Laura Noonan
Reuters, de Londres
Os principais bancos europeus fecharam ou venderam 5,3 mil agências em 2013, número que deve aumentar à medida que os clientes optarem por mais serviços bancários pela internet em vez do contato pessoal. Ainda assim, várias instituições de crédito evitam cortes muito grandes por temer que isso atrapalhe a conquista de novos negócios e afaste clientes antigos, além de desencadear reações políticas em regiões mais isoladas.
Os fechamentos de agências são recebidos com consternação quando levam comunidades a ficarem sem um banco local. São reflexo, no entanto, da revolução on-line, que transforma a forma como as pessoas fazem praticamente tudo, desde comprar viagens de férias e comparar preços de seguros até pegar livros de biblioteca emprestados e alugar DVDs. Também são uma forma ideal para os bancos cortarem custos e ampliarem sua base de capital, após terem sofrido os efeitos da crise financeira.
Os números sobre os fechamentos ou vendas de agências em 2013 foram compilados pela “Reuters” com base nos balanços anuais de 26 dos 30 maiores bancos de capital aberto da Europa. Os outros quatro normalmente não divulgam dados a respeito e não os forneceram.
Projeta-se que até 40% das agências europeias serão fechadas entre 2013 e 2020, como consequência da “digitalização” bancária, segundo a firma de consultoria Bain & Company. Isso significaria 65 mil agências a menos na União Europeia, já que no total havia 218 mil agências no fim de 2012, de acordo com os dados do Banco Central Europeu (BCE).
“Isto é apenas o início do fechamento de agências”, disse o chefe da Bain para o setor de varejo bancário, Dirk Vater. “Sou consultor do setor bancário há mais de 20 anos. Pela primeira vez, vamos ver algumas mudanças realmente drásticas […] O setor vai ser sacudido.”
Os maiores cortes vieram da Espanha, onde muitos bancos ainda estão às voltas para recuperar-se da crise das dívidas europeias e do colapso dos preços imobiliários. Um estudo de setembro de 2013, feito por analistas do Deutsche Bank, revelou que a Espanha tinha mais agências per capita do que qualquer outro país acompanhado por eles.
O Bankia, formado a partir de sete bancos regionais espanhóis quebrados e socorridos em 2012, cortou 37% de sua rede, o equivalente a 1,1 mil agências, em 2013. Os outros quatro bancos espanhóis entre os 30 maiores – Santander, Caixa Bank, BBVA e Banco Popular Español – cortaram juntos um total de 1.774 agências. Parte disso são unidades estrangeiras que foram vendidas, mas a maioria se refere a cortes na Espanha.
“As redes de agências bancárias precisam continuar encolhendo”, disse Maria Dolores Dancausa, executivo-chefe do Bankinter, de médio porte, em conferência em Madri, em abril. “Não sei se ousaria prever se vai ser [um corte] pela metade ou se precisa ser mais do que a metade”, diz. Itália, Chipre e Alemanha também foram apontados como tendo excesso de agências no relatório do banco alemão. Em 2013, contudo, os bancos desses países, com a exceção do UniCredit, da Itália, cortaram menos do que a redução média de 6% dos 26 bancos europeus.
Os bancos de internet já mostraram o que é possível fazer sem uma rede consolidada de varejo e as instituições tradicionais vêm ampliando suas redes on-line. A passagem de atividades bancárias para a internet é sinal de que há menos pessoas optando por locomover-se até seus bancos locais.
O Royal Bank of Scotland, que possui mais agências do que o número somado de supermercados das redes varejistas Asda e Sainsbury, informa que o número de transações em agências caiu 30% desde 2010. Os analistas do Deutsche Bank dizem que os bancos varejistas podem cortar suas despesas em até 15%, no médio prazo, com o fechamento de agências e o reposicionamento das restantes em imóveis menores e com menos funcionários.
Novos nomes do setor já chegam com a ideia de um mundo sem agências. O fundador do Metro Bank, Anthony Thomson, anunciou na semana passada um banco exclusivamente on-line apelidado de “Atom”, a ser lançado em 2015.
Alguns bancos, contudo, avaliam que as redes de agências são parte vital de seus negócios e não vêm cortando muito. O chefe de análise de bancos na Europa do Deutsche Bank, Jason Napier, acredita que um banco britânico não precisa de mais que 500 agências para operar no longo prazo. O Lloyd’s, no entanto, tem 2.254 agências e comprometeu-se a ficar com todas dentro de seu plano estratégico, que se estende até o fim do ano.
Na Alemanha, outro mercado considerado com excesso de agências, o Commerzbank cortou apenas 0,43% de sua rede em 2013 e os executivos do banco recentemente falaram sobre um comprometimento total com sua rede de agências. Cortar agências resulta em menos funcionários, assim como custos gerais e aluguéis mais baixos de imóveis. Além disso, também pode representar uma rápida fonte de dinheiro, com a venda de prédios e terrenos. Por outro lado, cortar agências não é algo barato.
“Há os custos de saída, relacionados aos funcionários, aos aluguéis, […] sendo que as agências e o emprego são, ambos, questões [politicamente] delicadas”, disse Napier.
Ian Walsh, chefe global de varejo bancário no Boston Consulting Group, disse que o futuro das agências de banco não é apenas de fechamentos. “Os bancos buscam otimizar suas redes de agências, em vez de eliminá-las”, disse. O BNP Paribas, por exemplo, remodelou sua principal agência, perto da Ópera de Paris, com uma parede coberta de plantas, colocou iPads para que os clientes possam usar e uma mesa cujo tampo é uma tela sensível ao toque.