venda das operações brasileiras.
O Citi tem obtido bons resultados no mercado brasileiro recentemente, mas em função principalmente de ganhos não operacionais com a venda de ações da Redecard. A partir da segunda metade desta década, o banco vem perdendo participação de mercado, não acompanhando a escalada dos concorrentes.
No primeiro semestre deste ano, o lucro líquido foi de R$ 1,21 bilhão, saltando 175% sobre igual período de 2007. Mas, no terceiro trimestre, ficou reduzido a R$ 72,555 milhões, somando R$ 1,28 bilhão em nove meses. Em todo o ano passado, o lucro líquido foi de R$ 1,72 bilhão. Somente com a venda das ações da Redecard, o banco teve um ganho líquido de R$ 895,631 milhões em 2007 e de R$ 743,601 milhões no primeiro semestre deste ano.
A participação do Citi no mercado de crédito brasileiro chegou a 2,55% em 2001 está reduzida a 0,86% neste ano, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central (BC) no ranking dos 50 maiores bancos do mercado. A carteira de crédito de R$ 8,98 bilhões é pouco superior à do banco de médio porte BicBanco, por exemplo, que tem R$ 8,724 bilhões. Com um patrimônio de R$ 1,722 bilhão, o Bic produziu mais crédito que o Citi, que tem duas vezes e meia mais, R$ 4,248 bilhões.
No terceiro trimestre, o Citi mostra o impacto dos problemas da matriz nos depósitos totais, que eram de R$ 7,25 bilhões em junho e caíram para R$ 6,97 bilhões.
Em visita a São Paulo em novembro, o presidente do Citigroup, Vikram Pandit negou a intenção de vender o banco no Brasil. Agora, o a direção no país prefere esperar as notícias da matriz e lembra a mensagem que Pandit deixou. Mas Pandit também não queria se desfazer da Smith Barney, rentável operação de corretagem que selou, nesta semana, joint venture com o Morgan Stanley, garantindo um reforço de caixa nas vésperas da divulgação de novas perdas.
De acordo com relatório feito nesta semana pela analista Meredith Whitney, especialista na cobertura do setor financeiro da Oppenheimer, ao avaliar a joint venture do Citi com o Morgan Stanley, o banco precisará monetizar ou se desfazer de mais ativos dada a sua necessidade capital e as perdas crescentes. As baixas no balanço realizadas pelo Citi desde o terceiro trimestre de 2007 montam a US$ 45 bilhões.
“Baseado na exposição do Citigroup a ativos de alto risco e nas demandas da regulamentação, o capital continua sendo o foco dos desafios. Embora esse negócio forneça algum alívio de capital a médio prazo, provavelmente mais será necessário”, diz o relatório assinado por Meredith, analista que, no início de novembro de 2007, fez um relatório que causou a queda de 7% das ações do Citi em um dia, jogando no espaço US$ 15 bilhões em valor de mercado do banco. Já naquela época, Meredith previa que o Citi teria que cortar dividendos e vender ativos.
Segundo especula o mercado americano, o Citi deve sair da área de financiamento ao consumo, incluindo as hipotecas de alto risco, do negócio de cartões private label, da venda de seguros porta-a-porta e reduzir os investimentos proprietários, com capital próprio. O banco se concentraria no varejo em mercados selecionados e em operações com grandes empresas. Um dos negócios cuja venda foi cogitada é a do mexicano Banamex, jóia da rede internacional e com grande valor estratégico.
Para os analistas, o Citigroup terá que vender exatamente os ativos mais interessantes porque são os que encontrarão compradores. Um desses ativos é certamente o banco no Brasil, que já estaria sendo assediado, segundo rumores não confirmados do mercado.
O presidente da consultoria Roland Berger, Paul Gruppo, afirmou que o futuro da operação brasileira depende de como o “Citi vai ficar após o enxugamento. Se o Citi continuar com uma estratégia global, seguramente o Brasil será uma peça importante”, afirmou. Mas ele também lembra que o Citi está sob pressão e “tem que reduzir de tamanho”.
Para ele, vários negócios do Citi no Brasil, como a base de clientes de varejo e de cartões de crédito, atraem interesse no mercado. Os negócios de private banking e operações com grandes empresas também teriam interessados, mas dificilmente seriam vendidos, acredita o especialista.
As operações de varejo atendem uma clientela de alta renda cobiçável mas não tem a escala necessária dentro do mercado brasileiro nem relevância na estrutura mundial. A rede de financiamento ao consumo, com a bandeira Citifinancial, enfrenta os problemas das demais financeiras de rua, que ficaram com os clientes de maior risco depois da expansão
Ao final do primeiro semestre, o Citi tinha cerca de 400 mil correntistas, 4,3 milhões de contas de cartões e cerca de 6 milhões de plásticos. A rede de agências fechou 2007 com 122 pontos e tinha 127 no fim de junho passado.
“O problema externo está tendo impacto aqui. O banco deu uma enxugada”, disse o professor do Ibmec/SP, Domingos Pandeló. Para Pandeló, o principal interessado no Citi no Brasil seria o Bradesco. Outros eventuais candidatos como o Itaú e o Banco do Brasil estão digerindo aquisições recentes.
Com R$ 39,893 bilhões em ativos em setembro, o Citi não permitiria ao Bradesco recuperar o primeiro lugar no ranking dos bancos brasileiros, mas agregaria uma carteira atraente de clientes de alta renda e emergentes.
Pandeló vislumbra, porém, um problema complexo: a grande diferença cultural entre as duas instituições. Isso teria que ser resolvido para reter profissionais que garantiriam a manutenção dos clientes. Problema semelhante teve o Itaú ao absorver o BankBoston.