O objetivo é chamar a atenção dos órgãos reguladores e do governo Federal
O Sindicato dos Bancários de São Paulo iniciou um processo de recolhimento de assinaturas em reação a uma eventual situação de demissão em massa com a venda do HSBC nesta segunda-feira (20). O objetivo é chamar a atenção dos órgãos reguladores, governo federal e congressistas para a ameaça aos mais de 20 mil trabalhadores do banco britânico no Brasil.
Bradesco e Santander já anunciaram interesse em adquirir o HSBC, o que representaria mais concentração e, consequentemente, menos concorrência no setor bancário – hoje apenas seis bancos atuam em nível nacional no país.
Para Sérgio Siqueira, diretor da Contraf-CUT, é inadmissível que mais uma transação do sistema financeiros envolvendo dois grandes bancos seja responsável por demissões em massa no País. “Bancos esses que independente da crise que haja no planeta, sempre tem seus lucros cada dia maiores, as custas da exploração de clientes e funcionários”, afirmou.
“Quanto mais assinaturas reunirmos, mais força teremos para lutar pelos nossos empregos. E essa luta é de toda a sociedade, portanto todos devem se apropriar desta causa”, explicou o diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Paulo Sobrinho. Representantes sindicais já se reuniram com o ministro do Trabalho e os presidentes do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em defesa dos bancários.
Apreensão – A campanha começou no Centro Administrativo (Casp), que reúne cerca de mil trabalhadores. “O pessoal está bem desanimado, pincipalmente quem tem filho, como eu. Não sabemos o que vai acontecer”, diz uma bancária.
“O clima está péssimo. Hoje mesmo eu perguntei para a minha amiga se já marcou as férias e ela respondeu: ‘você ainda acha que a gente vai ter férias?'”, conta outra. “Trabalho há 20 anos neste banco, desde que ainda era Bamerindus, e o HSBC nunca foi transparente em nada, como não está sendo agora também. Não nos dizem nada sobre o futuro”, relata outra funcionária.
“Se um banco estrangeiro comprar vai ser melhor, pelo menos vamos manter nossos empregos. Mas se o Bradesco e o Santander comprarem, para que eles vão querer manter tudo isso?”, pondera um bancário enquanto aponta para o Casp.
“Não estão preocupados com quem trabalha no banco ou com os clientes”, criticou o correntista Jair Luis da Silva. “[Os diretores do HSBC] Estão pensando só em ganhar o deles, mas se o banco fechar e mandarem um monte de gente embora, como é que vão ficar as famílias dessas pessoas?”, questiona o motorista.
Mobilização internacional dos bancários do HSBC
“O HSBC veio para o Brasil, lucrou tudo o que pôde, e agora quer abandonar o país deixando desemprego. Por isso os bancários têm de se engajar e ser protagonistas em todo esse processo de defesa dos empregos junto com o Sindicato”, reforça Paulo Sobrinho.
Impacto econômico – As possíveis demissões não vão afetar apenas os bancários e suas famílias. Em Curitiba, por exemplo, onde está localizada a sede do HSBC no Brasil, calcula-se que o impacto econômico com o fim das operações do banco seja de R$ 80 milhões.
A preocupação ronda a economia ao redor do Casp também. Eduardo Palma, proprietário do restaurante Jardim Hayden, conta que cerca de 20% dos seus clientes são funcionários do centro administrativo. “Então fica fácil calcular o tamanho do prejuízo [se o HSBC fechar].”
Escuso – Embora já tivesse presença no Brasil, em 1997 o HSBC dá início a sua atuação no varejo ao adquirir o Bamerindus, em uma transação que até hoje levanta suspeitas. À época, a imprensa noticiou amplamente que o banco britânico acabou lucrando R$ 134 milhões, em valores atuais, na compra.
As dívidas da instituição paranaense, no entanto, que somavam cerca de R$ 7,8 bilhões em valores atuais, foram assumidas pelo governo federal à época por meio do seu Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, o Proer.
Mais recentemente o banco se viu envolvido em um escândalo de evasão de divisas conhecido como SwissLeaks. As estimativas iniciais são de que existem cerca de 8 mil contas secretas, não declaradas, abertas por correntistas brasileiros na sucursal do HSBC em Genebra. O total existente nessas contas pode chegar a perto de R$ 20 bilhões, conforme as investigações em curso.