O Brasil está no grupo de países com pequena perda da biodiversidade
El País
Javier Salas
Toda a Terra tem uma superfície de mais de 500 milhões de quilômetros quadrados. E em menos de 1% dessa extensão está acontecendo agora a maior perda de biodiversidade do planeta. Em apenas um punhado de eco-regiões se concentra mais de 50% da deterioração global no estado de conservação de aves, mamíferos e anfíbios. É a conclusão que mais chama a atenção no primeiro estudo que analisa em escala planetária como os países estão agindo para cumprir suas responsabilidades em matéria de biodiversidade.
O ser humano provoca a sexta extinção em massa do planeta
Gula humana aumenta para 22.400 as espécies ameaçadas de extinção
Brasil: muito mais flora em risco de extinção do que se pensava
“O Brasil deve reassumir o papel de protagonista na questão ambiental”
A redução da variedade de
flores está matando as abelhas
Não são poucos os sinais de que nos encaminhamos para a sexta grande extinção de espécies da história do planeta, e esse estudo demonstra uma culpabilidade conjunta de todas as nações. Praticamente todos os países do mundo contribuíram de forma negativa na tendência dos animais vertebrados dentro do conhecido índice da Lista Vermelha, que se dedica a analisar cientificamente o risco de desaparecimento das espécies. Entretanto, a maior parte do dano se concentra em oito países – Austrália, China, Colômbia, Equador, Indonésia, Malásia, México e Estados Unidos -, que são responsáveis por mais da metade da deterioração global no estado de conservação da fauna.
Também não é um furor destrutivo especial por parte dessas nações, como explica a pesquisadora Ana Rodrigues, principal autora do estudo: “Essa concentração ocorre porque a biodiversidade não se distribui de maneira uniforme por todo o planeta, e nem as ameaças que a afetam”. Essa concentração da deterioração em 1% do planeta se encontra localizada principalmente nos Andes Tropicais, na América Central e no sudeste asiático. São áreas de endemismo excepcional, isso é, uma grande concentração de espécies específicas que não se encontram em outro lugar. Quando esse paraísos naturais não são cuidadosv, a perda de biodiversidade global se vê muito mais afetada do que quando outros lugares menos ricos são descuidados.
“Esses lugares contam também com altos níveis de impacto humano, que têm consequências globais, já que podem levar facilmente um grande número de espécies à beira da extinção”, resume Rodrigues, do Centro de Ecologia Evolutiva e Funcional da França. A deterioração sofrida pelas espécies nesses oito países não se explica unicamente por serem os mais ricos em fauna: são responsáveis por 56% das perdas quando contém 33% da biodiversidade. Outros campeões da megafauna, como o Brasil, Congo, Índia e Peru concentram 23% dessa riqueza natural e, por outro lado, provocaram a perda de somente 8% da biodiversidade global.
As nações que tiraram melhor nota
são estados insulares, como as Ilhas Cook,
Fiji, Maurício, Seychelles e Tonga
A pesquisadora diz que são quase tantas as circunstâncias semelhantes como radicalmente diferentes entre as oito nações nas quais mais se perde fauna.
“Esses países têm em comum o fato de possuir uma grande proporção da biodiversidade mundial, das quais são responsáveis, mas estão sendo incapazes de enfrentar os desafios de tal responsabilidade”, critica Rodrigues. Como se observa no estudo, publicado nos PLoS ONE, as causas da deterioração da biodiversidade são muito diferentes: na China é a superexploração, através da caça, que afeta principalmente seus anfíbios e mamíferos; o principal problema nos EUA, por outro lado, são as espécies invasoras, que prejudicam seriamente seus anfíbios e aves; na Indonésia é a perda dos habitats para a agricultura e a exploração florestal, afetando sobretudo suas aves e mamíferos. “Existem muitas maneiras de fazer com que as coisas fiquem ruins”, lamenta a ecologista.
A equipe de pesquisadores (colaboraram para o estudo especialistas da União Internacional para a Conservação da Natureza, da Birdlife e do programa das Nações Unidas para monitorar a conservação do planeta, entre outros) reconhece que para eles foi uma surpresa descobrir que não existe nenhuma correlação entre a riqueza dos países e o cuidado com os tesouros naturais. Duas das nações mais ricas do planeta, como os EUA e a Austrália, estão entre as nações que mais prejudicam a biodiversidade global, enquanto outras mais pobres com o Peru, Índia e Madagascar estão se empenhando mais para fazer os deveres.
As nações com melhor nota são em muitos casos estados insulares como as Ilhas Cook, Fiji, Maurício, Seychelles e Tonga. Como explica Rodrigues, a maioria das extinções das espécies nos últimos séculos ocorreram em pequenas ilhas como essas: o famoso Dodô era das Ilhas Maurício e se transformou no paradigma dessa época. Essas extinções chegaram por exposição repentina desses ecossistemas frágeis à ameaças para as quais não estavam preparadas, como predadores (ratos, gatos) e a caça humana. “As Ilhas Cook, Fiji, Maurício, Seychelles e Tonga estavam até pouco tempo atrás no caminho de perder ainda mais espécies, mas conseguiram reverter essas tendências, incluindo recuperando algumas espécies que estavam muito próximas da extinção”, diz a pesquisadora.
“Isso demonstra que estamos aprendendo a combater essas ameaças em ecossistemas insulares combinando medidas de conservação, controle de espécies invasoras e criação em cativeiro”, resume. Entretanto, atualmente os maiores desafios para a biodiversidade estão nos grandes bosques tropicais que contém a maior parte da biodiversidade do mundo, onde a escala dos impactos é muito maior e muito mais difícil de conter.