Valor Econômico
Ricardo Balthazar, de Nova York
O Grupo Espirito Santo, um conglomerado português que tem diversos investimentos no Brasil e é o principal acionista estrangeiro do Bradesco, está trabalhando para convencer o banco brasileiro a dar passos mais ousados no exterior e explorar oportunidades geradas pelo crescimento de países emergentes na Ásia e na África.
“Fizemos recentemente um acordo para desenvolver algumas oportunidades a nível internacional”, disse ao Valor o presidente do Banco Espirito Santo, Ricardo Espirito Santo Salgado. “Acredito que vamos assistir no futuro próximo a um maior envolvimento dos bancos brasileiros na África e eventualmente em outros mercados também.”
O banco português tem força em Angola, abriu as portas em Dubai recentemente e está tentando entrar na Índia. “Nos envolvemos mais com esses mercados porque nossos clientes foram na frente”, afirmou Salgado, que na quarta-feira foi a Nova York para inaugurar a primeira filial do banco de investimentos do grupo nos Estados Unidos. “Vai acontecer o mesmo com os bancos brasileiros no futuro.”
Executivos do banco de investimentos do Bradesco que recentemente viajaram para a Ásia disseram ao Valor em março que estão estudando a possibilidade de abrir uma corretora em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, Cingapura ou Hong Kong. O objetivo principal do banco é despertar o entusiasmo de investidores da região por ações de companhias brasileiras.
O Grupo Espirito Santo tem hoje quase 8% do capital votante do Bradesco e é o terceiro maior acionista do banco brasileiro. O Bradesco também é sócio dos portugueses. Ele aumentou recentemente sua participação no capital do Banco Espirito Santo para 6% e é dono de 20% do banco de investimentos do grupo português que opera no Brasil.
No ano passado, o Espirito Santo reduziu temporariamente sua posição no Bradesco, usando lucros obtidos com a venda de parte de suas ações para compensar prejuízos sofridos na Europa com a crise internacional. “Em determinados momentos tivemos que defender o balanço do banco”, disse Salgado. “Mas voltamos a reforçar a posição quando constatamos uma tendência para estabilização.”
Os dois grupos viraram parceiros no início da década, quando o Bradesco comprou o antigo banco Boavista, onde os portugueses foram sócios do grupo Monteiro Aranha e do banco francês Credit Agricole. O Espirito Santo perdeu muito dinheiro com o Boavista e a família que controla o grupo não se lembra da experiência com alegria. “Vimos que era tarde para desenvolver um banco de varejo capaz de concorrer com os grandes bancos brasileiros”, afirmou Salgado. “Fizemos tudo que podíamos, mas chegamos à conclusão de que era melhor nos juntarmos àqueles que são fortes e prosseguir nossa atividade em áreas onde de fato podemos trazer algo de novo.”
Além do banco de investimentos, o grupo português é dono de fazendas, hotéis e empreendimentos imobiliários no Brasil. Ele participa do consórcio que recentemente ganhou a concessão de um trecho da Rodovia Marechal Rondon, é sócio do grupo Monteiro Aranha e também tem um pedaço da Bradespar, a companhia que administra participações do Bradesco em empresas não-financeiras.
O Espirito Santo é o terceiro maior banco português. Ele é quase um anão perto do Bradesco, mas em Portugal é o centro de um grupo poderoso, com grande influência na política e nos negócios. A crise internacional comeu um pedaço dos seus lucros e obrigou-o a reforçar o capital neste ano. O banco teve lucro de ? 402 milhões no ano passado, dos quais 36% foram gerados fora de Portugal.
O Grupo Espirito Santo é também um dos principais acionistas da Portugal Telecom, que no Brasil divide com a espanhola Telefónica o controle da operadora de telefonia celular Vivo. Portugueses e espanhóis convivem num regime de desconfianças mútuas, mas nenhuma das duas empresas abre mão de seu pedaço na Vivo. A Telefónica é a maior acionista da Portugal Telecom, com 10% do seu capital.
O avanço dos espanhóis no mercado brasileiro, onde a Telefónica também controla a operação de telefonia fixa em São Paulo e tem participação na TIM, é visto pelos portugueses como uma ameaça à sua sobrevivência. Salgado acha que no futuro uma forma de fortalecer a Portugal Telecom seria buscar algum tipo de aliança com a Oi, a operadora controlada por grupos brasileiros que hoje é a maior empresa do setor no país.
“Estamos presentes em vários países africanos e poderíamos ter um papel agregador, dentro de uma estratégia de criação de uma grande companhia telefônica de língua portuguesa”, disse Salgado. Jornais de Portugal têm especulado sobre a possibilidade de o Bradesco entrar nessa briga, mas Salgado disse que nunca discutiu o assunto com seus sócios brasileiros. O Bradesco tem ações da Portugal Telecom e recentemente foi convidado a indicar um executivo para seu conselho de administração.