Frei Betto e Fernando Morais comemoram fim do isolamento de Cuba

Escritores brasileiros simpáticos ao regime cubano comemoraram nesta quarta-feira (17) a decisão dos Estados Unidos de se reaproximarem de Cuba depois de 53 anos de rompimento.

Para o escritor Frei Betto, o anúncio é motivo de “grande alegria”.

– O dia de hoje marca definitivamente o fim da guerra fria. Faltava esse passo. Que os Estados Unidos respeitam a autodeterminação do povo cubano, como faz o Brasil, e Cuba respeite a autodeterminação do povo americano – disse o escritor, que há anos vem discutindo em Cuba a relação entre Estado e religiões.

Betto disse considerar a abertura das embaixadas “mera formalidade”, na medida em que já havia uma representação de Cuba nos Estados Unidos, e vice-versa.

– A abertura de embaixadas é apenas para formalizar a relação diplomática em nível de embaixador – avaliou.

O escritor lembrou do importante papel desempenhado pelo Papa Francisco para que a relação entre os países fosse restabelecida.

– Quando Miguel Díaz-Canel (terceiro político mais importante na hierarquia cubana) esteve em Roma para a posse do Papa, este foi o tema mais importante tratado entre eles. Quando Obama visitou o Papa em março deste ano, também foi um tema abordado – contou Betto.

O escritor lembra que atualmente Cuba recebe 4 milhões de turistas por ano, dos quais pelo menos 1 milhão são canadenses. E considera o desejo de Obama de facilitar o acesso de americanos à ilha uma grande notícia para os cubanos.

– Imagine o fluxo de americanos que, no inverno, estarão dispostos a viajar uma ou duas horas de avião para viajar a um país com temperatura mínima de 20 graus. A abertura vai incrementar muito o turismo – acredita.

Para Betto, a abertura não representa um sinal de mudanças na ideologia do regime.

– Cuba não tem a intenção de voltar ao capitalismo. Para isso basta se espelhar no exemplo da Rússia, que se deteriorou com a queda do muro de Berlim. O maior interesse é manter relações com os Estados Unidos.

O escritor Fernando Morais concorda e diz não ver sinais de mudanças no posicionamento ideológico de Cuba.

– Eles não se curvaram debaixo de agressão militar, diplomática e comercial. Não vão fazer agora, que a retomada de relações está sendo feita pacificamente – afirma.

Para Morais, a abertura é um “um grande progresso”, uma vez que o rompimento dos Estados Unidos não teria tido qualquer resultado, “porque Cuba nunca abriu mão de suas políticas”.

O escritor acredita que um dos maiores desafios, agora, será conseguir a derrubada do bloqueio econômico no Congresso norte-americano.

– Acho difícil Obama conseguir com este Congresso conservador, que foi eleito agora. Mas, só o fato de voltar a ter relações, abrirem a embaixada, representa o fim da guerra fria. Acabou hoje, às três da tarde.

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