Cotas em universidades promovem justiça, afirmam debatedores na Câmara

Às vésperas das comemorações do Dia da Consciência Negra, nesta sexta-feira (20), um debate na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados apontou na quarta-feira (18) que o sistema de cotas para afrodescendentes nas universidades públicas é necessário social e politicamente para o país.

Iniciado há cinco anos, o sistema de cotas está sendo implementado por meio da iniciativa das universidades brasileiras. Apenas na Universidade de Brasília, onde começou, as cotas raciais já respondem pelo aumento de 2% para 11% no número de alunos negros na instituição, afirmou a coordenadora do Centro de Convivência Negra da Unb, Déborah Santos. “As cotas raciais existem porque existe racismo na sociedade, existe preconceito por parte da população. Há ganho social com a implantação de cotas no ensino superior”, disse.

Segundo ela, o sistema de cotas instala um ambiente de diversidade na universidade. “Com as cotas temos também outra forma de realidade universitária, inclusive com menos evasão escolar e maior demanda pelo vestibular. Não basta não discriminar, é preciso promover oportunidades a todas os extratos da população”, defendeu.

Na audiência, sugerida pelo deputado Luiz Couto (PT-PB) e presidida pelo deputado Pedro Wilson (PT-GO), o diretor da Diretoria de Estudos, Cooperação Técnica e Políticas Internacionais do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), Mário Theodoro, listou argumentos em defesa das cotas raciais no ensino superior. Em sua avaliação, a desigualdade brasileira tem raiz racial e a população se acostumou com a ideia de que, em geral, os pobres são negros. “A tendência é naturalizar a pobreza a partir da cor. Isso tem de mudar”, afirmou.

Segundo ele, as cotas abrem porta para a formação de uma elite negra formada por médicos, advogados, engenheiros. “Temos de colorir a atual elite, que é pálida. As cotas não são feitas para quem sai da universidade, mas quem entra. Vamos formar profissionais negros tão bons como os profissionais brancos”, defendeu.

O diretor lembrou que a “elite branca” também utiliza um sistema de cotas, quando estuda no exterior. “A maior parte dos PHD´s entraram em universidades americanas por meio de cotas latino-americanos”, disse.

Para o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Pedro Wilson, a importância do debate sobre as cotas raciais não inclui apenas as universidades, “mas representa um debate constante sobre a dívida social que o Brasil tem com a população negra”, disse.

Para a coordenadora do Movimento Negro Unificado, Jacira Silva, as cotas raciais ainda não foram “digeridas pela sociedade”, que defende melhor a adoção de cotas sociais. “Desde o 13 de maio da abolição da escravatura mudou só a roupagem do problema: a prática discriminatória existe até hoje. Exigimos igualdades de oportunidades e de acesso à educação, saúde, moradia, lazer e entretenimento”, afirmou.

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